Zuzu Angel em close nos anos 60.

Zuzu Angel: a estilista que usou a moda para enfrentar a Ditadura Militar

Conheça a vida e obra de Zuzu Angel, a estilista brasileira que explorou a moda para protestar e desafiar a Ditadura Militar no Brasil

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Quando falamos do surgimento e consolidação de uma moda de fato brasileira não há como não referir o nome da estilista mineira Zuzu Angel (1921-1976).

Em seguida, conheça mais detalhes sobre a sua trajetória e trabalho para entender o porquê dela continuar a ser um dos grandes ícones da história recente do Brasil.

 

Quem foi Zuzu Angel?

 

Zuzu Angel durante o lançamento de sua coleção em Nova York, 1972.
Zuzu Angel no lançamento de sua coleção em Nova York, 1972. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons.

 

Com um larga experiência como costureira, um gosto especial pelas cores e o estilo do Brasil, além de uma firmeza de caráter muito particular, Zuzu marcou toda uma geração. Ela foi, assim, não apenas um verdadeiro ícone da brasilidade na moda como também da busca pela democracia no país.

Afinal, nesse ano se completaram 50 anos desde a morte de seu filho, Stuart Angel (1946-1971). Essa foi a tragédia que marcou profundamente os últimos anos da sua vida, incluindo as suas criações como estilista.

Desse modo, Zuzu Angel fez história como símbolo da luta pela redemocratização no Brasil ao usar a moda como ferramenta de crítica e oposição à ditadura militar.

Como temos explorado aqui no Fashion Bubbles, a história da moda brasileira se desenvolveu a partir do trabalho de diferentes instituições e personalidades. Assim, acompanhando mais de perto essa evolução, conheça um pouco mais sobre a história, estilo e atuação de Zuzu Angel no cenário da moda brasileiro.

 

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Zuzu Angel: da infância à vida adulta

 

Zuleika de Souza Netto nasceu na cidade mineira de Curvelo, no dia 5 de junho de 1921. Vinda de uma família de poucos recursos, ela se mudou ainda menina para Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais.

Foi lá que, então um pouco mais crescida, começou a ajudar a mãe com os seus trabalhos de costura. Nesse meio tempo, já com alguma técnica, Zuzu passou a criar modelos para as suas bonecas e primas.

 

Norman Angel Jones e Zuzu Angel e os filhos.
Norman Angel Jones e Zuzu Angel com os filhos. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

Posteriormente, ela se mudou outra vez com a família, dessa vez para Salvador, na Bahia. Foi na capital baiana que Zuzu passou a sua adolescência e juventude, tendo absorvido muito da rica cultura regional, que depois acabaria por incorporar na sua moda.

Em 1939, ela se mudou para o Rio de Janeiro, a então capital nacional – onde veio a morar, com muitas idas e vindas, até a sua morte, em 1976.

Logo no ano seguinte, em 1940, conheceu o americano Norman Angel Jones, com quem veio a se casar poucos anos depois.

 

 

O Casamento

 

Zuzu conheceu Norman em uma de suas viagens de visita aos pais em Belo Horizonte. A amizade que construíram virou uma relação amorosa, que evoluiu para o seu casamento em 1943.

A partir dessa data, já com o nome de Zuzu Angel, ela se estabeleceu em Belo Horizonte com o marido.

Contudo, depois de dois anos na capital mineira, os dois decidiram por se mudar para o Rio de Janeiro. Demorou um pouco mais de tempo para que se fixassem na cidade, já que após poucos meses eles ainda foram viver em Salvador.

 

Zuzu Angel com seus filhos, Hildegard, Ana Cristina e Stuart.
Zuzu Angel com seus filhos, Hildegard, Ana Cristina e Stuart. Fonte: Memórias da Ditadura.

 

Foi na Bahia que Zuzu teve o seu primeiro filho, em 1947, a quem deu o nome de Stuart Angel Jones. No ano seguinte, retornaram e finalmente se fixaram no Rio de Janeiro.

A segunda filha, Hildegard Angel Jones, nasceu em 1949, seguida por Ana Cristina Angel Jones, em 1952.

Por fim, em 1960 Zuzu e Norman Angel se divorciaram. Apesar da separação, ela continuou a utilizar o nome de casada, Angel Jones, como seu nome artístico.

