Moda e Budismo: uma visão ocidental e oriental convergidas
Há algum tempo tenho sentindo a necessidade de falar sobre moda com outros olhos. Olhos, talvez, não tão acostumados a estar sempre em contato com…
Há algum tempo tenho sentindo a necessidade de falar sobre moda com outros olhos. Olhos, talvez, não tão acostumados a estar sempre em contato com cores, estampas, tecidos, tendência e tudo que faz girar essa grande indústria. Parece piegas, mas acredito que a Moda pode ser vista com olhos mais puros, delicados, sensíveis, lúdicos e cheios de satisfação por serem agraciados por tanta beleza, saindo dos estereótipos glamurosos, de festas, bebidas, badalações.
Mas seria injusto dizer coisas sem o devido conhecimento, sem mergulhar profundamente em buscas de conceitos corretos sobre aquilo que gera tal inquietação; a de como a Moda, que é múltipla, é vista pelo Budismo – uma filosofia de vida que prega a unicidade e simplicidade.
Por isso faço minhas as palavras da Mestra Coen, em seu artigo biográfico, que explica bem o que penso sobre o assunto. Recentemente, ela foi convidada por Lino Villaventura a participar da São Paulo Fashion Week, onde recebeu lugar de destaque na primeira fila chamando a atenção da imprensa e dos convidados.
Seguem trechos do que a mestra pensa sobre moda e como se sentiu ao participar de um evento de moda.
“Achei muito interessante participar desse grande evento. Em minha vida inteira eu nunca tinha pensado em como seria algo assim. É muito diferente do meu meio, mas me senti muito honrada por poder observar a coleção, as modelos, as pessoas que entraram com convites, as que ficaram do lado de fora e que dariam tudo para entrar, esse fantástico cenário de papelão reciclável”.
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“Vendo o desfile me veio à mente o conceito de “interdependência”, muito usado no budismo. A interdependência pode ser compreendida como a ligação que existe entre todas as pessoas e coisas no mundo, ou seja: para criar esses lindos vestidos foi preciso que um agricultor plantasse o algodão, que outro colhesse, que alguém transportasse, que mais um fabricasse o tecido que uma costureira transformaria baseada no desenho feito pelo estilista, que uma moça desfilasse, que os fotógrafos o clicassem”.
A interdependência consiste no conceito de que tudo está interligado e tudo há um motivo de ser.
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“Enfim, somos todos parte de uma cadeia, da maravilhosa rede da vida. Do moço que carrega o balde para limpar a passarela ao idealizador do evento, todos somos o São Paulo Fashion Week. Não há separação e todos estão se beneficiando, até os catadores de papel ao final. Há um texto muito bonito no budismo (Mestre Eihei Dogen) que diz: “Quando a velha ameixeira desabrocha, o mundo inteiro desabrocha. Quando o mundo desabrocha, a primavera chega e incontáveis flores desabrocham”. Que ameixeira antiga é essa? O universo inteiro contido em uma pétala suave, delicada, branca, macia, perfumada. Cada pétala um universo completo”.
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“A moda tem muito significado, não a vejo como superficial. Ela revela o que estamos sentindo, nosso interior. Acho que os estilistas têm uma grande responsabilidade quando criam a moda, porque centenas, milhares de pessoas vão aderir a ela, muitas vezes até as crianças”.
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“Existe um provérbio que diz: “o hábito não faz o Monge”. Será? Ninguém imagina, mas um Monge budista também tem sua moda. Nós também temos que escolher os tecidos para nossas roupas, geralmente muito simples e baratos, mas às vezes até sofisticados dependendo do ritual a fazer, assim como os Papas, os Franciscanos, os Rabinos, os Padres, o Dalai Lama (budismo tibetano) etc.”.
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“O mundo precisa de mais beleza. Acho que as pessoas deveriam fazer mais arte-viva, como os estilistas, para alegrar mais a vida. O belo faz bem. Nós gostamos e apreciamos as árvores, o pôr do sol, o céu azul com suas nuvens”.
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“Acho fantástico trazer esse sentimento também para as roupas. Temos que estar sempre revendo o nosso conceito de beleza para que o maior número de pessoas tenha acesso a ela. Mas é preciso tomar cuidado com a vaidade. Quando não podemos viver sem elogios e ficamos arrasados quando alguém nos critica, significa que a vaidade nos aprisionou, quando o sentido da vida justamente é a libertação”.
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“Quanto ao desfile que assisti, gostaria de usar uma expressão muito usada no Japão. Quando os japoneses gostam muito de uma coisa eles fazem círculos com a mão. Então, vou dizer que achei o desfile do estilista Lino Villaventura, redondinho!”.
A mestra
Fonte: Monja Coen
Por Diego Carvalho