Elke Maravilha: um ícone da irreverência da moda no Brasil

Modelo, atriz, apresentadora e ícone da televisão brasileira. Relembre a vida singular e o estilo inconfundível da diva Elke Maravilha

Acima de tudo, a história da moda no Brasil foi construída em diálogo com outros países. Além disso, houve inclusive estrangeiros que se tornaram ícones nacionais. Dentre eles, conheça a história de Elke Maravilha, a artista multifacetada que foi símbolo de empoderamento feminino e ousadia no Brasil.

 

 

Quem foi Elke Maravilha?

 

 

 

Retrato de Elke Maravilha. Crédito: Daryan Dornelles. Fonte: Itaú Cultural

 

 

Tendo sido secretária, bibliotecária, tradutora, professora, modelo, atriz, jurada e apresentadora, Elke Maravilha foi uma artista de enorme sucesso que marcou os anos 70 e 80 no Brasil.

Antes de mais nada, sendo dona de uma personalidade marcante e de um carisma singular, ela foi uma das grandes figuras brasileiras do final do século XX – ainda que tivesse de fato nascido fora do país.

Não por menos, pelo seu jeito irreverente e tão atrativo ela recebeu o apelido “Maravilha” na época em que participava do famoso programa do Chacrinha. Como resultado, foi com esse nome que se projetou de vez no país e se consolidou na memória coletiva dos brasileiros.

Em seguida, relembre a sua história e conheça mais detalhes sobre a sua vida e carreira.

 

 

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Qual era a nacionalidade de Elke Maravilha?

 

 

 

Elke Maravilha quando criança. Fonte: Memórias cinematográficas

 

 

Elke Georgievna Grünupp, seu nome de nascimento, nasceu em Leutkirch im Allgäu, na Alemanha, em 22 de fevereiro de 1945. Filha de Georg Grünupp e Lieselotte König, ela se mudou para o Brasil com a sua família pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Afinal, essa era uma época de crise econômica na Europa e o Brasil apresentava uma chance de futuro para muitos imigrantes.

Em princípio, a família se fixou em um sítio em Itabira, no estado de Minas Gerais. Algum tempo mais tarde, em 1955, eles se mudaram para Atibaia, em São Paulo. No interior paulista, então passaram a se dedicar ao cultivo de morangos, produto típico da região.

 

 

Elke Maravilha jovem. Fonte: Hypeness

 

 

Em seguida, ainda se mudaram para Bragança Paulista, onde a família de Elke seguiu trabalhando com a agricultura. Todavia, eles depois retornaram a Minas Gerais. Em 1962, na capital desse estado, Belo Horizonte, a jovem foi escolhida em um concurso como Glamour Girl.

Antes de mais nada, esse episódio marcou o potencial que o visual e figura de Elke possuíam. Além disso, foi nessa mesma altura que ela se naturalizou brasileira.

Desde então, a jovem seguiu uma carreira diversa e de muito sucesso e assumiu o seu lado brasileiro de corpo e alma. Desabrochava, assim, o ícone Elke Maravilha.

 

 

Elke Maravilha jovem quando recebeu o título de Gamlour Girl 1962. Fonte: Memórias cinematográficas

 

 

Quantos idiomas a Elke Maravilha falava?

 

 

Muito determinada e resolutiva, Elke foi viver sozinha no Rio de Janeiro logo aos 20 anos. Na capital carioca, ela então passou a trabalhar como secretária bilíngue.

Afinal, além de um rosto bonito ela era muito inteligente: dominava ao todo 9 idiomas! Com um pai russo e uma mãe alemã, ela, assim, falava português, espanhol, italiano, francês, inglês, alemão, russo, latim e grego.

 

 

Primeira capa de revista de Elke Maravilha, aos 18 anos. Fonte: Wikimedia commons

 

 

Nesse meio tempo, por causa do trabalho de seu pai, a família se mudou para Porto Alegre. Desse modo, Elke decidiu por voltar a viver com eles no Rio Grande do Sul, onde ficou entre 1966 e 1969.

Então na capital gaúcha, ela cursou Letras na UFRGS. Assim, veio a se tornar tradutora e intérprete oficial de línguas estrangeiras. Além disso, atuou como professora de inglês na União Cultural Brasil–Estados Unidos e de francês na Aliança Francesa.

