A moda hiperindividual

Jovens de Tóquio vivem uma nova relação com as roupas

Só depois de uma visita a Tóquio fica evidente a idéia muito propagada de que a moda é um dos elementos culturais mais fortes da atualidade. Não tanto pelo imenso número de grifes e lojas que a capital japonesa possui, mas pela relação que boa parte dos habitantes dessa cidade de quase 35 milhões de pessoas estabelece com as roupas, sobretudo os mais jovens.

Em Tóquio, porém, é preciso rever o conceito dominante de moda. Lá, o ato de vestir se transformou num ato de criação -muito pessoal e elaborado. Assim, a moda como simples comprometimento com as tendências deixou de vigorar. O que se vê nas ruas é uma releitura individual e incessante dos estilos vigentes no momento.

Rapazes e garotas sobrepõem peças e acessórios como se o traje fosse um jogo complexo, no qual contam tanto elementos do presente quanto os do passado, tanto as roupas de luxo como as mais baratas, tanto o que é tendência quanto o que caiu em desuso. O que faz a novidade é a ousadia e a independência em relação às regras.

A vontade de se distinguir socialmente por meio da roupa foi elevada a uma dimensão absoluta -hiperindividualista-, em que não interessa nem mesmo definir a classe social a que se pertence, mas parecer um caso único, sem rótulo possível.

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Ao mesmo tempo, como reação, grupos de jovens se reúnem no bairro de Harajuku trajados uns iguais aos outros, como se a roupa definisse um clã, seja de punks, de grunges ou de “lolitas góticas” -que se vestem como menininhas mimadas e sensuais.
Nessa sociedade muito afeiçoada aos signos, como disse Barthes, e bastante sensível à aparência e à beleza -seja da comida, seja do gesto-, também fica clara a idéia de que a moda atualmente extravasa a questão do vestir e se imiscui com as artes e a arquitetura.
Para ter uma idéia, Prada, Tod’s, Dior e outras grifes construíram lojas em Tóquio que já se tornaram referências para a arquitetura contemporânea. Hoje, são pontos turísticos tão relevantes quanto os velhos templos budistas.

(Fonte: Folha de São Paulo, 30/3/2007, Última Moda – Alcino Leite Neto – ultima.moda@folha.com.br)

Já tínhamos escrito a mesma coisa aqui, quando visitamos Tokyo em 2006:

O que mais me impressionou nas ruas de Tóquio foi a diversidade da moda japonesa. Esquece aquela coisa chapinha-top/batinha-calça jeans que virou a moda brasileira, cada pessoa procura o seu estilo próprio.

Numa rodinha de quatro, cinco garotas, cada uma tem um estilo: uma de twin-set, tipo mini-executiva; a outra de colegial, com as meias pretas até o joelho; e outra meio punk… O repertório é imenso.

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