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O trampolim – O “xaveco” e a inspiração para vencer desafios: reflexões sobre a conquista

Pouco importava todas as outras pessoas dentro e fora da piscina. Importava aquela: o corpo bronzeado, perfeito, coxas, braços, sorriso… Mas para conquistá-la, era preciso…

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Pouco importava todas as outras pessoas dentro e fora da piscina. Importava aquela: o corpo bronzeado, perfeito, coxas, braços, sorriso… Mas para conquistá-la, era preciso saltar do trampolim

Eu tentava sabotar minhas intenções lembrando as séries Mundo Animal, especialmente os episódios em que apresentam os machos dispostos a darem suas vidas para que a fêmea o escolhesse e ele pudesse se destacar em meio ao bando. Estava me sentindo exatamente assim, um bicho irracional tentando atrair a atenção de qualquer forma. Estranhamente naquele momento fez todo o sentido a boba dança do acasalamento, as penas exuberantes do pavão e das cabeçadas enfurecidas dos bodes montanheses. Naquele momento eu era mais um.

Meus olhos haviam sido capturados por um corpo torneado, por dentes e lábios que me tiravam a razão. Os cabelos acariciavam os ombros. Minha mente tomada só conseguia pensar em quanto ela poderia me valer à pena.

Piscina cheia e mais algumas dezenas de pessoas se distraindo nas mesas e espreguiçadeiras ao redor.  Minha timidez aciona o sinal amarelo.  Por si só aquela era para mim uma situação bastante difícil e não conseguia pensar numa forma convincente de me apresentar, agora com tanta gente ao redor havia mais um grau de dificuldade, o medo da exposição. Analiso de novo os olhos e as mãos, dedos finos e delicadamente longos, ela é perfeita! O balanço contábil, a equação matemática, o custo versus o benefício, a prova real, enfim, tudo que eu poderia usar como métrica dava um único resultado: ela realmente valia à pena.

 
Somos capazes de vencer nossos limites quando interessados ou inspirados por  alguém. Imagens via Eb1-brunheiras e Imotion Imagens

Numa piscina é comum os olhares se voltarem para o trampolim. O olhar dela também acompanhava os ousados aventureiros que saltavam. Justamente ele: o maldito trampolim. Porque não o toboágua ou os escorregadores? Tinha que ser o meu grande pesadelo, o trampolim? Parecia naquele momento que eu não tinha saída, se ela olhava para a prancha lá no alto era de lá que eu deveria saltar. Só de pensar nisso meu corpo tremia. Como artifício de transformar o sentimento apavorante que me invadia numa matéria exata, revi a matemática aplicada a bela espécime que sorria à beira da piscina e dava novamente o mesmo resultado. Ela valia o risco, e com certeza na subtração do risco versus benefício, ela ainda ia ficar com crédito.

A timidez normalmente dá ênfase ao medo de altura. O meu caso era mais grave – não era medo, era pavor de altura. Enfim, o que estava em jogo? E quanto estava disposto a pagar por esta aposta? Percebi o quanto estas perguntas são comuns na vida de todo mundo. E quanto é comum usar de uma mesma reação automática. Reação esta que nunca é explorada, nem pensada, nunca se submete ao entendimento. Apenas a automática fuga da aposta.

Ao se deparar com um obstáculo significativo, uma boa forma de evitar o conflito é encontrar as famosas desculpas verdadeiras para sair do jogo e não encarar o desafio. A fábula da raposa e das uvas é exatamente isso: “As uvas estão verdes”, disse a raposa às uvas que não podia alcançar. E é esta a saída mais fácil, parece melhor desdenhar do que encarar. Fugir da aposta.

Apropriar-se de um conhecimento também tem um preço. Quanto maior o preço, maior a apropriação. Exemplo: podemos receber dezenas de conselhos – estes são de graça – eles farão sentido e também terão lógica, parecerão dignos e corretos, mas simplesmente não os apreendemos. Normalmente não conseguimos aceitá-los somente porque alguém disse, a não ser, é claro, que o conselho seja exatamente igual a nossa opinião. Não se apropria emocionalmente da coisa sem tê-la vivido e saber racionalmente não é suficiente. Como seguir a opinião de quem já saltou de um trampolim: “vamos, não tem segredo, é só subir e pular!”. Como você bem sabe, isso não funciona. Saber emocionalmente é viver o salto.

