Maria Thereza Goulart jovem. Fonte: Folha Vitoria.
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Maria Thereza Goulart, a primeira-dama do país e da moda brasileira

Tendo se tornado um ícone da moda nacional, conheça a história de Maria Thereza Goulart, considerada a primeira-dama mais bonita e elegante que o Brasil já teve.

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A valorização da arte, da cultura e da moda nacional tiveram um papel de destaque no processo de consolidação da identidade brasileira. Conheça o envolvimento de Maria Thereza Goulart nesse contexto, e veja como a jovem e esbelta primeira-dama ajudou a promover a moda de luxo feita no Brasil.

 

Maria Thereza Goulart.
Maria Thereza Goulart. Fonte: Aventuras na História.

 

A moda nacional

 

A moda usada no Brasil, nos seus pouco mais de 500 anos, foi quase toda um espelho da moda europeia. Entretanto, desde meados do século XX que a moda nacional começou a ganhar corpo e espaço. Entre estilistas famosos e personalidades, o novo estilo brasileiro foi aos poucos sendo promovido, caindo de vez no gosto popular a partir da década de 60.

Seja como for, em uma altura onde já havia uma forte indústria nacional, contando inclusive com a produção de tecnologia e de carros, a moda genuinamente brasileira seguia engatinhando. Assim, nesse cenário, começaram a aparecer figuras carismáticas e marcantes que mudariam de vez o rumo do setor.

 

A primeira-dama Maria Thereza Goulart

“Eu me dei conta que era a primeira-dama quando o avião da Varig pousou em Brasília. Fiquei apavorada.” (Maria Thereza Goulart).

Nascida em São Borja, no Rio Grande do Sul, no dia 23 de agosto de 1936, Maria Thereza conheceu João Goulart (1919-1976), o Jango, ainda menor de idade, aos 14 anos – ele, na época, tinha 31. Os dois eram vizinhos. João Goulart, que nessa época já possuía fortes relações com o então presidente Getúlio Vargas, era Ministro do Trabalho quando Maria Thereza terminou os seus estudos e os dois puderam de fato começar o seu relacionamento.

 

Casamento de João Goulart e Maria Thereza.
Casamento de João Goulart e Maria Thereza. Fonte: O Globo.

 

O casamento aconteceu no dia 26 de abril de 1955. O casal teve dois filhos, João Vicente Goulart, nascido em 22 de novembro de 1956 (ex-deputado estadual), e Denize Goulart, nascida no dia 29 de novembro de 1957 (historiadora).

 

João Goulart e Maria Thereza Goulart com o filho recém-nascido, em 1956.
João Goulart e Maria Thereza Goulart com o filho recém-nascido, em 1956. Crédito: Flávio Damn / O Cruzeiro. Fonte: Arquivo EM.

 

Assim, quando em 1956 Jango foi eleito vice-presidente de Juscelino Kubitschek (1902-1976), Maria Thereza ascendeu no cenário político do Brasil como uma segunda-dama jovem e reconhecida pela sua estonteante beleza.

 

Maria Thereza e João Goulart, em 1953.
Maria Thereza e João Goulart, em 1953. Foto: Arquivo pessoal / O Globo.

 

  •  Para saber mais sobre a vida da primeira-dama, leia WILLIAM, Wagner. Uma Mulher Vestida de Silêncio — A Biografia de Maria Thereza Goulart, 2009.

Visita aos Estados Unidos

 

Pouco depois, em 30 de abril de 1956, Maria Thereza e Jango fizeram uma viagem oficial aos Estados Unidos por convite do então vice-presidente norte-americano Richard Nixon (1913-1994). Em território americano, eles foram recebidos por Nixon e pela segunda-dama Pat Nixon (1912-1993), além do Secretário de Estado John Foster Dulles.

 

Visita de João Goulart e Maria Thereza Goulart aos Estados Unidos, em 1956.
Visita de João Goulart e Maria Thereza aos Estados Unidos, em 1956. Fonte: Wikimedia commons.