 

 

A carreira como modelo

 

Eu nunca fui mulher, sempre fui uma pessoa. Nunca permiti ser chamada de mulher. Desde pequena eu percebi que o homem é melhor do que nós. Quando pequena, perguntei ‘pai, eu tenho que ser mulher?’ e ele falou ‘não, minha filha, seja o que você quiser’. Aí eu resolvi não ser mais gênero. Tudo que a mulher faz, eu não gosto. Porque eu não quis, eu quis ser gente, essa é minha proposta, e acho que eu estou conseguindo.” (Elke Maravilha, Pensador).

 

 

Retrato de Elke Maravilha. Fonte: Facebook Acervo Bangu

 

 

Elke começou a de fato atuar como modelo e manequim aos 24 anos, em 1969. Um dos grandes incentivadores foi então o seu primeiro marido, o escritor grego Alexandros Evremidis – o primeiro de seus oito casamentos!

Tendo se relacionado de 1966 a 1972, os dois se conheceram em um navio em uma de suas viagens com destino à Europa. Na época, Elke tinha 20 anos e havia ido morar com a sua avó materna na Alemanha. Eles se casaram em 1969.

Desde então, a carreira de modelo levou a jovem a trabalhar com as personalidades mais conhecidas do mundo da moda nacional.

 

 

Elke Maravilha posando como modelo. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.

 

 

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Elke Maravilha e Zuzu Angel

 

Até então, a intenção de Elke nunca havia sido seguir a carreira artística. Entretanto, foi o salto como modelo de sucesso que a projetou e definiu o resto do seu percurso profissional.

Ainda quando dava os seus primeiros passos no mundo da moda, ela conheceu e se tornou grande amiga da estilista Zuzu Angel (1921-1976). A estilista mineira, que à altura se destacava no país e nos Estados Unidos, se via em uma encruzilhada contra a Ditadura Militar. Afinal, o seu filho, Stuart Angel, foi morto pelo regime.

 

 

Elke com modelo de Zuzu Angel. fonte: Memórias cinematográficas

 

 

Envolvida com o caso, em 1971, Elke acabou por ser presa por desacato no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O motivo? Ela rasgou cartazes em que Stuart era dado como desaparecido, defendendo que ele já havia sido morto pelos militares.

Como resultado, tendo sido julgada pela Lei de Segurança Nacional então em vigor, ela acabou por perder a cidadania brasileira. Desse modo, ela acabou por ficar apátrida. Anos depois, pediu a cidadania alemã, a única que passou a possuir. Após a pressão de muitos amigos artistas e conhecidos, Elke foi liberada após seis dias.

A sua relação com a estilista foi retratada no filme Zuzu Angel, de 2006. Além disso, sendo que ela mesma foi interpretada pela atriz Luana Piovani, Elke fez uma participação especial na produção se passando por outra personagem.

 

 

Elke Maravilha. Fonte: Facebook Acervo Bangu

 

 

Elke Maravilha e a moda brasileira

 

 

Assim, após começar a atuar como modelo e manequim aos 24 anos, Elke veio a trabalhar com os estilistas mais famosos da época. Acima de tudo, tendo deixado a sua ousadia aflorar, com o tempo ela foi tida como inovadora nas passarelas.

Em outras palavras, se em princípio ela se manteve mais inibida e discreta, posteriormente Elke encontrou o seu caminho. Desde então, abriu a sua extravagância para o mundo, não medindo palavras ou sufocando o seu estilo apenas para agradar os críticos.

 

 

Elke como modelo. Fonte: Hypeness

 

 

Desse modo, além de ter uma beleza chamativa e ser muito alta (1,80m), tinha uma atitude que não a deixava passar despercebida.

Assim, pouco a pouco ela começou a aceitar os convites que surgiam. Então iniciou a sua carreira com Guilherme Guimarães, um dos grandes nomes da história da moda no Brasil. Além dele e de Zuzu Angel, também trabalhou com Clodovil Hernandes e muitos outros.

Com o sucesso que conquistou, logo deixou de vez de dar aulas e se jogou no mundo artístico.