Por outro lado ninguém quer fazer algo de forma que o resultado seja um desastre, fazemos da forma que fazemos porque não temos recursos suficientes para fazer a mesma coisa de um jeito mais eficiente.

Ufa! Tudo isso me faz agarrar o corrimão e subir os primeiros degraus que levarão ao alto do trampolim. Os joelhos se recusam a subir, mas minha mão já agarrou um pouco mais acima. Conta feita e refeita, já não resta dúvida alguma: ela faz muito valer a pena. A sensação aqui do alto é que é muito mais alto do que parecia lá de baixo. Agora já não dá mais para voltar. Voltar? Não, definitivamente não, isto seria como ser banido do bando. Só me permito uma saída: seguir em frente! Posiciono-me na rampa e prefiro não pensar em mais nada. Salto de pé. Não poderia sequer pensar em saltar de outra forma, simplesmente de pé. Uma eternidade se passa no ar até espalhar a água com meu pulo desajeitado.

Antes de tocar o fundo da piscina, me invade a sensação de vencedor. A sensação de que fui o macho escolhido do rebanho, a certeza de que tenho as penas mais coloridas, a arrogância de que sabe que é o maior e mais forte da minha espécie… Eeeeee… Quanta ilusão!


Na paquera as pessoas fazem loucuras para encantar ou chamar atenção do outro. Imagens via iG TurismoWallace Ribeiro

Assim que me apoio no parapeito da piscina me ocorre a estupidez do feito. Por que antes de passar por tudo isso não fui lá oferecer um drinque? Porque não puxar assunto? Não haveria algo mais simples para chamar sua atenção? Afinal, pular do trampolim de pé – que foi a única forma que eu consegui fazer – definitivamente não atende ao objetivo de atrair seu olhar e curiosidade. Para tal feito, teria que fazer algum tipo de mortal, ou piruetas de costas. Que tolice, pulei de pé.

O que me resta? Vou lá e digo o quanto fiz por ela? Ela vai entender? Claro que não. Ela sequer suspeita que tenha feito algo por ela que nunca faria por mim mesmo, que nunca me atreveria a isso. Ela jamais acreditaria que evitei ferozmente todos os body jumpers, os saltos de pára-quedas ou de pular da ponte para o rio quando pequeno. E pela primeira vez toda a fantasia que acumulei imaginando o que de pior poderia acontecer, não aconteceu. Que este foi meu primeiro passo depois de anos atrofiando os músculos com medo de andar e sofrer um possível e inevitável tombo.

Feliz à beira da piscina analiso o enorme salto dado na vida. Saio da água como que transformado por uma espécie de batismo. Já para a musa inspiradora, ela sequer sabe o que fez.

Se voltasse três passos atrás, antes de ter pulado veria minha história como a vida de um animal domado, preso no cabresto e com tapa-olhos a determinar o caminho. Limitado, entretanto, com tudo sob controle. Agora, três passos depois de ter saltado, este mesmo animal parece ter se libertado dos seus arreios numa ousadia nunca antes experimentada, enxerga pela primeira vez centenas de opções. Que animal sou eu agora?

Ela é, sem sombra de dúvidas, linda, mas agora, feita e refeita a conta, tenho o resultado enfim apreendido. Ela ainda não sabe o quanto me fez ganhar. E é só por ter conseguido passar o que passei que posso me aproximar de uma forma autêntica, e sem parecer mais um “xaveco” vazio, dizer:  “Olá, tudo bem?”, “Posso lhe dizer meu nome?” Para mim este também é mais um primeiro passo… Será que ainda serei para ela, a inspiração para que um dia também salte do trampolim?

E você,  já saltou do trampolim por alguém?

 Por Vinícius Moura

Crônica sobre paqueras, amor e relacionamento escrita através do grupo de discussão Junguiana, mediado pelo psicanalista Marcos de Santis do Instituto Humanae.

Imagem de abertura via PierreSata

 

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