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A uva e o Ivo por Vinícius Moura

A partir do tema: Vovó, viu se o Ivo viu a uva? Frase da antiga cartilha escolar Caminho Suave. Crônica desenvolvida com foco na sonoridade,…

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A partir do tema: Vovó, viu se o Ivo viu a uva?

Frase da antiga cartilha escolar Caminho Suave. Crônica desenvolvida com foco na sonoridade, vale a pena ler em voz alta.   

Vovó quase nada via, vista cansada e óculos de fundo de garrafa, mas ainda assim insisto: Viu Ivo vovó? Ela disse que não sabia e que apenas sentia o vento soprar: “Feche estas frestas meu filho”.

Fuuuu fuuuu o vento força sua entrada pela janela, arrepiando nossa pele com seu som fino de violino. A única sílaba da canção do vento ficava cada vez mais forte, mas sem criar uma palavra que me informasse o paradeiro de Ivo. Sopra o vento, vovó assovia e o Ivo sumiu.

O cacho de uvas também havia sumido. Frutas minhas, minhas uvas, alguém viu? Sopra o vento, vovó assovia e o Ivo sumiu. O Ivo nunca usou de sinceridade e vovó só assovia para espantar a saudade depois que vovô se foi. Vovó – eu insisto – Você viu se o Ivo viu as uvas?. “Meninos não briguem. O vovô se irrita”. Mas vovó, o vovô há muito se foi. Não convencida ela se justifica: “Como se foi? Quem é que sopra pelas frestas?”.

O Ivo sempre me toma a dianteira e justamente estas, não eram uvas da feira. Foram só elas que nasceram de nossa parreira. O vento assobia e eu sussurro sem esperar ser atendido: Eram para minha geleia. “Use coentro” – Vovó nunca entende nada direito, mas eu retruco mesmo assim – Em geleia de uva não se põe tempero.  Ela de novo me ignora, só ouve a voz do vovô que nada mais é do que o vento espremido passando pela janela.

Ivo, muito sabido, deve estar escondido atrás dos espinhos. Mas, justo lá? Justo onde escondi seu par de luvas?
No quintal, a lua lá em cima me diz que já é tarde. Grito, implorando sem vê-lo: Ivo, onde estão as uvas? Ele, escondido, não faz nenhum ruído e só vovó responde: “Entrem meninos que aí vem chuva”. Ninguém se entende, corro para o outro lado e nosso cachorro Chico me segue pulando e latindo, quando chego sob a videira, valeu a minha luta, encontro um novo cacho já madurinho.

Deixo o Ivo com as uvas e não troco por suas luvas. Para minha geleia, prefiro estas, muito mais graúdas. Dentro de casa, ao lado de vovó, vejo caroços e cascas de uva, antes disso, vovó ria.  Vovó, as uvas e Ivo você viu? Se vovó me ouve, finge que não escuta e assovia, mas eu vi, vovó ria… Assovia acompanhando o som do vento e eu desconfio.

Enfim, Ivo talvez não sumiu com as uvas, o tempo sumiu com vovô e parece que vovó nunca soube.

Por Vinícius Moura

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