 

A primeira-dama 

 

Por fim, com a renúncia de Jânio Quadros (1917-1992) à presidência da república em 1961, Jango, o seu vice, foi empossado como presidente. Dessa maneira, a sua esposa, Maria Thereza Fontella Goulart, que na altura estava na Espanha com os seus dois filhos, se tornou primeira-dama com apenas 23 anos.

A partir de então, ela ganharia uma enorme projeção no país.

Nessa mesma altura, muitos brasileiros acompanhavam a saga da também jovem e elegante first-lady dos Estados Unidos, Jacqueline Kennedy (1929-1994). Com ampla cobertura da mídia internacional e muitas viagens pelo mundo, Jackie era conhecida por desfilar com uma classe inigualável os modelos dos mais renomados estilistas americanos.

 

Jacqueline Kennedy na Casa Branca, 1962.
Jacqueline Kennedy na Casa Branca, 1962. Crédito: Robert Knudsen. Fonte: Wikimedia commons.

 

Pelas suas semelhanças físicas e estilo, a ascensão de Maria Thereza Goulart como primeira-dama inflamou as comparações entre as duas – com alguma vantagem para a brasileira, que era oito anos mais jovem. Assim, espelhada em Jackie, o seu interesse pela alta-costura e o futuro favoritismo pela moda nacional ganhavam ainda mais sentido.

 

Maria Thereza Goulart, 1961.
Maria Thereza Goulart, 1961. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons.

 

 

A imprensa ao redor de Maria Thereza Goulart

 

Ou seja, o encanto de Maria Thereza conquistou de vez a imprensa, fazendo com que a jovem tivesse um alto valor midiático. Entretanto, isso se dava não apenas pelo seu charme e beleza, como também pelo papel que representava como mulher, esposa e mãe dedicada – então entendidos como o ideal feminino da época.

 

Jango e Maria Thereza na Central do Brasil.
Jango e Maria Thereza na Central do Brasil. Fonte: Wikimedia commons.

 

Discreta e reservada, ela não era de se manifestar muito. Ainda assim, pela sua aparência chamativa, as suas fotos e notícias impulsionavam a venda de jornais e revistas. Nesse sentido, mesmo a festa de aniversário de um de seus filhos era um acontecimento a ser coberto pelos jornalistas.

 

Maria Thereza Goulart de férias com a família em uma reportagem na revista O Cruzeiro, de1964.
Maria Thereza Goulart de férias com a família em uma reportagem na revista O Cruzeiro, de1964. Fonte: Vitrine Capixaba.

 

Ainda que tenham sido poucos os anos em que esteve na posição, a primeira-dama atraiu a atenção nacional e internacional. E, com a sua ajuda, a moda de luxo do Brasil foi alçada  ao mais alto patamar.

 

Na lista das mulheres mais elegantes do seu tempo

 

Vindo a ter Dener Pamplona de Abreu (1937-1978) como seu costureiro oficial, Maria Thereza foi considerada por muitos como uma das mulheres mais elegantes do período.

Nesse sentido, em 1963 o seu nome figurava na lista das dez mulheres mais elegantes do Brasil eleita pelo colunista Jacinto de Thormes da revista O Cruzeiro, pseudônimo do jornalista Maneco Muller (1923-2005).

 

Maria Thereza Goulart na revista O Cruzeiro, em 1964.
Maria Thereza Goulart na revista O Cruzeiro, em 1964. Fonte: Vitrine Capixaba.

 

Nas páginas das revistas O Cruzeiro e Manchete chegava às mãos da população o sonho da beleza, da elegância e do glamour personificados na figura de Maria Thereza. E o sonho e ideal de felicidade apenas aumentavam.

Assim, a primeira-dama foi por diversas capa de revistas brasileiras como a Manchete, Fatos & Fotos e O Cruzeiro, e internacionalmente pela francesa Paris Match e a alemã Stern.

