Considerações sobre o gênero ( masculino / feminino) e resposta a Vinicius de Moraes – Parte 1/2

Por Ângela Rodrigues em referência ao 8 de março! Que homens e mulheres são diferentes e que o abismo que os separa é abissal, ninguém…

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Por Ângela Rodrigues em referência ao 8 de março!

Que homens e mulheres são diferentes e que o abismo que os separa é abissal, ninguém discute. Mera questão de fisiologia, de hormônios, de gênero e porque não dizer de DATAS.

No que diz respeito a questões fisiológicas e hormonais deixemos para os especialistas…. Quanto ao gênero e às datas… me parecem convidativos.

O Gênero (masculino e feminino) é um conceito criado na década de 70 para explicitar que sexo social não é determinado pelo sexo biológico; ou seja, a sociedade imputa uma diferença cultural entre homem e mulher que resulta em uma cisão construída, independente portanto de determinações biológicas.

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, considera que o conceito de gênero refere-se a uma “categoria de análise das ciências sociais para questionar a suposta essencialidade da diferença dos sexos, a idéia de que mulheres são passivas, emocionais e frágeis; homens são ativos, racionais e fortes. Na perspectiva de gênero, essas características são produto de uma situação histórico-cultural e política; as diferenças são produto de uma construção social. Portanto, não existe naturalmente o gênero masculino e feminino.” (CASTILHO, 2008, ).

Portanto, muitas das diferenças entre homem e mulher não decorre da sua constituição natural, mas sim dos atributos que o gênero masculino e feminino incorpora do contexto cultural em que estão inseridos.

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Com base nessa definição, posições machistas e feministas correspondem a excessos injustificáveis, representam apenas que alguns homens e mulheres introjetaram uma dose maior que a devida de prescrições sociais historicamente construídas. Crer que o homem tem necessariamente que pertencer a um universo azul onde impera a racionalidade muitas vezes inexistente no universo rosa e ilógico do gênero feminino, nada mais obsoleto!

Uma outra conceituação de gênero que me parece inteligente está pautada na tese de que o conceito de gênero é apenas uma “divisão simbólica dos sexos”, não tem base biológica nem cultural, “é uma lógica de pensamento, emoções e representação da subjetividade íntima das pessoas.” (LAMAS citada por CASTILHO, 2008).

Considerando essa definição, podemos inferir que as diferenças de gênero podem nos ajudar na percepção daquilo das particularidades  que a constituição biológica confere ao homem e a mulher em termos de possibilidades, potencialidades, em termos de construção da identidade; me parece absolutamente sublime até ver o Outro como diferente…

Se pensarmos que o gênero masculino e feminino refere-se apenas à divisão simbólica, não há como negar, que as mulheres podem usufruir prazerosamente dessa divisão sem com isso comprometer sua independência, sua autonomia intelectual e sobretudo a sutileza que em muitos momentos ofuscam uma truculência que não precisa ser vista.

Certamente a delícia de um provedor, forte, racional, protetor, ativo (em seus sentidos literais ou figurados)  não pode ser comprometida pelo medo da submissão. Nada mais equivocado. A força de um não enfraquece o outro, a racionalidade masculina não subjuga a feminina, a proteção só exacerba o conforto, à atividade dele não corresponde a passividade dela.

Nada mais feminino que assumir isso! Portanto, sejamos modernas: acho discutível a comemoração de 8 de março, quase arcaico ….mas com toda feminilidade peculiar ao nosso gênero, recebamos as rosas, as homenagens, os afagos, o carinho e tudo o mais sem nenhuma culpa …

Que permaneça o encanto das diferenças que nos UNE! Sejamos apenas pares!

Talvez pensar que Vinícius de Morais compôs RECEITA DE MULHER  há bastante tempo e considerar que o que segue compus a partir da contemporaneidade, evidencie que há muito o 8 de março perdeu sua força, não mais precisamos de datas!!

Por Ângela Rodrigues

Receita de Mulher
Vinicius de Moraes
Composição: vinicius de moraes

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os menbros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhavel na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferencia grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.

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Por Ângela Rodrigues

Ângela Rodrigues é graduada e mestre em Filosofia pela Unesp. Professora universitária há 8 anos na área de pesquisa científica em vários cursos superiores e pós-graduação dos quais se destacam Moda, Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação entre outros. Além de ministrar aulas de métodos de pesquisa, foi orientadora de diversas monografias de final de curso de Moda. Ângela foi também co-autora de dois artigos científicos apresentados e publicados nos Anais do Colóquio de Moda da FEEVALE/RS em 2008. E mantém o blog Corpocomente no qual são postadas informações sobre moda, comportamento, fotografia, cinema e culinária. E-mail:[email protected]

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