Prazer vale mais do que sucesso

 

Por  Juliana Motter e Ilustrações de Andrea Ebert

Se dar bem em todas as áreas, sentimental, profissional, financeira… tem sido, ao que parece, nosso maior ideal. Mas na contramão das sufocantes cobranças sociais por êxito, o filósofo francês Luc Ferry argumenta que o que dá sentido à existência é uma vida bem-vivida e não a tão almejada vida bem-sucedida

Basta passar os olhos na seção de best sellers de qualquer livraria para se convencer de que a busca pelo sucesso se tornou prioridade absoluta na nossa vida. Repare que os títulos mais vendidos são quase sempre aqueles manuais de auto-ajuda que prometem fórmulas mágicas para se alcançar o êxito, seja ele profissional, financeiro, afetivo, sexual, etc.

Quem, na fila do caixa, nunca escondeu atrás de uma revista um livrinho de como ficar milionário em uma semana? Ou folheou discretamente um título que ensina a ser o melhor chefe do mundo? Ou, ainda, adquiriu um manual de como desenvolver mais liderança, carisma, fazer amigos, conquistar pessoas? Ser bem-sucedido em todas as áreas da vida tem sido, ao que parece, nosso maior ideal. Mas até onde, afinal, essa busca frenética pelo sucesso tem dado sentido à nossa existência, mesmo quando ele é alcançado?

Especulações interessantes podem ser encontradas no livro O que é uma vida bem-sucedida? (Difel), do filósofo e educador francês Luc Ferry. Embora o título sugira mais uma obra de auto-ajuda entre tantas existentes, o livro surpreende por manter as suas idéias na seção de filosofia – leia-se no campo da reflexão – a uma distância segura do pragmatismo e da simplificação que parece ter tomado conta da sociedade em que vivemos. A obra não só está fora do coro do “você deve vencer” como mostra que o sucesso, enquanto simples performance social, está longe de dar sentido à vida ou, numa definição menos filosófica, trazer a felicidade que invariavelmente atribuímos a ele.

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Muitas vezes fazemos uma grande confusão entre o que a sociedade julga conveniente e aquilo que de fato nos faz felizes. Isso explica porque atingir um determinado objetivo não é necessariamente uma garantia de realização

Além de um número expressivo de exemplares vendidos, o livro tem rendido muitas reflexões, tanto que deu origem a um curso homônimo, ministrado regularmente na Casa do Saber, em São Paulo. A proposta desses encontros filosóficos, segundo o professor de Ética da Escola de Comunicações e Artes da USP, Clóvis de Barros Filho – que foi aluno de Luc Ferry e conduz as seis aulas do programa – é refletir sobre o sentido da vida e as transformações do conceito de felicidade ao longo da história.

Performance x desejo
Pare e pense. A satisfação de conseguir aquela promoção – que custou tantas noites insones e lhe privou de encontros familiares, reuniões no colégio dos filhos e valiosos momentos de ócio – se manteve por mais de dois ou três meses? E aquele dinheiro que você sempre sonhou em ganhar e agora está lá, rendendo no banco, trouxe a paz que você jurou que ia ter quando superasse os tempos difíceis? E a plástica, as sessões militares de malhação ou o silicone que você colocou nos seios fizeram com que você se sentisse mais realizada na própria pele? É provável que a resposta franca para todas essas perguntas seja “não”. O fato é que, segundo Luc Ferry, costumamos fazer uma grande confusão entre o que a sociedade julga conveniente e aquilo que pessoalmente nos faz feliz. De certa forma, isso explica porque atingir um determinado objetivo e ser reconhecido socialmente por tal conquista não é necessariamente uma garantia de realização individual. “O mundo contemporâneo incita-nos por toda parte ao devaneio. Seu cortejo impressionante de estrelas e lantejoulas, sua cultura de servidão diante dos poderosos e seu amor desmedido pelo dinheiro tendem a nos apresentá-lo, literalmente, como um modelo de vida”, analisa o autor no livro e completa: “Tudo concorre hoje para fazer do sucesso um ideal absoluto. Esportes, artes, ciências, política, empresas, amores, tudo passa pelo sucesso, sem distinção de categoria nem de hierarquia de valor”.

Atualmente, o centro da vida não está mais no divino, mas no humano. Se isso nos faz senhores do nosso próprio destino, por outro lado abre espaço para muitas distorções, como essa de colocar o sucesso acima do bem-estar individual

Difícil ficar indiferente a essa supervalorização da performance, pois para todo o lugar que olhamos – seja o noticiário, a tevê, a reunião na empresa – nos deparamos com um modelo de sucesso a ser seguido. Mas peraí, será que lá no fundo você deseja igualar o empreendedorismo do Bill Gates? O dinheiro do Donald Trump? O corpo perfeito da Gisele Bündchen? Talvez não. Porém, sem perceber está lá, lutando de sol a sol para conquistar uma vida de glória que não corresponde nem de longe às suas expectativas íntimas.

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