Pierre Cardin – Morre o “Rei da passarela” aos 98 anos, conheça sua vida e trajetória
Pierre Cardin é um dos grandes criadores da moda cujas ideias criativas revolucionaram a indústria da alta costura. Conheça mais sobre sua vida! Cardin patenteou mais de 500 invenções, como meias coloridas e botas de cano alto, gravatas florais e jaquetas compridas sem gola feitas originalmente para os Beatles. Em 1970, Cardin criou projetos até para a NASA.
Pierre Cardin é um nome do qual fashionistas de todo o mundo já ouviram falar. Designer de moda talentoso, criador valente e empresário competente, este homem criou seu próprio império da moda, provando que trabalho duro e sonhos são capazes de muito.
Cardin patenteou mais de 500 invenções, como meias coloridas e botas de cano alto, gravatas florais e jaquetas compridas sem gola feitas originalmente para os Beatles. Em 1970, Cardin criou projetos para a NASA.
Vamos conhecer um pouco a história desse grande empresário!
Infância e juventude
Pierre Cardin nasceu em 2 de julho de 1922 na cidade italiana de San Biagio di Callalta em uma grande família.
O pai de Pierre era militar e mais tarde tornou-se enólogo. Em 1924, os pais de Cardin e seus herdeiros se mudaram para a França. Na juventude, Pierre deu o primeiro passo para realizar seu sonho: conseguiu um emprego como assistente de alfaiate.
Aos 23 anos, Cardin já podia ser considerado um profissional totalmente realizado. Nessa idade, Pierre foi conquistar Paris. Lá o jovem mestre passou de ateliê em ateliê, ganhando experiência e adquirindo novos conhecimentos ligados ao mundo da moda.
No final, tais conhecidos ajudaram Pierre a conseguir seu primeiro pedido sério: o mestre teve que costurar figurinos para o filme “A Bela e a Fera”, do diretor e dramaturgo Jean Cocteau. Assim começou a biografia criativa do artista.
Pierre Cardin tornou-se o principal estilista da grife Christian Dior, ocupando este cargo honorário por três anos.
Nessa época, o costureiro conseguiu se firmar como um mestre ousado que ignora as atitudes clássicas e não tem medo de experimentos ousados.
Foi nessa época que apareceram os icônicos vestidos bolha de Cardin e as primeiras roupas unissex (que eram incrivelmente provocantes).
Pioneiro do estilo vanguardista da moda
As coleções de Pierre Cardin geraram muita fofoca, mas muito mais despertaram admiração e desejo. Mais tarde, o costureiro foi chamado de pioneiro do estilo vanguardista da moda: as roupas, sapatos e bolsas de Pierre Cardin eram realmente inusitados e chocantes, muito à frente de seu tempo.
Sua primeira coleção de roupas femininas
Em 1957, Cardin apresentou a primeira coleção de modelos de roupas femininas. Sua coleção foi um sucesso estonteante: o corte oblíquo, os tons vivos e os vestidos semi-ajustados agradaram tanto as fashionistas de todas as idades quanto os rigorosos críticos de moda.
Pierre Cardin abre sua loja
Pierre Cardin abriu sua primeira loja própria em meados da década de 1950. A butique se chamava Eve. Três anos depois, é aberta a segunda loja do estilista – Adam.
É fácil adivinhar que “Adam” ofereceu roupas para os homens e “Eve” – roupas para a bela metade da humanidade.
Os homens também devem suas roupas multicoloridas ao grande costureiro: Cardin foi o primeiro no século 20 a oferecer roupas de cores mais fortes não apenas em tons escuros, cinza e marrom.
Pierre abre sua grife
Pierre Cardin abriu sua própria grife em 1950, finalmente realizando seu sonho de infância.
Ao mesmo tempo, o estilista mostrou-se não só como um costureiro talentoso, mas como um empresário durão e calculista, que sabe exatamente o que é preciso para o negócio e sabe fixar os preços corretamente.
Sob o nome de Pierre Cardin, além de roupas e acessórios, começaram a surgir perfumes com aromas delicados, isqueiros, despertadores e até frigideiras.
Pierre atingiu seu objetivo: o nome de seu império tornou-se um nome familiar, e o logotipo da casa foi reconhecido até por quem não seguia a moda.
Marcos na jornada de Pierre Cardin:
- Em 1957, o estilista foi pessoalmente para o Japão, onde recebeu o título de professor da Escola Japonesa de Moda e Design.
- Em 1959, o estilista apresentou uma coleção de roupas disponíveis a preços para todos os segmentos da população. Esse ato chocou o público da moda, e Cardin foi até mesmo riscado das listas da associação parisiense chamada Chambre Syndicale, que na época controlava tudo relacionado à alta moda.
