Filósofo explica porquê Kim Kardashian faz tanto sucesso – Jean Baudrillard e a Era da Imagem

Kim Kardashian é uma personalidade que ficou conhecida após protagonizar um vídeo de conteúdo erótico com seu ex-namorado, o rapper Ray J, que vazou nas redes sociais fazendo com que ganhasse notoriedade.

Filha do falecido e renomado advogado Robert Kardashian, Kim caiu no gosto do público e não saiu mais da mídia, tudo sobre ela vira notícia, e se vira notícia, é porque dá audiência…

Kim hoje, possui quatro lojas com suas irmãs, Khloé e Kourtney, chamada DASH. Além de fazer aparições em filmes e lançamentos de produtos, é também a protagonista do reality-show Keeping up with the Kardashians que mostra o dia-a-dia de sua família. Estima-se que a aparição de Kim em Keeping Up with the Kardashians custe US$80 mil (por episódio), sendo assim, a mais bem paga estrela de reality show dos Estados Unidos. Também acabou de assinar uma coleção para C&A e sua vinda causou um verdadeiro reboliço aqui no Brasil.

Mas por que tanto sucesso e tanta gente falando dela?

Foi no livro do filósofo Jean Baudrillard, Transparência do Mal, (não se assuste com o título)  que encontrei reflexões que indicam um caminho para que possamos entender fenômenos contemporâneos como o das Kardashians.

Para Jean Baudrillard já não temos tempo de buscar uma identidade nos arquivos, na memória, nem num projeto ou no futuro. Precisamos de uma memória instantânea, de uma ligação imediata, espécie de identidade publicitária que possa acontecer no mesmo instante.

“Assim, o que se busca hoje não é tanto a saúde, que é um estado de equilíbrio orgânico, mas um brilho efêmero, higiênico e publicitário do corpo – bem mais uma performance do que um estado ideal. Assim se prolifera nas redes sócias a onda fitness, com suas imagens de vida saudável e barrigas tanquinhos. Em termos de moda e de aparência, esses movimentos buscam não tanto a beleza ou a sedução, e sim, o visual.”

Visual é aquilo relativo à visão, obtido ou mantido através dela. O que é realizado apenas com o sentido da visão ou com sua ajuda, isto é, aquilo que é efeito de imagens mentais expressivas, imagens que atualmente se multiplicam por todos os cantos.

Baudrillard, explica que cada um procura seu visual, imagético. Como já não é possível achar argumento na própria existência, só resta fazer um ato de aparência sem preocupação de ser, nem mesmo de ser olhado. Não se trata de “existo, estou aqui “, mais de:  “sou visível, sou  imagem –  visual, visual!, “Não sou mais um perdido na multidão, totalmente invisível, sou especial, existo e tenho uma vida divertida, vejam só meu Instagram…”

Já nem é narcisismo, explica ele, é uma extroversão sem profundidade, um tipo de ingenuidade publicitária em que cada um torna-se  empresário da própria aparência.

Assim assistimos a explosão de blogs, vídeos e redes sociais em que a imagem é o centro, não mais, o conteúdo,  uma aptidão, ou qualquer outro diferencial, mas sobretudo  a imagem, um visual que procura seu espaço.  É como se libertasse de sua ideia original.

Quando as coisas, os signos, as ações são libertadas de sua ideia, de seu conceito, de sua essência, de seu valor, de sua referência, de sua origem e de sua finalidade, entram então numa auto-reprodução ao infinito. As coisas continuam a funcionar ao passo que a ideia delas já desapareceu há muito.  Continuam a funcionar na indiferença total ao seu próprio conteúdo, diz Jean Baudrillard.

No caso da Kim Kardashian, talvez tenhamos inveja, inveja porque libertada de uma ideia de valor, pode ser apenas ela, ou um visual, uma imagem  que se multiplica indefinidamente nas redes sociais e meios de comunicação, como um meme. Não precisa ser culta, nem especialista em alguma coisa, apenas uma imagem bem produzida e bem administrada, para continuar virando meme.

Memes são ideias que se espalham, podem ser vídeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo uma palavra, uma frase ou pessoa que acaba por se tornar uma celebridade, de tão conhecida que fica. Este meme pode se difundir de pessoa para pessoa através das redes sociais, blogs, e-mails, fontes de notícias e outros serviços baseados na web tornando-se geralmente viral. Assim aconteceu com Kim, que virou um grande Hit da internet.

A mente é presa fácil e algumas ideias são como parasitas: esquemas mentais que se propagam em benefício deles próprios. Não são ideias que temos, são ideias que nos têm!


Nada faz sucesso à toa e com Kim Kardashian, não é diferente, ela traduz nosso momento, tanto em relação a imagem turbinada, já que somos a sociedade da prótese, eem relação ao estilo de vida, tendoseu visual  exaustivamente replicado na internet e em outros meios de comunicação

Muitos se perguntam, “mas o que tem Kim, além de uma bunda enorme?” ou “ter protagonizado um sex tape que virou febre na internet”?

