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Philippe Starck – O arquiteto e designer francês que reinventa objetos, manipula espaços e cria ambientes em um estilo único

Philippe Starck – polêmico, autodidata, um homem do seu tempo O objetivo deste texto é apresentar o trabalho do polêmico designer Philippe Starck e sua…

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Philippe Starck – polêmico, autodidata, um homem do seu tempo

O objetivo deste texto é apresentar o trabalho do polêmico designer Philippe Starck e sua obra como pontos reveladores do modo de viver e da estética contemporânea pós-moderna.

O trabalho arquitetônico também tem grande peso na marca da criatividade contemporânea, assim como os quatro grandes nomes do século XX – Mies Van Der Rohe, Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e Tadao Ando.

Philippe Starck é um arquiteto autodidata. O conceituado designer francês nasceu em Paris no dia 18 de janeiro de 1949. Sua obra é multidisciplinar, vai do design de interiores ao de bens de consumo de massa, como objetos para o lar, motos, cadeiras, mouses para computador e escovas de dente.

Starck tem ainda uma vasta obra arquitetônica que se mescla ao design de interior, vista e reconhecida em hotéis icônicos espalhados por todo o mundo.  Ele é conhecido como um fenômeno internacional na área de design de móveis e produtos.


Hotel Yoo em Punta del Este, está entre as obras de arte projetados pelo design com seu estilo único


Hotel Sanderson, Great Britain. O arquiteto francês reinventa objetos, manipula espaços e cria ambientes que traduzem um estilo único. Via Spacesbrasil

Por ter um pai que trabalhou como projetista de aeronaves, Starck passou a infância cortando, serrando, desmontando bicicletas, motocicletas e outros objetos. Formou-se na Ecole Nissim de Camondo, em Paris. Criou sua primeira empresa em 1968 para produzir objetos infláveis. Apenas um ano depois Philippe Starck se tornou diretor de arte da empresa de Moda de Pierre Cardin.

Em 1970 decorou os night-clubs parisienses La Main Bleue (1976) e les Bains-Douches (1978). Já em 1982, o presidente francês François Mitterrand o convidou para decorar uma suíte no Palácio do Eliseu em Paris e, desde então, ele é conhecido como um fenômeno internacional pela decoração dos interiores de hotéis que ele projeta desde a totalidade dos ambientes internos ao layout dos móveis, incluindo até as roupas de cama, mesa e banho.

O Hotel Península, em Hong Kong; o Teatron no México; o Hotel Delano, em Miami; Mondrian, em Los Angeles; o restaurante Ásia de Cuba, em Nova York; e o hotel Fasano do Rio de Janeiro são alguns de seus trabalhos espalhados pelo mundo.

Em 1984 desenhou o interior do Costes Café em Paris, juntamente com os de outros estabelecimentos, tais como o Manin em Tókio (1985) e Teatriz em Madrid (1990). Projetou uma série de habitações privadas, blocos de apartamentos e espaços comerciais. Em Paris fez um projeto de um bloco de rua inteira, “La rue starck” (1991).

Philippe Starck pode ser considerado o designer mais famoso e intrigante ainda vivo, já que sua marca principal é o desejo de transgressão e o desafio à estética cultural vigente. Provocador ao extremo, mudou nossa concepção de lâmpadas, maçanetas, talheres, chaleiras, vasos, relógios, scooters, motos, mesas, camas, torneiras, escovas de dente, objetos para banhos e banheiros, interferindo assim em toda a maneira contemporânea de viver.

O design de Starck se caracteriza por peças estilizadas, com aspecto orgânico e linhas finas, elaboradas a partir de ligas de materiais incomuns. Suas criações não são caracterizadas por um design único e caro – ele cumpre a função do designer, cria para a indústria e sabe trabalhar a estética de massa.

 

A marca mais conhecida dos seus projetos são as ousadas regravações de objetos do cotidiano. É assim que ele se mantém conhecido como um designer Revivalista, que remaneja e repensa o habitual. Ele reproduziu alguns dos objetos icônicos do século XX, como o espremedor de frutas Juicy Salif e as cadeiras Emeco de alumínio.

A obra de Starck serve bem para ilustrar a grande discussão sobre a função do designer e do design. Segundo Peter Drucker, esta função é transformar necessidade em demanda, gerando com isso experiências de prazer.


Espremedor de frutas Juicy Salif .Via Appliancist

Sobre o Design

Como já foi colocado anteriormente no texto sobre as origens do design, voltamos a usar a mesma informação porque esta explica através dos estudos de Julio Carlo Argan .

A origem da palavra design está no latim designare, verbo que abrange o sentido de designar e de desenhar. Sendo assim, já contém na sua origem o aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir e o concreto de registrar/configurar/formar, tratando assim de uma atividade que gera projeto, esboços e modelos.