 

 

O Início da Carreira de Zuzu Angel

“ Eu sou a moda brasileira.” (Zuzu Angel).

 

Zuzu, que em Minas Gerais já fazia roupas para ela mesma e para suas primas, começou a trabalhar profissionalmente como costureira apenas em meados dos anos 50.

Já quando havia ido viver sozinha no Rio de Janeiro ela tinha começado a trabalhar costurando por conta própria. Com o tempo, acabou por conseguir um emprego de costureira em um ateliê de moda.

Todavia, o seu trabalho como estilista independente só desabrocharia mesmo a partir da década de 50.

 

Zuzu Angel.
Zuzu Angel. Fonte: Ebiografia.

 

Antes de mais nada, essa era uma época muito propícia. Afinal, nesse período se vivia a difusão e crescimento dos desfiles de moda no país, eventos que, criados pela diretora da Casa Canadá Mena Fiala, causavam verdadeiro furor entre o público e a mídia.

Dessa maneira, Zuzu Angel viveu no Rio de Janeiro o crescimento do setor da moda, que contava com a diversificação da indústria têxtil; com uma procura por produtos nacionais e feitos com um toque mais brasileiro; além da ascensão de novos e inovadores costureiros, como Dener Pamplona e Clodovil Hernandes.

Assim, nos anos 50, a estilista passou a desenhar os seus próprios modelos de roupas. Todavia, ainda os produzia para um círculo pequeno de familiares e amigos próximos.

 

Estudo para estampa em papel imagem.
Estudo para estampa em papel imagem. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

  • ZUZU Angel. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021.

 

Inovações de Zuzu Angel

“Em nossas tradições existe vitalidade suficiente para a permanência de uma moda que expresse a maneira de ser de nosso povo… As festas populares brasileiras podem inspirar numerosas formas de arte, na pintura, na escultura e na moda”. (Zuzu Angel, Facebook Instituto Zuzu Angel).

 

Matéria sobre Zuzu Angel na Revista Manchete, em março de 1971.
Matéria sobre Zuzu Angel na Revista Manchete, em março de 1971. Fonte: Facebook Instituto Zuzu Angel.

 

Acima de tudo, Zuzu é considerada por muitos como a pioneira no uso de um estilo de fato mais brasileiro na moda. Nesse sentido, é ela a principal referência no que diz respeito à identidade nacional traduzida para as roupas (Catálogo “Zuleika”, Itaú Cultural, Abril de 2014).

Além disso, a estilista também trouxe um novo conceito de roupas: muito mais práticas e funcionais. Foi nesse sentido que colaborou para a criação de novos tecidos, como o Polybel (algodão e poliéster).

Por último, mas não menos importante, ela também foi a primeira estilista brasileira a entrar no mercado fashion dos Estados Unidos.

 

Matéria sobre Zuzu Angel na Revista Manchete, em março de 1971.
Matéria sobre Zuzu Angel na Revista Manchete, em março de 1971. Fonte: Facebook Instituto Zuzu Angel.

 

  • Catálogo da exposição Ocupação Zuzu: Zuleika, Itaú Cultural, ano 1, nº 1, Abril de 2014.

 

Zuzu Angel nos anos 70

 

Em 1966, a estilista lançou a coleção Soignée, no 2º Salão de Moda da Feira Brasileira do Atlântico, e em 1967 a coleção Fashion and Freedom, no Copacabana Palace.

Desde então, Zuzu também se projetou para fora do país, tendo participado inclusive de desfiles bem avaliados no exterior.

 

Desfile da coleção de Zuzu Angel Fashion and Freedom, 1967.
Desfile da coleção Fashion and Freedom, 1967. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

Além disso, foi apenas no início dos anos 70, já contando muitos anos de experiência como costureira e também estilista de moda, que Zuzu Angel decidiu investir em uma loja própria.

Com a ajuda de amigos importantes e muito trabalho, a sua loja, que se encontrava em Ipanema, fez muito sucesso.

Em 1970, ela lançou a sua primeira coleção nos EUA, chamada de International Dateline Collection. Os modelos da estilista fizeram tanto sucesso que não muito depois passaram a ser expostos na vitrine da loja de departamentos Bergdorf Goodman – nada mesmo que na famosa Fifth Avenue de Nova York!