Além disso, Maria Thereza Goulart foi considerada pela People como uma das primeiras-damas mais bonitas do mundo, além de uma das nove “Belezas Reinantes” pela TIME de 1962.

“A mais espirituosa primeira-dama é Maria Thereza Goulart do Brasil, 27, que se orgulha do seu sangue gaúcho e, quando provocada, pode ser desafiante domo as onças que povoam o seu sul natal. Com pele dourada, traços esculturais,  grandes e provocativos olhos castanhos, a pequena Maria Thereza de cabelos escuros desenha muitos dos seus vestidos tamanho 10, preferindo simples vestidos preto e branco para ocasiões formais”. (TIME, 1962).

 

A visita dos Kennedy

 

Em 1963 surgiu a notícia de que os Kennedy viriam ao Brasil. Ou seja, houve uma grande comoção no país, já que as pessoas começaram a ansiar e vibrar com o possível encontro das duas mais belas primeiras-damas do mundo.

 

Maria Thereza Goulart no palanque de terninho feminino e chapéu.
Maria Thereza Goulart, reprodução do Youtube. Fonte: Hora do Povo.

 

Para que estivesse à altura da ocasião, cogitou-se que Maria Thereza Goulart deveria encomendar novos vestidos ao costureiro francês Jacques Heim. Todavia, houve uma reação contrária.

Nesse sentido, Alik Kostakis, colunista do “Última Hora”, escreveu: “Em nossa opinião, um brasileiro poderia tomar conta do recado. Basta lembrar que todo o guarda-roupa de Jackie é, no momento, de Oleg Cassini, americano, considerado o figurinista oficial da Casa Branca.”

 

Maria Thereza Goulart veste Dener Pamplona.
Maria Thereza Goulart veste Dener Pamplona. Fonte: Mondo Moda.

 

Esse foi mesmo um claro chamado para que a primeira-dama valorizasse e apoiasse com todo afinco a moda nacional. Segundo Carlos Dória, em seu livro “Bordado da Fama, Uma Biografia de Dener”, Maria Thereza Goulart tomou a sério esse chamado e convidou para o Palácio das Laranjeiras o estilista Dener, então em São Paulo, além dos cariocas José Ronaldo e Joãozinho Miranda.

 

Dener Pamplona, estilista de Maria Thereza Goulart

“Acho muito agradável costurar para Maria Teresa: Ela possui medidas perfeitas.” (Dener Pamplona).

A responsabilidade de vestir a primeira-dama mais badalada do Brasil era algo realmente notável. O estilista Dener Pamplona sabia disso melhor do que ninguém. Sendo o escolhido de Maria Thereza, ele então se tornou o seu estilista oficial.

 

 

Maria Thereza Goulart com Dener Pamplona.
Maria Thereza Goulart com Dener Pamplona. Fonte: Facebook Dener Pamplona de Abreu.

 

Entretanto, nesse meio tempo eclodiu a crise dos mísseis soviéticos em Cuba. Como resultado, a visita dos Kennedy não chegou a acontecer.

Ainda assim, Maria Thereza Goulart se tornou o mais importante modelo da moda brasileira em ascensão. Tanto foi assim que Dener Pamplona chegou a dizer: “Hoje a primeira-dama é um fator importante no desenvolvimento da indústria nacional de seu país… E eu gostaria de ter Maria Teresa vestindo sempre Dener”.

 

Desfiles de Dener Pamplona

 

Dener propôs à Maria Theresa que eles realizassem desfiles com as suas criações. Essa era uma inovação da época que havia sido lançada pela Casa Canadá, famosa butique do Rio de Janeiro. O primeiro desfile do estilista, de caráter beneficente, foi apresentado em Brasília, na noite do dia 22 de abril de 1963. No desfile, participaram 98 modelos do costureiro, que aparecia sempre acompanhado pela bela primeira-dama.

