Eu estou “lá” ou eu estou “aqui”?

Parodiando uma cena de um programa infantil antigo – o “Vila Sésamo” – onde uma criança se debate para entender o que quer dizer “lá” e “aqui” no intuito de ter noção de espaço e lugar, eu escrevo esta reflexão.

Na série que era uma espécie de Teletubbies, uma criança diz aos amigos: “Eu estou lá” e eles respondem: “Não, você está aqui”. A criança insiste e diz: “Mas eu quero estar lá” e todos o motivam a ir para lá. Estando longe dos amiguinhos, a criança novamente os pergunta: “E agora? Eu estou lá”. Todos respondem: “Não, você está aí”. No final, estando lá, ele diz: “Estou me sentindo tão sozinho!” E volta ao encontro de todos.

É curioso como todos os lugares em que não estamos, nos parecem ou nos são apresentados como aqueles mais badalados, “in”, os mais interessantes. Sempre ouvimos: ”Você não foi NA festa? Que pena, foi A festa mais divertida que eu já fui” – “Você foi na SPFW? Fui, “Assistiu ao desfile do X?” Nãaaaao! Que pena! Foi o melhor desfile que eu já assisti.”

Os acontecimentos mais legais são aqueles que não estamos, não fomos convidados e que muito provavelmente não irá se repetir: aquela festa, aquele jantar, aquele desfile…

Tais fatos nos frustram muito e nos fazem pensar entre o lá e o aqui. O fato é que “aqui” parece não acontecer nada de interessante. MAS lá, tudo de bom acontece em grande escala. Nossa ansiedade aumenta, por achar que temos que estar lá, entretanto, quando chegamos lá (nas conquistas da vida, no tão esperado cargo, quando conseguimos comprar um carro, uma casa, um vestido, algo que parecia ser nossa redenção), nos damos conta que o “lá” é o “aqui” e que para os que não estão compartilhando de nossa experiência, nós estamos por “aí”.

Related Post

O fato é que se permanecermos “aqui” com o desejo de estar “lá”, nossa vida será sempre frustrante, cheia de inveja e ciúme daquilo que muitas vezes nem conhecemos. O “aqui” e o agora são muito importantes, até para sabermos para onde queremos ir. Porque o do outro é sempre melhor? Estar “lá” pode ser tão solitário que quereremos voltar aos nossos.

Agimos como crianças e não aprendemos que o nosso desenvolvimento intelectual, cognitivo, social, cultural, não nos garante um amadurecimento emocional e psicológico.

Às vezes, quando alguém lhe perguntar se esteve no melhor evento da vida e você não tiver ido, basta dizer como os Americanos: “Good for you!” – “Que bom pra você”!!!

Por Carlos Silva

Carlos Alberto Alves e Silva: Psicanalista e economista, com pós-graduação em Administração pela USP e Marketing pela ESPM. Tem MBA em Gestão Internacional pela Thunderbird School of Global Management‚ Arizona‚ USA e formação nas áreas de Psicologia e Filosofia.

Usamos cookies em nosso site para oferecer uma melhor experiência. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações" para ajustar quais cookies deseja aceitar ou não em nossa Política de Privacidade.

Leia mais