Com um toque claramente brasileiro, Zuzu explorava em suas criações o uso da renda, de fitas, e da chita, que eram então adornados com temas regionais e do folclore nacional, inclusive contando com pedras e conchas.

 

Desfile de Zuzu Angel da coleção International Dateline IV, The Helpless Angel, de 1972.
Desfile International Dateline Collection IV, The Helpless Angel, de 1972. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

Stuart Angel e a Ditadura Militar

 

“Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade.” (Zuzu Angel, Memórias da Ditadura).

 

Stuart Angel.
Stuart Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

No final dos anos 60 o filho de Zuzu Angel, Stuart, se ligou ao grupo guerrilheiro MR-8, então em atividade no Rio de Janeiro. Acima de tudo, o objetivo dos seus membros era fazer frente e acabar com a Ditadura Militar.

Afinal, em 1964 se havia instaurado o Golpe Militar, que deu início à uma ditadura autoritária que apenas se endureceu ainda mais com a publicação do Ato Institucional 5 (AI 5), em 1968.

O jovem, que então era estudante de economia, foi preso no dia 14 de abril de 1971. Stuart foi torturado e assassinado no Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) do aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro. Entretanto, para dissimular o ocorrido, as autoridades ainda o davam como procurado e desaparecido.

Desde o seu desaparecimento, e ainda que a sua morte não tivesse sido oficialmente reconhecida, Zuzu Angel iniciou uma luta incansável para denunciar o crime cometido pelos militares e por fim recuperar o corpo do filho.

 

 

Zuzu Angel, a Arte como Protesto

 

“No dia seguinte os jornais falaram do meu desfile destacando aquilo que eu mais queria, ‘Designer de moda pede pelo filho desaparecido’. Contaram o caso do meu filho e descreveram a roupa de mais impacto, em que substituí pássaros, borboletas e flores por símbolos guerreiros.” (Zuzu Angel, Memórias da Ditadura).

 

Página do catálogo da exposição Ocupação Zuzu, chamado Zuleika.
Página do catálogo da exposição Ocupação Zuzu, chamado Zuleika. Fonte: Itaú Cultural.

 

O apelo de Zuzu Angel chegou a ser ouvido inclusive fora do país, já que foi nessa mesma altura em que a estilista começou a conquistar algum espaço no mercado americano.

Assim, fazendo jus a ideia de que a arte tem um papel social e político muito importante, Zuzu usou as suas coleções para denunciar o regime então em vigor no Brasil. Dentre os símbolos explorados pela designer de moda (termo que ajudou a difundir) estavam policiais, canhões, manchas vermelhas e pássaros engaiolados.

Além disso, um anjo ferido se tornou um elemento comum do seu trabalho. Ele representava justamente o seu filho, Stuart Angel.

 

Zuzu Angel de luto a se preparar para um desfile.
Zuzu Angel de luto a se preparar para um desfile. Fonte: Memórias da Ditadura.

 

 

Desfile-Protesto

 

Ainda em setembro de 1971, Zuzu Angel realizou um desfile-protesto nada mesmo do que no consulado do Brasil em Nova York. Sendo que o consulado era considerado território brasileiro, ela não pôde ser acusada pelo regime de criticar o país no exterior (o que seria enquadrado como crime).

O evento repercutiu na mídia estrangeira. O The Montreal Star escreveu “Designer de moda pede pelo filho desaparecido”. Por sua vez, pouco depois, o Chicago Tribune trouxe a manchete “A mensagem política de Zuzu está nas suas roupas”.

 

Bordado de um sol enjaulado em um dos vestidos de Zuzu Angel.
Bordado de um sol enjaulado em um dos vestidos de Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

Ou seja, todos eles reconheceram o seu papel como designer de moda e a mensagem política das suas criações. Tendo conquistado amigos e alcançado certo reconhecimento nos EUA, como resultado Zuzu conseguiu cada vez mais apoio à sua causa.

Não por menos, usou desses contatos e da sua exposição para pedir ajudar para recuperar o corpo do filho. Afinal, Stuart Angel também possuía a nacionalidade estadunidense.

Contudo, apesar de todo o seu esforço e resistência implacável, ela nunca pôde reaver e enterrar o corpo do filho. Na época ele era dado como procurado, e até hoje continua como desaparecido político.