Historicamente, o marco fundamental que caracteriza a função e a existência do design se deu com a passagem de um tipo de fabricação – em que o mesmo indivíduo concebe e executa o artefato – para outro processo, que exige uma separação entre projetar e fabricar. O uso do termo design começou a ser frequente na Inglaterra do século XIX.

Surgiu uma nova figura de profissional, o designer como um homem que compartilha das mesmas origens e dos mesmos gostos dos consumidores que buscavam nessas produções. Era mais do que uma simples qualidade construtiva – uma afirmação de sua identidade social capaz de ostentar seu progresso profissional. A identidade das classes sociais passou por um processo de redefinição e, com o tempo, tais preocupações foram se difundindo por outras camadas sociais.


Foto: Interior Design by Sara Pereira

O cruzamento de dados de ordem econômica e cultural com outras informações de natureza tecnológica e artística faz-se essencial para dar sentido à diversidade da função do design nos diferentes contextos contemporâneos.

É função de qualquer designer solucionar os problemas de demanda do consumidor, da indústria e do comércio. Também é função do designer introduzir inovações nos produtos já existentes e oferecer novas criações antes que o mercado solicite – porque sua função é propor melhor qualidade de vida e oferecer experiências de conforto e prazer com o uso de suas criações.

Diferente dos artistas, os designes estão na categoria dos profissionais que trabalham para a produção industrial em série, garantido que o uso de tais objetos permita que seus usuários se sintam indivíduos inseridos na sensibilidade e no padrão de gosto de seu tempo.

A função do designer é criar objetos e organizar as ideias – da concepção do projeto, à produção e o consumo.

Os objetos, segundo o designer inglês Deyan Sudijc, são importantes para que possamos medir a passagem do tempo em nossas vidas. É o que usamos para mensurar quem e o que somos. Esta condição faz dos objetos de design um documento de seu tempo e é dentro deste espaço que se insere a obra de Philippe Starck, com sua postura crítica e irreverência em relação aos conceitos propostos pelas escolas tradicionais como a Bauhaus.

Concretamente, além do design que reflete seu tempo com crítica estética e social, outro grande valor de sua obra é o uso de materiais inusitados e inovadores, tanto para novas criações, como para leituras revivalistas e historicistas em seus objetos e arquiteturas.

O uso do Plástico

Uma das grandes inovações colocadas no mercado por Starck está o uso do plástico como material refinado. Há 20 anos, decorar um espaço com móveis de plástico era uma solução simples, barata e até de mau gosto, um sinônimo de falta de recursos financeiros. Hoje, o plástico é símbolo de modernidade.


Uma das grandes inovações colocadas no mercado por Starck está o uso do plástico como material refinado

Philippe Starck é um dos grandes responsáveis pela virada na história do material e sua utilização pela indústria de móveis e decoração. Uma de suas criações mais notórias é a linha Louis Ghost, uma cadeira barroca Luís XV revisitada, toda feita de policarbonato injetado – peça pouco provável de estar em lugar de destaque em um lar até alguns anos atrás.

Nosso país ainda caminha devagar em direção à decoração futurista. “O Brasil ainda não entendeu essa tendência”, disse Starck na última Feira de Decoração, em Milão, em abril de 2010. Entretanto, muita gente que entende do assunto discorda da opinião do designer. “Acredito que o Brasil já se rendeu aos móveis de plástico. Vide o sucesso de vendas de marcas importadas como a Alessi, Kartell, Magis, Vitra, e várias outras”, diz Alcyone Godói, diretora de produtos da loja Benedixt, em São Paulo. “O preconceito contra mobílias de plástico é coisa do passado. O material não tinha a cara nobre da madeira, do tecido”, explica Helio Bork, diretor da Kartell no Brasil. A empresa italiana se tornou um ícone ao apostar nas peças de plástico aliadas à alta tecnologia.

O plástico é um termo genérico para um grupo abrangente de materiais: fibra de vidro, resina de poliéster, polipropileno, poliuretano, policarbonato, acrílico etc. Todos variam bastante nos quesitos textura, brilho e transparência.O plástico, normalmente o polipropileno, é injetado, o que proporciona uma tiragem de larga escala; como o molde é caro, o preço se dilui na produção.

Atualmente o acrílico em chapas tem sido muito utilizado: ele pode ser dobrado, recortado e estampado. Essa alta flexibilidade é um aspecto positivo do material. “A liberdade de desenho que o plástico permite a um designer é algo super nobre. Algumas vezes, o desenho brilhante de um profissional sai do papel e não toma forma funcional, pois o material não permite. Com o plástico, isso não acontece. Ele permite projetos ousados”, afirma Bork.

As tecnologias de fabricação do material também estão bastante avançadas. “A China nos abriu um enorme campo de criação. Lá, os moldes não são tão caros, além das fábricas nos oferecerem uma grande diversidade de acabamentos”, explica Nanina Rosa, gerente de marketing da rede de lojas Imaginarium.

