O Duelo Chanel-Courèges

Em 1967 Roland Barthes, sociólogo e filósofo francês escreveu um artigo intitulado O Duelo Chanel – Courrèges para a revista Marie Claire francesa. Barthes sempre…

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Em 1967 Roland Barthes, sociólogo e filósofo francês escreveu um artigo intitulado O Duelo Chanel – Courrèges para a revista Marie Claire francesa. Barthes sempre se interessou pela linguagem visual, sua contribuição para a moda foi muito importante, pois elevou o assunto ao interesse acadêmico..

O texto é uma reflexão através do olhar de Barthes, nos anos 60, sobre estes dois estilistas que fizeram história. Segundo ele, Coco Chanel deveria ser encontrada nos livros, entre os autores da literatura clássica. “Chanel não escreve com papel e tinta, mas com tecidos, formas e cores. Chanel acumula todos os valores da ordem clássica como razão, naturalidade, permanência, prazer em agradar em não surpreender”.

Uma referência clara à arte Clássica (civilização grega e romana). Podemos dizer que ele define a marca Chanel como tudo que não sai de moda, que continua sendo de boa qualidade, mantém os seus valores, é tradicional, sóbria e tem tendência em agradar a todos.

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Apartamento de Chanel

“ Eu criei um estilo para um mundo inteiro. Vê-se em todas as lojas “estilo Chanel”. Não há nada que se assemelhe. Sou escrava do meu estilo. Um estilo não sai da moda; Chanel não sai da moda.”
Coco Chanel

Na visão de Barthes, o extremo oposto aos ideais de beleza clássica de Chanel foi o futurismo de Courreges, espírito inovador absoluto: jovem tempestuoso, louco por esporte, amante do ritmo, Courrèges, em 1965 introduziu o estilo curto e estruturado, criou uma moda que livra as mulheres dos saltos altos, das roupas apertadas das ancas, apresentando um traje estruturado que permite a liberdade de movimentos. A minissaia já aparece em 1963 na Inglaterra, mas foi ele quem conseguiu dar-lhe estilo próprio, consagrando esta peça como protótipo de moda para as garotas, com suas referências colegiais e valores juvenis.

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Courrèges

Barthes diz que: “isso quer dizer que há em todos a impressão de que algo importante separa Chanel e Courrèges s – algo talvez mais profundo que moda, ou que pelo menos algo que a moda traz à tona ”
Continua:” A cada ano a moda destrói o que acaba de adorar, adora o que acaba de destruir …Nas peças de Chanel havia uma beleza “eterna” da mulher.“
A estilista rejeitava os materiais perecíveis, suas peças tinham uma qualidade preciosa. O chic da Chanel tinha horror à aparência do novo, como por exemplo, na época o uso de vinil. Conclui que: as idéias de Chanel contestavam a própria idéia de moda, negava o conceito de efemeridade das coleções.

Já os modelos de Courrèges, eram muito frescos, divertidos, coloridos, predominando o branco o novo absoluto.. “de Chanel a Courrèges a “ gramática” dos tempos muda: o chique inalterável de Chanel nos diz que a mulher já viveu (e soube viver), o novo obstinado de Courrèges que ela vai viver.”

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Courrèges

Estas reflexões de Barthes são de 1967, será que hoje ele pensaria da mesma forma? Fazendo um recorte, sem a pretensão de analisar toda a trajetória da Chanel, se observarmos os últimos desfiles da marca – Fall 2008 e Resort 2009 (nas mãos de Karl Otto Lagerfeld) o clássico aparece sim no consagrado tailleur Chanel, mas… também passeiam pela coleção materiais tecnológicos, looks jovens, vejam o vinil, as saias curtíssimas tudo que Chanel nunca deve ter imaginado apresentar na sua coleção !

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Chanel Fall 2008 – vinil
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Chanel Fall 2008 – tecido encerado / Chanel Fall 2008 – curtíssimo

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Chanel Fall 2008 – muito jovem / Chanel Resort 2009 – mini shorts com pregas colegiais

Será que Barthes diria que Courrèges triunfou neste duelo?

Fonte:
BARTHES, Roland. Inéditos vol.3 Imagem e Moda. São Paulo: Martins Fontes, 2005

Fotos:

www.style.com

http://www.telegraph.co.uk/fashion/main.jhtml?xml=/fashion/2008/02/27/pixchanel127.xml

Por Alessandra Janaudis Gimenez

(Alessandra Janaudis Gimenez é pós-graduada em Ciências do Consumo pela ESPM, atualmente cursa pós em Moda e Criação na Santa Marcelina, atua na área têxtil há 7 anos com passagens pela Cia Hering, Vicunha e Rosset. Hoje faz parte do time de compras da Adar Millenium – importadora de tecidos para o mercado de moda. E-mail: [email protected] .)

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