- Os anos 60 foram marcados pelo lançamento de roupas de formas inusitadas e cores vivas: o mestre manteve-se fiel a si mesmo. No entanto, o costureiro gradualmente suavizou o “calor das paixões” no design das roupas urbanas do dia a dia, percebendo que nem todo mundo pode se dar ao luxo de aparecer para trabalhar com um terno brilhante.
- Em 1961, Pierre fez concessões às tradições e estereótipos, abrindo uma loja de roupas sob medida de acordo com os cânones clássicos.
- Em 1966, Pierre Cardin apresentou suas obras pela primeira vez em Nova York. O entusiasmo com que as coleções de vanguarda foram recebidas superou até as ousadas expectativas do estilista, e logo mais uma loja da marca foi inaugurada em Nova York. Além disso, este ano foi marcado para o costureiro com o prêmio honorário “Golden Spinning Wheel”, que foi entregue ao mestre na Alemanha.
Pierre e o sonho de ser ator
Além da moda, Cardin sempre se interessou por outras manifestações da arte: arquitetura e teatro.
Em 1970, o grande mestre comprou um complexo teatral em Paris e chamou-o de Espace Pierre Cardin.
O próprio estilista admitiu em entrevista que desde pequeno sonhava em ser ator e até estrelou filmes, embora em papéis episódicos.
Nos anos seguintes, Pierre Cardin, apesar de sua idade avançada, continuou a manter o controle do pulso de sua própria imaginação.
As coleções e catálogos apresentados no site oficial da Pierre Cardin eram constantemente reabastecidos e atualizados, e Pierre procurava novos caminhos e soluções que levassem ao desenvolvimento da empresa.
Em uma oportunidade única de estar perto e ouvir um dos gênios da nossa época, a coletiva de imprensa com Pierre Cardin foi algo engrandecedor, que nos proporcionou conhecer um pouco da vida e da história deste grande criador do século XX.
Em 2011, Pierre Cardin veio ao Brasil para a inauguração da exposição que leva o seu nome, que fica em cartaz de 29 de abril a 29 de maio, no shopping Iguatemi, em São Paulo com entrada gratuita.
E também para a realização de um grande desfile de alta costura e a palestra Cardin por Cardin. Durante a coletiva de imprensa, o costureiro revelou momentos marcantes e curiosidades sobre sua trajetória.
Palestra Cardin por Cardin
Cardin foi o primeiro estilista a apresentar uma coleção de prêt-à-porter, (roupas prontas para vestir que proporcionaram a democratização da moda) e a criar uma coleção unissex.
Nos anos 1960/70 fez os ternos dos Beatles, os uniformes da NASA e as famosas roupas Cosmocorps, revolucionando o modo de vestir de homens e mulheres; uma mudança cujos efeitos perduram até hoje.
Cardin começou contando um pouco da sua carreira, afinal ele é um dos mais antigos e agora o mais velho costureiro de Paris.
“Eu fui um dos primeiros. Minha carreira começou com Christian Dior em 1946, fui empregado dele e começava às 8h da manhã até as 9h da noite. Fui ator, dançarino e tive a chance de conhecer grandes gênios e trabalhar com eles, e é claro que todos eles já estão mortos”, brincou Cardin, em referência a sua longevidade – naquele ano, aos 88 anos.
“Minha vida inteira trabalhei na costura e nunca tive nenhum investidor. Muitos outros costureiros tiveram. Tudo que eu fiz foi por mim mesmo, meu trabalho foi desenvolvido por mim. Fui um costureiro que manteve sua maison sozinho, o que me deu muita liberdade, mas também muitas responsabilidades”.
Pierre Cardin falou sobre Christian Dior
Cardin relembra que começou com Christian Dior e que, naquela época, faziam desfiles de costureiros.
Com o tempo ele mudou e passou a se interessar pelo cosmos, os cosmonautas e pela parte científica. “Eu gosto de ver a mulher na lua”, comenta o costureiro que também estudou a história do costume, visando conhecer o que já havia sido feito, sempre com o objetivo de fazer diferente.
“As roupas que eu prefiro são aquelas que eu invento para uma vida que não existe ainda, para o mundo de amanhã”. Pirre Cardin
“Eu viajo pelo mundo inteiro, China, Japão…vi príncipes, vi reis. Fui um dos primeiros a visitar a Rússia em 1963, ainda quando era um país fechado no comunismo. Sempre me interessei pelo comunismo, pois como capitalista, via uma filosofia interessante, mas que estava fadada ao insucesso. É uma bela filosofia, mas a igualdade não existe: sempre existirão os melhores fotógrafos, os melhores costureiros, pessoas que sabem fazer as coisas da melhor forma”.
