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Uma questão de limite – A Política de um garoto e sua avó. Por Vinícius Moura

Minha avó morava no mesmo quintal, lá nos fundos, com as bananeiras, o abacateiro, samambaias e muitos pés de “fulores”. Na minha lembrança de menino,…

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Minha avó morava no mesmo quintal, lá nos fundos, com as bananeiras, o abacateiro, samambaias e muitos pés de “fulores”. Na minha lembrança de menino, ela era uma pessoa que a quase tudo me permitia. Hoje em dia refaço o caminho voltando no tempo, me lembrando de quantos “nãos” eu ouvi. Enfiar o dedo na massa do bolo, não pode. Roubar brigadeiro da mesa de festa, também não. Enfiar o dedo na tomada, mastigar tatu-bola, brincar com aranha, quebrar o porquinho das moedas para comprar doce, mentir, subir no galho mais alto para pegar goiaba, brincar na rua, falar palavrão, nada disso pode. A lista deve ser bem mais extensa que isso, como por exemplo: ao chegar com um objeto que ela ou minha mãe não lembrasse ter comprado, tocava ir atrás do dono para devolver, alternando cada uma, com um beliscão ardendo em minhas costelas. Às vezes penso que ela não era assim tão boazinha.

Nesta recordação, nem tudo era um “não”, de vez em quando era uma obrigação. Infelizmente ao comparar, acabei crendo que “não” e “obrigação”, naqueles casos, eram a mesmíssima coisa: respeite os mais velhos, faça lição de casa, faça amizade com quem quiser, só não ande com fulano de tal… Ao ter que fazer ISSO, significa que NÃO posso fazer aquilo. Pronto! É não do mesmo jeito. Longe de querer fazer dessas lembranças uma lista de lamentações, pelo contrário eu quero prestar uma homenagem e declarar minha gratidão. E não podia ser diferente, ao receber a negativa, eu bufava e resmungava, odiava minha avó, odiava minha mãe. Só anos depois é que no balanço entendi que aqueles “nãos” foram limites cruciais para a construção do meu caráter. Enfim, que sorte eu tive em ter morado no mesmo quintal que minha avó.

Há tempos escuto na mídia histórias de falcatruas no meio político, sempre imagino que nenhum deles deve ter tido a sorte que eu tive. Nenhum deles morou com uma avó, um pai, mãe, tio ou mesmo um padrasto que dissesse “não”. Isso não! Isso não pode. Por outro lado, o ofício de um político, tão fundamental para um país, mereceria por si só, o reconhecimento e o respeito por sua grandeza… Mas, parece que de todos aqueles candidatos, só foram eleitos os que nunca moraram com a avó. O salário é muito bom, nem dá para discutir, basta acompanhar os acirrados concursos públicos que prometem uma recompensa financeira muito menor. Já para a classe política, além de salários, as regalias soam como afronta, incentivos de várias formas que engordam o contra cheque. E não há limite. Seja o quanto for, é pouco.

Políticos por não terem ouvido um sonoro “não”, acabaram transformados em super-humanos. Podem tudo, merecem tudo, até receber adicionais “por fora” vendendo uma facilidade para o ilegal tornar-se legal.

Nenhuma novidade, dizem que dinheiro compra até amor verdadeiro. Entretanto, me sinto obrigado confessar que é fácil demais citar os outros, aqueles que estão acima da lei e da ordem, como os errados, os filhos da mãe. Sinceramente, me pego muitas vezes tirando uma vantagensinha no trânsito, ultrapassado ilegalmente, sonegando a renda para pagar menos imposto, me sentindo agraciado por ter conseguido uma “facilidade comprada” num imbróglio qualquer. Justamente porque não posso, e também não tenho as regalias, nem informações privilegiadas e muito menos tenho grandes empresas me oferecendo e pedindo favores, é que a mim, só resta o pequeno poder, para tirar dele pequenas vantagens, vantagenzinhas que minha avó, se soubesse, torceria minhas orelhas. Concluo: será que sou diferente deles? Ou faço menos porque é só isso que me compete?

De uma coisa tenho certeza, se por ironia do destino eu tivesse enveredado pelas bandas da política e por ventura pensasse em fazer as mesmas falcatruas, não temeria o Impeachment ou a CPI, mas a voz da minha avó. Ela continua sendo uma voz poderosa que estaria ralhando em alto e bom som dizendo aos quatro ventos: tira a mão daí, menino.

Por Vinícius Moura

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