 

A primeira-dama Maria Thereza Goulart com a colunista Alik Kostakis, em 1963.
A primeira-dama Maria Thereza Goulart com a colunista Alik Kostakis, em 1963. Fonte: Acervo UH / Folhapress.

 

Dessa forma, vieram convidados de todo o país. Inclusive o bispo de Brasília, dom José Newton, também vibrava assistindo ao desfile. A renda se reverteria para a Legião Brasileira de Assistência, da qual Maria Thereza era presidente de honra, tendo sido a responsável pela fundação da sua sede em Brasília.

Nesse sentido, entusiasmado com os benefícios sociais do evento, o bispo prometeu telefonar ao cardeal de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, solicitando-lhe que apoiasse o próximo desfile que teria lugar na capital paulista. Assim, o desfile seguinte também foi um triunfo!

 

A cobertura da mídia sobre Dener e Maria Thereza Goulart

 

No dia 23 de abril, Maria Thereza, deliciada, lia no jornal: “Pela primeira vez em nossa história, a esposa do Presidente prestigia oficialmente um criador de moda brasileira. E posso afirmar que Dener merece realmente esse privilégio, pois os modelos exibidos são de categoria internacional.”

 

Maria Thereza Goulart.
Maria Thereza Goulart. Fonte: GPS Lifetime.

 

Aproveitando o momento, logo em seguida, em maio, Dener atendeu ao convite da primeira-dama e foi a Brasília. O objetivo foi então tratar dos modelos de sua coleção de inverno. Bom, outros episódios se seguiram, consolidando no imaginário nacional Maria Thereza Goulart como um verdadeiro ícone da moda brasileira.

Afinal, a moda vinha a complementar a promessa do charme, da magia e da beleza associados ao encantamento do amor e do romance. E a primeira-dama exprimia todos esses elementos.

Entretanto, as coisas não ficariam tão tranquilas por muito mais tempo.

 

Golpe e exílio

“Minha vida é cheia de surpresas, tudo que aconteceu comigo foi de repente.” (Maria Thereza Goulart, O Globo).

Os anos 60 foram mesmo tumultuados. Afinal, há muito tempo que os céus da política brasileira se enchiam de sombras, até que a tormenta se precipitou no dia 31 de abril de 1964, com o golpe militar que tirou Jango do poder. Desde então, a família presidencial foi forçada ao exílio no Uruguai.

 

Capa da revista Paris Match com Maria Thereza Goulart.
Capa da revista Paris Match com Maria Thereza Goulart. Fonte: Café Machado.

 

Assim, de maneira súbita, Maria Thereza Goulart saía do cenário nacional. Seja como for, a sua rápida passagem pela moda brasileira teve um brilho permanente, que revelou ao Brasil o seu potencial como criador de moda com elementos nacionais, de qualidade e elegância.

 

Novos tempos

 

Maria Thereza com Jango e os filhos, na fazenda da família.
Maria Thereza com Jango e os filhos, na fazenda da família. Crédito: Jáder Neves/ Instituto João Goulart / Divulgação.

 

Como resultado do impetuoso golpe, eles mal tiveram tempo de fazer as malas. Assim, como descrito por Maria Thereza em uma entrevista sobe o exílio ao Aventuras na História, “… os meus pertences sumiram todos: carro, joias, roupas… Viajei com meus filhos para o exílio com pouco mais que a roupa do corpo. Perdi tudo, nunca mais tive notícia de nada.” Ou seja, ela perdeu o  seu armário cheio de modelos de Dener Pamplona para sempre.

Maria Thereza Goulart voltaria ao Brasil no dia 6 de dezembro de 1976, para enterrar o seu marido. Por fim, voltaria a viver no país em 1980.

Apesar do seu desfecho, o encantamento da jovem e bela primeira-dama, que simbolizava toda a magia que a moda desperta, terá sempre lugar de honra na história da moda brasileira.

 

Por Ignez Pitta.

Revisado e editado por Mariana Boscariol.

 

 

 

* Artigo originalmente publicado em 2007.

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Dener com uma de suas esposas

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