“Como os barrocos, somos criaturas ávidas por imagens, embora secretamente sejamos como iconoclastas. Não desses que destroem imagens, mais desses que fabricam uma profusão de imagens em que não há nada pra ser visto.

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A maioria das imagens contemporâneas, vídeo, pintura, artes plásticas, audiovisual, imagens de síntese, é literalmente imagens em que não há nada pra ser visto, imagem sem vestígios, sem sombra, sem consequências.

O que se pressente é que, por trás de cada uma, algo desapareceu. Elas são apenas isto: o vestígio de algo que desapareceu. O que nos fascina num quadro monocromático é ausência maravilhosa de qualquer forma. É o apagamento – ainda sobre forma de arte — de toda sintaxe estética, assim como que o nos fascina no transexual é o apagamento, ainda sob forma de espetáculo, da diferença sexual.”

“Essas imagens não escondem nada, não revelam nada e tem de certa forma, uma intensidade negativa. Um dos poucos benefício de uma lata de sopa Campbell de Andy Warhol (mas ele é imenso) consiste em não mais se colocar a questão do belo e do feio, do real ou do irreal, da transcendência ou da imanência”, reflete Baudrillard.

Assim acontece com Kim Kardashian, ou com alguns blogueiros, ou com a Geisy Arruda, que de algum modo, consciente ou não, conseguiram fazer com que suas imagens se proliferassem na internet e justamente por não terem um talento específico, conseguiram ser personalidades famosas, apenas por serem elas mesmas.

Como deduz Baudrillard: “livre do verdadeiro Mondrian, você pode fazer algo mais Mondrian que Mondrian. Livre do real, você pode fazer algo mais real que o real: o hiper-real. Aliás, foi com o hiper-realismo e com a pop-arte que tudo começou, pela elevação da vida cotidiana à potência irônica do realismo fotográfico. Hoje essa escalada engloba todas as formas de arte e todos os estilos sem distinção.”

“Procuramos apenas o máximo de reprodução, fugindo de qualquer organização simbólica, sem nenhum objetivo transcendente, na pura promiscuidade consigo mesmo. Mas as consequências dessa dissociação podem ser fatais. Pois qualquer coisa que perca a própria ideia, é como o homem que perdeu a sombra – cai num delírio em que se perde e mergulha no vazio, na angústia de saber verdadeiramente quem é?

O que leva cada vez mais gente a se perguntar: “Onde está minha vontade própria?”, “ O que quero de fato e o que tenho direito de esperar de mim mesmo”, “ Sou um homem ou clone virtual?”…

Esse é o resultado de toda a liberação, de toda revolução: passado o encantamento, começam  a indeterminação, a angústia e a confusão.”

Mas o lado bom, é que a história da humanidade é feita de grandes ciclos, estamos vivendo um período TRANSITÓRIO, onde tudo é LÍQUIDO. Velhos códigos e mandamentos tornaram-se inúteis e novos padrões ainda não estão assentados. Este é, portanto, um período onde grandes mudanças podem ocorrer, novos rumos podem ser tomados e toda a humanidade está se dando conta disso.

Agora é hora de definir novos padrões e esta busca ficou bem clara na enorme variedade de tendências e experimentações, inclusive de estilos de vida.

Nesses períodos, novos formatos, novas profissões e novas formas de viver podem ser criadas, e até novas formas de ficar famosa, como nos mostrou a trajetória de Kim Kardashian, que de forma espontânea traduziu este momento. Vida longa a Kim.

Veja fotos da coleção Kim Kardashian para C&A

O hit da parceria são as saias lápis e os top cropped, que dentro da cartela de cores é possível fazer vários looks e combinações. Bodies sensuais, com modelos repletos de recortes e transparência. Já a sandália metalizada e os escarpins com salto pino em preto e nude são perfeitos para as festas.

São cerca de 20 modelos que chegam às lojas em 21/05, com preços entre R$ 25,90 e R$ 189. Alguns já estão disponíveis no e-commerce da marca!

Fotos: Estadão e GE

Por Denise Pitta baseado no livro Transparência do Mal

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Denise Pitta: Denise Pitta é digital influencer e empreendedora. Uma das primeiras blogueiras de moda do país, é idealizadora do Fashion Bubbles, e também CEO do portal que já recebeu mais de 110 milhões de visitas. Estilista, formada em Moda e Artes Plásticas, atuou em diversas confecções e teve marca própria de lingeries, a Lility. Começou o blog em Janeiro de 2006 e atualmente desenvolve pesquisas de Moda Simbólica, História e Identidade Brasileira na Moda e Inovação. Além de prestar consultoria em novos negócios para Internet. É apaixonada por filosofia, física quântica, psicanálise e política. Siga Denise no Instagram: @denisepitta e @fashionbubblesoficial
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