Bubbles in the City – Strike a pose!
Outro dia fui com duas amigas comer “o melhor bolo de chocolate do mundo”. É um lugarzinho minúsculo, porém charmoso, que tem o nome da…
Outro dia fui com duas amigas comer “o melhor bolo de chocolate do mundo”. É um lugarzinho minúsculo, porém charmoso, que tem o nome da principal (praticamente única) “iguaria” servida – “O melhor bolo de chocolate do mundo”.
Fica num dos bairros mais “hype” de São Paulo – os Jarrrdãããns. Jardins, na verdade. Mas eu gosto de brincar com o nome, falando assim, com sotaque “francês”, porque o povo dos Jarrrdãããns é muuuito chique.
Aí, eu, com minhas queridas amigas, sentadinha no meu canto, numa tarde de domingo típica de outono (ensolarada, mas friazinha – delícia), me peguei reparando nas pessoas, o que não é nenhuma novidade. Tenho esse desvio de comportamento: adoooro reparar nos outros, sorry! Entre uma garfada e outra, cheguei à conclusão de que descobri uma nova classe social: a Classe “P”.
Diferentemente das demais classes sociais, a Classe P não é definida pelo poder de compra, nível salarial ou escolaridade. Não é preciso saber quantos aparelhos de tevê, quartos ou banheiros a pessoa tem em casa. Nada disso: a Classe “P” é definida por pura atitude. E mais: representantes da Classe P estão por toda parte, em praticamente todas as letras do alfabeto. Acompanhe meu raciocínio (nada científico, mas um raciocínio)…
Repare na legião de mulheres que desfilam por aí com bolsas Prada ou Louis Vuiton. E naquelas com óculos de sol Gucci ou Channel. Pode apostar: 90% pertencem à Classe P. Compraram tudo daquela amiga-que-conhece-não-sei-quem que traz (muamba) de Nova York. Ou numa lojinha da avenida Paulista. Enfim, tudo de camelô ou, no mááááximo, de algum outlet bem baratinho (ah, mas foi um “achado”!). Nada contra camelô (?!) – meio de vida de quem tem que se virar de algum jeito. Mas é engraçado, vai! Porque o importante para a Classe P é a pose. Afinal, quem é que sabe reconhecer o que é original?
Tipo aquela vizinha que não paga o condomínio há oito meses. E não é que a fofa me aparece na garagem com um carro importado zerinho? Ganhou de alguém? Talvez. Mas porque esse Papai Noel tão bondoso não deu o dinheiro pra ela pagar o condomínio? A-há! Olha a Classe P aí gente! Pagamento em intermináveis 64 meses e pronto: você faz pose de bem sucedida. Depois de quitado, o carro vale tanto quanto uma “brasoca”. Mas quem se importa?
Reunião da firrrma. Olhe em volta: você está rodeado pela Classe P. Só que com uma diferença: é uma Classe P pensante. Que nem minha amiga, pobrezita. Voltou outro dia da licença maternidade e caiu de pára-quedas em uma reunião. Na sala, só executivos da firrrma. Pauta: layout de um novo site. Discussão: a linha preta que define o box de uma promoção deveria ser: opção a – fina; opção b – grossa; opção c – nem grossa, nem fina, mas, sim, intermediária; opção d – o box não deveria ter linha preta nenhuma.
Decisão difícil, não? E nem preciso dizer que cada um tinha uma opinião diferente, né? “Linha fina, porque dá mais profundidaaaade”. “Grossa, porque dirige o olhar para a mensagem principal”. “Sem nada, porque é inusitado”. Pouco importa se o assunto em discussão é absolutamente irrelevante. A Classe sempre P tem uma opinião. E para expressá-la: pose de ser pensante!
E homem da Classe P? Com certeza você conhece um. Ele é “muderrrno”: veste camisa acinturadinha, não importando a ausência total de cintura e a abundância generalizada de “gordurinhas localizadas na região abdominal e adjacências”. Ah, e ele é culto também! Siiiim! Adora freqüentar livrarias do tipo “megastore”, tomando aquele capuccino básico num estilo europeu de ser. No restaurante, bota o carteirão de couro em cima da mesa, o celular (companhia inseparável) ao lado e ataca de enólogo: pede a carta de vinhos, ainda que não faça a menor idéia do que está lendo.
Uma vez saí com um tipo desse (todo mundo erra, gente!). E olha que coincidência: ele é (ou era, porque já faz tempo) executivo de uma firrrrma! Fomos ao cinema e me lembro até hoje o filme: “Efeito Borboleta”. Lembro também que ele perguntou se eu tinha visto “O Gladiador”. Respondi que sim e ele logo emendou: “é bem legal, mas eles misturaram aquela coisa de bíblia, né?”. Hã??? Depois fiquei pensando que ele quis dizer “mitologia”, mas não arrisquei um segundo encontro pra conferir. E é assim mesmo: a Classe P lê taaanto, que confunde as informações. Mas a pose de antenado está lá, firme e forte.
E aí a gente recebe um convite pra um evento superbacana. Vamos nessa, claro! Afinal, quem, hoje em dia, tem grana pra dar festão? Só a camada de 0,0001% da população e as grandes empresas. Então, tudo de ótimo: gente bonita, ambiente elegantérrimo, som maravilhoso, comida de primeira, muito espumante rolando. De repente, não mais que de repente, o ambiente principal esvazia. Onde estão todos? Na fila do brinde! E aí a gente imediatamente vê quem é da Classe P: foi ao evento fazendo pose de fino, de gente que “freqüenta”, mas, no fundo, queria mesmo era o grande troféu da noite: a sacolinha com o brinde.
Não podemos negar: a Classe P tem um “life style”. Alguns (poucos) compram em lojas exclusivérrimas. Mas a maioria se acha o máximo comprando na Zara mesmo. Enfim, é uma gente bonita, com cabelo bem cortado, carro novinho e sempre limpo, tem TV de LCD na sala e um ou outro móvel de “design” (a Teodoro Sampaio tá cheia de coisas superparecidas com aquelas do último Salão do Móvel de Milão). Uma gente que sabe o que é bom e pode comprar tudo em 10 vezes no cartão.
Divertida essa Classe P! Vez ou outra até me identifico. Mas não compro bolsa nem óculos de origem duvidosa – por pura vergonha (na cara?). Passo longe de lojas exclusivérrimas (não tenho grana pra isso) e a numeração da Zara é grande demais pro meu pequenino corpinho. Não sou besta de bancar a sabida quando o assunto é declaradamente banal. Mas, em algum lugar do meu passado, certamente devo ter feito alguma pose por algum motivo qualquer.
Longe de mim julgar alguém (?!). Perfeição não é meu forte. Mas, noves-fora-ao-quadrado-vezes-xis-fecha-e-abre-parêntesis, o resultado da equação é sempre a mesma. E a ordem dos fatores nem altera a conclusão dos fatos: pra quem vive a doce vida da imagem que é tudo, o que conta mesmo é a língua do P, de pose. Então, vamos lá! Todos juntos, de mãos dadas, unidos e sorrindo: strike a pose!
Serviço:
Caia na tentação, não conte as calorias e experimente O melhor bolo de chocolate do mundo
Rua Oscar Freire, 125 – Jardãããns
Tel: (11) 3061-2172
Por Mila Brito
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