 

 

Elke Maravilha. Fonte: Super Cinema Up

 

 

  • Em seguida, veja outras grandes referências da história da moda nacional, como o estilista Vitor Zerbinato.

 

 

O trabalho na TV

 

 

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Com um carisma singular e uma personalidade muito marcante, Elke fez cursos de cinema e teatro e passou a trabalhar na televisão. Por fim, acabou por ser batizada como Elke Maravilha pelo jornalista Daniel Más. Todavia, ficou assim conhecida ao ser chamada dessa forma por Chacrinha, com quem ela trabalhou durante 14 anos a partir de 1972.

Já como Elke Maravilha, a artista se tornou muito popular na televisão brasileira já nos anos 70 e 80. Acima de tudo, ela ficou muito conhecida como jurada dos programas de calouros do Chacrinha e de Silvio Santos.

 

 

Fonte: Reprodução

 

 

Nesses programas, ela usava e abusava de perucas e roupas super ousadas e nada discretas. Além disso, Elke ficou conhecida por sempre trazer um sorriso muito aberto e energia positiva, trazendo mensagens que tocavam os espectadores.

Por fim, em 1993, já há muito consolidada como uma das grandes figuras do país, ela estreou o ‘Programa da Elke’. Nele, acima de tudo, Elke entrevistava outros famosos.

 

 

Participações na televisão

 

 

– 1973: A Volta de Beto Rockfeller;

– 1979: Milagre – O Poder da Fé;

– 1986: Memórias de um Gigolô;

– 1982 – 1988: Cassino do Chacrinha;

– 1988 – 1991: Show de Calouros;

– 1993 – 1996: Programa Elke Maravilha;

– 1998: Pecado Capital;

– 2004: Big Brother Brasil 4 – Jurada / Celebridade / Da Cor do Pecado;

– 2007: Luz do Sol;

– 2009: Caminho das Índias;

– 2012: Morando Sozinho;

– 2013: As Canalhas / Destino: Rio de Janeiro;

– 2015: Fantástico.

 

 

O cinema

 

Além disso, trabalhou como atriz em diversas produções. Dentre elas, por exemplo, “O Barão Otelo no Barato dos Bilhões”, com Grande Otelo, e os filmes “Pixote”, de Héctor Babenco, e “Xica da Silva”, de Cacá Diegues.

 

 

Elke no filme “Xica da Silva”, de 1976. Fonte: Super Cinema Up

 

 

Não foi apenas a sua carreira como modelo e jurada que lhe trouxe bons resultados. Afinal, a sua interpretação em Xica da Silva lhe rendeu um prêmio de melhor atriz coadjuvante, o “Coruja de Ouro”.

Além disso, Elke ainda se envolveu com o teatro, tendo participado de inúmeras peças. Entre elas, por exemplo, ” Elke – do Sagrado ao Profano“, “Carlota Joaquina“, “A Rainha Morta” e “Orfeu da Conceição“.

Em 2016 a atriz estava em cartaz com “Elke Canta e Conta”, uma peça itinerante que abordava a sua história. Nesse sentido, narrava desde a sua infância na Europa, até os casamentos e a sua carreira profissional.

 

 

Participações no cinema

 

1970: Salário Mínimo;

1971: O Barão Otelo no Barato dos Bilhões;

1972: Os Machões / Quando o Carnaval Chegar;

1974: Gente que Transa;

1976: Xica da Silva;

1977: Tenda dos Milagres / A Força de Xangô / Os Pastores da Noite;

1978: Elke Maravilha Contra o Homem Atômico;

1979: A Noiva da Cidade / O Milagre;

1981: Pixote, a Lei do Mais Fraco;

1987: No Rio vale tudo / Romance / Tanga (Deu no New York Times?);

1988: Wiezien Rio;

1999: Xuxa Requebra;

2006: Zuzu Angel;

2007 Elke / Elke no país das Maravilhas;

2010: A Suprema Felicidade / A Maravilha de ser Elke;

2011: Fca Carla;

2013: Mato sem Cachorro / Meu Passado Me Condena;

2015: A Lenda do Gato Preto / Super Oldboy / Copyleft;

2016: Carrossel 2: O Sumiço da Maria Joaquina Dona / Lua em Sagitário.