Toy arts da Imaginarium. Os famosos brinquedos de adulto, encarados também como objetos de arte. A China abriu um enorme campo de criação

Outra tendência que envolve plástico na decoração é a coleção de “toy art”, os famosos brinquedos de adulto, feitos não para brincar, mas sim para agregar valores-pueris, divertidos, modernos e leves para o ambiente. Nina Sander, proprietária da Plastik, uma referência em toy art, confirma que a febre veio para ficar. “Minha clientela é formada, na grande maioria, por homens de 20 a 50 anos, entre eles, designers, estilistas e publicitários”.

Para essa turma, os “toys” são encarados como objetos de arte, itens de colecionador e merecem destaque na estante. “Acho muito bacana misturá-los com livros e vasos. O ambiente fica moderno descontraído”, diz Nina. Provavelmente a visão de Philippe Starck estivesse certos tempos atrás, mas se o Brasil não entendia o plástico, agora a história é diferente.

Starck e a reavaliação do design na vida cotidiana

Concluindo, o que vemos hoje é uma reavaliação do papel do design na vida das pessoas. A obra de Philippe Starck é um exemplo dessa situação que discute a importância da funcionalidade como uma experiência de prazer e bem estar como valor estético contemporâneo.

Na mesma época em que criou o espremedor de frutas, projetou também a Chaleira Hot Bertaa, que é constituída de plástico e alumínio. Novamente se vê um produto relativamente não-funcional em termos de praticidade, mas com predominância das qualidades estéticas.  O elemento da peça que permite segurá-la é, ao mesmo tempo, o orifício para colocar a água na chaleira e também para esvaziá-la depois.


Outra criação de Philippe Starck, a chaleira Hot Bertaa, via Desgnophy

Starck mostra, sempre que vem a público, que de fato interessa em suas obras é a reflexão que o usuário do produto irá desenvolver a respeito do objeto ou espaço e não mais simplesmente a sua utilização material. São produtos desafiadores e provocativos quando comparados aos ícones do design funcionalista, por exemplo, provindos da Bauhaus ou da Escola de Ulm, típicos casos que valorizaram a funcionalidade. Rafael Cardoso Denis (2005) fala que:

“Para Starck o objeto deve ser encarado pelo designer não simplesmente como um produto, mas como uma instância de tomada de consciência de uma experiência de uso. Para seus críticos, os objetos projetados por Starck são pouco funcionais, mas ele certamente rebateria que todo objeto exerce bem mais do que uma única função”. (p. 186)

Tanto estes produtos, como muitos outros objetos de Starck produzidos durante as décadas de 80 e 90, acabaram tornando-se mais do que objetos de design propriamente ditos – podemos dizer que também são reconhecidos como “imagens” de Starck. O design com as peculiaridades que estamos apresentando tem sido bastante desejado por diversas empresas, pois elas sabem que isso irá agregar valor aos seus produtos.

A partir destas considerações podemos sugerir a transformação destes objetos físicos em signos, neste caso, atrelados à marca e a imagem de Philippe Starck, pois o próprio designer fala sobre isso: “Creio ser tarefa dos designers passarem mais tempo produzindo signos… e menos produzindo objetos”.

Outra característica notória, principalmente ao observarmos seus discursos em relação aos produtos que envolve, é a importância que atribui ao relacionamento afetivo e emocional que se estabelece entre o objeto e o indivíduo que o manipula. O mesmo conceito se estende à sua arquitetura hoteleira.

Criações de Philippe Starck


A primeira trata-se das cadeiras Emeco de alumínio. A segunda é a linha Louis Ghost, uma cadeira barroca Luís XV revisitada


Em parceria com K. Group International Development, Philippe Starck desenvolveu os exclusivos projetos Yoo que se tornaram referência em design no segmento imobiliário. Veja mais fotos do Hotel Yoo em Punta Del Este.


Hotel Saint Martin’s Land, Great Britain. Nascido em 1949, em Paris, Phillipe Starck é atualmente o designer contemporâneo mais famoso e admirado do mundo


Hotel El Porteño, na Argentina.


Restaurante Kong, na França.


Port Adriano, na Espanha.


Hotel Fasano no Rio de Janeiro também foi projetado por Philippe Starck, veja mais fotos do Hotel Fasano


Hotel Fasano no Rio de Janeiro também foi projetado por Philippe Starck, veja mais fotos do Hotel Fasano

Fotos: Philippe Starck

Foto de abertura: Sabrina Schmitz

Por Queila Ferraz
(Queila é estudiosa de História da Moda, consultora de design e gestão industrial para confecçõo e Professora de História da Indumentária e Tecnologia da Confecção em diversos cursos superiores e de póss-graduação.  Email: [email protected])

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