“Trabalhei com Dior por três anos, mas acabei me interessando mais por teatro e cinema. O que eu mais gosto é fazer figurinos, pois fui ator e dançarino. Fazendo figurinos estou aproximando as pessoas. Trabalhei no filme a Bela e a Fera e aprendi muito com isto. Também trabalhei com cinema aqui no Brasil, como ator no filme Joana a Francesa em 1973”.
“Por tudo isso comprei um teatro. As pessoas pensam: mas como um costureiro pode ser diretor de teatro? Já faz 45 anos que sou diretor de teatro e é o que mais gosto de fazer”.
Pierre Cardin fala sobre trabalho no filme La Belle et la Bête (A Bela e a Fera)
Pierre Cardin comprou quatro teatros e fez produções no Brasil, no México, Alemanha, NY e Itália.
Atualmente estava produzindo Casanova. “Resolvi produzir Casanova porque sou de origem italiana, de Veneza. Fui para a França com dois anos, mas nunca esqueci as origens da Itália”.
Cardin acreditava que o Brasil tinha muitos italianos por isso ele se sentia em casa e já veio ao Brasil cerca de 15 vezes. “O irmão da minha mãe veio morar em São Paulo em 1922”, conta Cardin.
Em 1946, Cardin, na época com 24 anos, trabalhou no filme La Belle et la Bête (A Bela e a Fera), em adaptação de Jean Cocteau. Via On this day in Fashion
Sobre o Prêt-à-porter
“Esse foi o início da minha carreira e já tenho 88 anos. Tive muito sucesso, nunca tive um fracasso. Parti da alta costura e passei para o Prêt-à-porter. Com a alta costura perdi muito dinheiro, mas com o Prêt-à-porter sempre ganhei, o que me permitiu fazer alta costura depois”.
“De certa forma, fui um pouco socialista e sempre pensei na possibilidade de que as pessoas pudessem comprar meus vestidos. Os vestidos de alta costura são muito caros e a maioria das pessoas não tem possibilidade de comprar. Não é o vestido que é caro, mas os custos gerais para fazer o vestido”.
“Então acabei passando para o Prêt-à-porter, o que permitiu ir às grandes lojas de departamento na Itália, no Japão, na Alemanha. Mas, todas as grandes lojas têm regras, tem sindicatos, entretanto eu escolhi o Prêt-à-porter”.
“O Prêt-à-porter me permitiu sobreviver e continuar fazendo minha criação. O que me fez sair da câmera sindical da alta costura. Eu era muito jovem e pensei muito no que deveria fazer, mas eles achavam que o Prêt-à-porter não respeitava a alta costura.”
Sobre este dilema, Pierre Cardin viu que o formato da alta costura não funcionaria para ele – “Sempre fui uma pessoa com muita ambição e muito trabalhador, sempre gostei de trabalhar muito e pensei ‘não vou perder’, então decidi pelo Prêt-à-porter.”
A marca Pierre Cardin
“Eu fiz uma griffe. Griffe em francês quer dizer arranhão, mas eu não queria que fosse só um arranhão, que depois de 15 dias passa. Eu queria que fosse uma marca francesa que verdadeiramente ficasse. E minha marca foi para diversos produtos, como chocolate, hotel, água, sardinha”.
O costureiro recebeu muitas críticas porque estava colocando a marca naquele tipo de produto, mas Cardin passou pela Segunda Grande Guerra Mundial e para ele, uma lata de sardinha tem mais valor que um frasco de perfume:
“Escolhi a sardinha. O perfume existe, mas a sardinha é muito mais necessária. Participei da Cruz Vermelha, administração, era fundador, fazia funcionar… Naquela época, às vezes tínhamos que viver com um pedaço de pão, às vezes uma bacia de lichia e um pedaço de pão. Com 18,19 anos, ter que viver com 100 gramas de pão… Passei por condições sociais terríveis, mas isso também me permitiu construir a minha personalidade”.
“Eu sou embaixador da UNESCO, fui embaixador na época de Chernobyl e visitei muitas crianças para falar sempre da tolerância. Eu coloquei a bandeira da UNESCO em diversos países, como a Rússia e os Estados Unidos”.
“Sou também acadêmico, porque faço parte da Academia de Belas Artes, que é, na França, o mais alto nível que uma pessoa pode receber”.
“Faço roupas, sou embaixador, acadêmico e tive a possibilidade de fazer muitas coisas. Sou dono de empresa, comandante e tive uma vida extraordinária. Trabalho com teatros, restaurantes, tenho três revistas e estou falando isso não para me vender, não preciso me vender, estou explicando quem eu sou. Imagina alguém que começou do nada, chegar ao mais alto nível e conseguir realizar!”.
“O início da minha carreira foi virtual, era tudo que eu imaginava que eu poderia ser, e eu consegui. Muitas pessoas tentam, mas muito poucas é que chegam lá. E eu consegui!”.
Conhecer Pierre Cardin é conhecer uma história viva da moda
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Por Denise Pitta