 

 

Vida pessoal

 

 

Sempre com uma atitude muito forte e sem filtros, a vida de Elke Maravilha não foi nada tranquila. Ela não apenas falava várias línguas e morou em distintos países, mas também se casou ao todo oito vezes e com homens de diferentes origens.

Além disso, ela confessou ter feito ao todo três abortos – sem receios ou culpa. Afinal, muito segura de si mesma, ela sempre soube que não queria ser mãe, não se vendo capaz de educar uma criança.

 

 

Elke Maravilha. Fonte: Memórias cinematográficas.

 

 

Rebelde por natureza, além de consumir muitas bebidas alcoólicas, Elke também usou várias drogas ilícitas. Além disso, sobre o sexo, dizia ter aproveitado muito e provado tudo o que lhe deu vontade, mas que com a idade deixou de sentir desejo – e isso, afinal, era para ela libertador!

 

Crack, cocaína, mandrix, maconha, LSD, vários…Em todas eu surtei. Na minha geração, se tomava droga para autoconhecimento, não era por fuga. Nem sexo era fuga, era encontro. Tomei ayahuasca também, que não passa de um LSD natural.” (Elke Maravilha em entrevista para a Revista Sexy).

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Elke Maravilha posando para a campanha de inverno 2015 da grife mineira Lucas Magalhães. Crédito: Philippe Kliot. Fonte: Fashion Network

 

 

Morte

 

 

Elke Maravilha. Crédito: Ivson Miranda. Fonte: Itaú Cultural

 

Elke Maravilha morreu no dia 16 de agosto de 2016, aos 71 anos.

Por fim, ela acabou por sofrer a falência múltipla dos órgãos após não ter se recuperado bem de uma cirurgia para o tratamento de uma úlcera. A atriz estava internada desde o dia 20 de junho na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio.

Como descrito ao Ego pelo seu irmão, Frederico, antes de ser internada Elke pediu que ela estivesse linda em seu enterro. Dessa maneira, respeitando a sua vontade e a sua essência, para o seu velório a artista foi maquiada no melhor estilo Elke Maravilha. Além disso, foi vestida com um traje feito para o seu musical “Elke Canta e Conta”, então em cartaz.

 

 

Elke Maravilha durante o 25º Prêmio da Música Brasileira no Theatro Municipal, em 2014. Crédito: Reginaldo Teixeira. Fonte: Wikimedia commons

 

 

Legado de Elke Maravilha

 

 

Por fim, para além de todo o material que deixou em vida, após a sua morte Elke também foi a inspiração de outras produções e eventos. Dentre elas, por exemplo, estão:

“Bazar Maravilha” (2017) – bazar e exposição com a coleção de figurinos da artista, realizado na Galeria Frei Caneca, em São Paulo.

“Uma Maravilha Itabirana: Elke” (2018) – exposição organizada com o acervo pessoal da artista no Museu de Itabira, em Minas Gerais. Com curadoria de sua irmã, Francisca, a mostra se inaugurou em outubro de 2018 e esteve em cartaz até janeiro de 2019.

“Elke, Maravilha de Mulher” (2019) – mostra de fotografias da artista realizada no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no Rio de Janeiro. A exposição foi organizada por Uly Riber, que apresentou dez fotos da artista feitas por ele entre 1990 e 2016 além de outros registros de Elke com amigos.

“Chacrinha: O Velho Guerreiro” (2018) – Filme feito sobre Chacrinha, no qual a atriz Gianne Albertoni interpreta Elke.

Mulher Maravilha” (2020) – biografia de Elke Maravilha escrita pelo jornalista e escritor Chico Felitti. A obra está disponível em formato audiobook na plataforma Storytel.

 

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Mariana Boscariol: Mariana Boscariol é uma historiadora especialista no período moderno. Sua experiência profissional e pessoal é em essência internacional, incluindo passagens por Portugal, Espanha, Itália, Japão e o Reino Unido. Sendo por natureza inquieta e curiosa, é também atleta, motoqueira e aventureira nas horas vagas – e sempre leva um livro na bolsa!
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