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Educação – Muito além do que imaginamos

Costumo dizer que se entregássemos um jornal datado de 1980 a um desavisado, talvez ele demorasse para detectar que as notícias não são atuais, pelo…

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Costumo dizer que se entregássemos um jornal datado de 1980 a um desavisado, talvez ele demorasse para detectar que as notícias não são atuais, pelo menos no que concerne ao caderno de cidades. Certa vez um telejornal fez essa brincadeira com as matérias exibidas por ele mesmo e  minha tese se confirmou. Afinal por que raios continuamos a cometer os mesmos erros?

Sei que você pensou no Governo em primeiro lugar pois é público, notório e provém de longa data o descaso das autoridades, o eterno remenda que não cai…mas este artigo tem outro alvo: a sociedade.

Quando falamos em educação, logo pensamos em escolas nas favelas, disciplinas básicas de ensino, futuras gerações estudando e tudo aquilo que nos foi ensinado. Perfeito, importante sem dúvida, mas você consegue perceber que o termo educação é muito mais abrangente do que isso?

O termo Educação vem do latim educatione e de acordo com o ¨pai dos burros¨ é um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.

A última parte da definição do dicionário confirmou meu entendimento do termo Educação: integração individual e social. Antes de mais nada, vejo educação como um conceito que engloba toda nossa vida em sociedade, em comunhão com outros seres, sejam eles humanos ou não. Esta parte da educação a que me refiro é aquela que não é ensinada na escola e aprende-se muito mais por meio dos padrões de comportamento social, com a família, amigos e pela observação, acima de tudo.

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Você só pode se considerar uma pessoa educada se…

Não para o seu veículo em fila dupla, fala alto ao celular, joga lixo nas ruas (incluindo as abomináveis bitucas de cigarro), faz barulho de madrugada incomodando os vizinhos, estaciona em vaga de idoso ou deficiente (mesmo que seja somente por cinco minutinhos), fura filas (sua pressa é sempre mais importante que a dos outros), trata pessoas diferentes uma das outras pelo seu nível social, anda por aí com o som de seu carro no último volume e janelas abertas, deixa de reciclar seu lixo, fala com a boca cheia de comida, torna-se arrogante por sua própria insegurança, ignora o pedido de ajuda de alguém, deixa o cocô de seu cachorro nas caĺçadas, para no meio da faixa de pedestres (e ainda acha ruim se alguém chama a sua atenção) etc.

O sentido fundamental da educação de qualquer sociedade é alicerçada em algo muito mais amplo e abrangente do que colocar as futuras gerações para estudar; é preciso que se ensine cidadania e civilidade às crianças desde o princípio, da casa ao maternal. No entanto, em grande parte das vezes, nem os pais e/ou professores entendem e praticam a educação com a consciência clara, o que torna a transmissão falha.

Educação, entendida através de uma ótica mais ampla, independe absolutamente de classe social ou hierárquica, e digo isso com conhecimento de causa. É claro que os abastados financeiramente tiveram acesso à educação convencional, mas talvez nem todos a vejam de forma ampliada como já mencionado no começo deste artigo. Conheci e conheço muitas pessoas de distintos níveis sociais e, quantas vezes não presenciei atitudes de profunda elegância e educação por parte dos mais humildes e intolerantes gestos de intenso mal-gosto provindos da classe A. Há alguns anos fui contratado para ministrar aulas particulares à um mega empresário de São Paulo, multimilionário, muito viajado, residente de bairro nobre da capital paulistana. Se eu te contar que durante a aula ele retirava…vamos dizer assim…projéteis de muco do nariz e com a maior naturalidade os grudava em seu caríssimo tapete persa sobre o qual fazíamos a aula, você acredita? Isso sem contar o que acontecia no restante da aula, pois o leitor pode estar almoçando e certamente não seria algo agradável de se ler em um instante como esse.

É feio, constrangedor e por vezes irritante presenciar má educação por parte de qualquer pessoa e, infelizmente nos deparamos com isso diariamente, de uma forma ou de outra. O que fazer? Tome uma dica que para mim tem funcionado relativamente bem, se quiser tentar: esta semana dei bom dia a um morador do edifício onde resido, e o sujeito, além de não balbuciar nenhum tipo de resposta, nem se deu o trabalho de mover o rosto em minha direção para ver quem era! Rude não? No entanto, continuo diariamente dando bom dia ao transeunte e ele continua não respondendo e lhe pergunto: com quem está o problema? Eu fiz a minha parte…o resto é com ele.

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Há alguns anos li uma parábola que pode nos auxiliar a entender um pouco mais o parágrafo acima.

Em um vilarejo distante, havia um distinto espadachim que era tido como o melhor de sua época. Além de dominar a arte da espada o fazia também com suas emoções e pensamentos como um perfeito yôgin. Durante o alvorecer de um dia qualquer, apareceu um desafiante do povoado vizinho procurando o famoso espadachim e, quando o encontrou, lançou os mais diversos impropérios em direção ao mestre da espada. Neste ínterim, devido à confusão, formou-se uma roda de curiosos que queriam ver o desfecho daquele desafio.

O desafiante continuou bradando xingamentos e absurdos enquanto o espadachim mantinha-se calado com o olhar fixo, sereno e firme. Quando o desafiante mal-educado percebeu que o outro não reagiria àquelas calúnias, simplesmente cansou e foi embora. O povo que observava a tudo atentamente foi correndo em direção ao ídolo local a fim de descobrir a razão do mestre não ter reagido, pois certamente ele aniquilaria o desafiante em um piscar de olhos.

O samurai, já caminhando de volta às florestas, quase sem dar atenção àquilo tudo, disse: quando lhe oferecem um presente e você não aceita, de quem é o presente?

 

Um exemplo funciona melhor do que qualquer doutrina.

                                                            Henry Muller

 

O leitor deve ter percebido que essa educação a qual me refiro não se encontra explicitamente nos livros e sim nos exemplos diários e nos hábitos de cada indivíduo. Creio que todos nós temos algo a melhorar. Escolha algo, mesmo que seja minúsculo e aparentemente sem importância e trabalhe sobre isso, pois uma das maiores dádivas que o animal homem possui é o poder e a capacidade de se aperfeiçoar.

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Por Prof. Fábio Euksuzian

Autor dos livros A Ancestral Arte da Poesia, Yôga em Dupla e do CD Relaxe e Desperte!

www.fabioeuk.org     

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