O que é a História da Moda – Parte 1/2

História é a ciência que estuda a relação do homem com a natureza e seus semelhantes, através dos tempos. Das relações com a natureza, derivam…

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História é a ciência que estuda a relação do homem com a natureza e seus semelhantes, através dos tempos. Das relações com a natureza, derivam os modos de sobrevivência e a religião. Das relações com seus semelhantes, os homens criaram as sociedades e suas formas políticas, representadas através da cultura das aparências.

A ciência histórica observa a ação humana por vários aspectos. A arte é o aspecto que mostra a ação do homem, através da impressão de valores estéticos nos objetos, mostra que este é capaz de criar e construir, e portanto, é o olhar através da imagem construída e humanamente retratada, da construção das civilizações e de suas mentalidades e modos de viver.

Para Kenneth Clark(1995) Civilização é o conjunto de verdades que o homem elabora para poder se apoderar da natureza e agir sobre ela. O conjunto de tais verdades regula as relações com a vida, com o mundo e com a natureza e permite ao homem conquistar segurança e tranqüilidade; eliminam o terror das forças que não consegue controlar e adquirindo fé em si mesmo, com um corpo de crenças que geram segurança material e espiritual.

A história das aparências é uma linha de estudos de moda que tem hoje grande importância para os estudos das ciências humanas, pois, o que nela se deixa observar, serve para demonstrar o parâmetro de elegância como termômetro da relação do indivíduo com sua cultura, num determinado tempo e lugar. A moda guarda a memória de cada tempo, como demonstração da arte de viver de um período ou de um povo, quando não, as duas coisas ao mesmo tempo.

Segundo Daniel Roche (2007) em seu tradicional texto sobre a cultura das aparências, os trajes de moda servem para exibição de poder como marca de distinção social, mostrando valores ilusórios nos quais a extravagância, a loucura e o valor mercantil zombam das maneiras ordinárias e dos hábitos plebeus e vulgares. Porém, o que de fato acrescenta seu parecer sobre os estudos da moda é sua visão marcante deste fenômeno, como grande estimulador do comércio mercantil que, carrega consigo o valor cultural da mudança, no processo civilizador da cultura ocidental.

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Na cultura ocidental, tudo que é novo, tudo que muda é moda, toda nova aparência é moda, é moderna e por esse motivo, o estudo das aparências deve estar dentro do universo da história social e cultural, das suas praticas e formação de estatutos morais e éticos.

O historiador Fernand Braudel, citado por Roche, coloca o estudo das roupas e dos modos de vestir como parte da história dos comportamentos sociais e da história da cultura material, lembrando que no séc. XVIII, a Enciclopédia definia a palavra roupa como “tudo que serve para cobrir o corpo, para adorná-lo ou para protegê-lo das injurias do ar”. Como modo de vestir, preferia-se a expressão costume.

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A historiografia da vida social urbana percebeu, de imediato, a importância das roupas, não como patrimônio, que era o caso do traje na Idade Média, mas o seu uso como representação de modos de vida e das relações humanas.

O estudo da história social e cultural das aparências coloca os problemas que envolvem a produção, o uso e a inserção de valores demandados a partir das matérias-primas, suas estruturas de transformação, custos e benefícios, dos processos de construção dos objetos que constroem tais aparências e suas variações no tempo e espaço. Tais variações são capazes de revelar e esconder a posição social dos indivíduos no seio do grupo e sua mobilidade dentro dele, e isso é possível, mesmo nas sociedades campesinas, onde o vestir muda muito lentamente, porém a roupa nova, mesmo não sendo de modelo novo, representa alguma mobilidade no meio social, visto que representa uma disponibilidade financeira.

Assim, a história das aparências transformou a percepção teórica sobre o vestir, numa espécie de linguagem cultural do ocidente, visto que, o que se colocou como fonte de estudo a partir dela, foi o que deve ser produzido, o que deve ser consumido e o que deve ser distribuído. A partir daí, entra em questão os modos de uso, os modos de produção e os modos de comercialização, dentro de condições temporais e geográficas que deixem demarcados, sobretudo, as esferas sociais, seus jogos de poder e caminhos de movimentação social.

Todos os estudos de moda apontam o período moderno como o demarcador temporal deste fenômeno. Roche (2007) nos fala do impacto dos movimentos de Reforma Protestante e Contra-Reforma Católica sobre o debate moral que este período apresentou sobre as condições da riqueza e pobreza, e como a roupa se tornou o centro desse debate porque carregava o valor de luxo e ostentação, próprios da nova estrutura social absolutista.

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O excessivo e o necessário, o supérfluo e o suficiente, o luxo e a mediocridade foram os temas deste debate. Para a moral cristã, tanto católica, quanto protestante, a roupa serviu para avaliar a adaptação dos costumes às exigências éticas. Assim, sob novos códigos, que acabaram por gerar uma nova economia e um sistema inteiro de produção e comercialização mercantilista, a roupa falava de uma valores, onde se devia consumir de acordo com sua posição social e uma conduta de decência civil, demostrando em que momento a sociedade se mostra abundante ou recessiva em sua economia.

Ainda hoje, a moda, como qualquer outro empreendimento estético, que junta objeto, imagem, desejo e prazer, tem como função resolver formalmente, em um nível imaginário, o padrão ético e moral da sociedade capitalista, uma vez que junta a beleza, o êxito e o viver na cidade. Motivo pelo qual é urgente que as ciências que observam o corpo considerem os novos olhares da moda para sua função, como manifestação social.

Acredito que a moda veicula sentidos que ultrapassam o gosto pela roupa nova e, a carga moral, ética e estética, que daí deriva. Para mim, a moda, além de articular sentimentos que transpassam a vida de uma comunidade, é capaz de gerar um número enorme de produtos, empregos e circulação monetária e isso precisa ser estudado com mais profundidade.

Leia também O que é a História da Moda – Aparências Subversivas / Parte 2-2.

Women’s fashions year by year: 1795 to 1948

Por Queila Ferraz

(Queila Ferraz Monteiro é estudiosa de História da Moda, é consultora de design e gestão industrial para confecção e Professora de História da Indumentária e Tecnologia da Confecção dos cursos de Moda em várias faculdades , também é professora em cursos de pós-graduação em universidades como o Senac. [email protected] )

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