 

Trabalho nos EUA

 

“Em setembro de 1971, organizei um desfile de modas em Nova York. Na oportunidade, denunciei o que já sabia a respeito de meu filho, que já havia sido preso (…), torturado e provavelmente assassinado pelo governo militar brasileiro.” (Zuzu Angel, Memórias da Ditadura).

 

Zuzu Angel conquistou muitos e importantes clientes no Rio de Janeiro. Foram esses muitos contatos que a ajudaram a se projetar nos EUA.

Como dito antes, a estilista explorou justamente a brasilidade nos desfiles que promoveu nesse país. Ou seja, ela trouxe as cores e temas alegres próprios da cultura nacional, que ainda eram novidade à época.

 

Modelo da coleção International Dateline Collection, apresentada em Nova York em 1972.
Modelo da coleção International Dateline Collection, apresentada em Nova York em 1972. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Obvious.

 

Dessa maneira, o seu pioneirismo no mercado norte-americano foi ainda mais notável por trazer uma moda inspirada diretamente no Brasil. Além disso, nessa época ainda imperava a alta-costura europeia, principalmente a francesa, e a moda americana não era vista com tão bons olhos.

Neste sentido, Zuzu Angel abriu o mercado americano para os produtores de moda no Brasil. Foi, assim, vitrine de grandes lojas de departamentos, tendo também ganhado importantes editorias nos EUA.

Entretanto, infelizmente a estilista morreu antes de ter podido se tornar um nome de expressão fora do Brasil.

 

O Estilo Zuzu Angel

 

Uma das principais colaborações de Zuzu Angel foi mostrar o poder criativo e empreendedor de uma mulher independente. Até então, a sociedade não considerava que criar moda era uma tarefa feminina.

Afinal, no Brasil e na França predominavam os nomes masculinos. Por exemplo, se destacam em Paris Christian Dior e Cristóbal Balenciaga, e no Brasil Dener Pamplona de Abreu e Clodovil Hernandes.

Em outras palavras, à época a mulher poderia estar sentada na mesa de costura, mas não era a ela dada a honra de ser uma criadora de moda.

 

Elke Maravilha, Coleção Helpless Angel de Zuzu Angel.
Elke Maravilha, Coleção Helpless Angel de Zuzu Angel. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Obvious.

 

Zuzu teve a coragem de mergulhar nesse meio, conseguindo se impor num mercado totalmente dominado por estereótipos. Acima de tudo, o conquistou por sua simplicidade, feminilidade e profundidade de suas criações.

Além disso, antes dos outros costureiros, ela começou um forte trabalho de divulgação da sua marca. Para isso, buscou “assinar” externamente a sua roupa com elementos que logo eram a ela associados.

 

Uma Mulher de Talento e Visionária

 

Zuzu Angel também foi pioneira ao não focar somente nas mulheres da elite socioeconômica nacional. Ou seja, ela queria vestir igualmente a mulher comum, aquela que fazia a sua vida na rua, que andava de transporte público, que ia ao supermercado fazer as compras.

Antes de mais nada, este conceito era então subestimado. Não interessava aos grandes costureiros vestir em grande escala, vestir pessoas que não tinham recursos para frequentar o seu ateliê.

 

Zuzu Angel em seu ateliê de costura.
Zuzu Angel em seu ateliê de costura. Crédito: acervo Instituto Zuzu Angel. Fonte: Itaú Cultural.

 

Desse modo, Zuzu teve uma visão mais abrangente da moda. Foi, portanto, uma pioneira de muitas tendências no país.

O mérito da estilista é avaliado tanto a partir da originalidade de sua postura como do seu trabalho. Pois, acima de tudo, ela era uma mulher de uma firmeza singular, e criava uma moda brasileira e com materiais nacionais que, pela primeira vez, traziam uma linguagem pessoal e cores mais tropicais.

Essa inspiração embebida na cultura própria do Brasil se manteve ao longo de seu trabalho.

 

Zuzu Angel e a Ditadura Militar

 

“Minha mãe passou seus últimos anos de vida juntando fragmentos da memória de meu irmão Stuart, como se através deles quisesse recompor o corpo que não conseguia encontrar para enterrar”, (Hildegard Angel, Memórias da Ditadura).

Após a morte de Stuart, Zuzu assumiu de vez uma posição política. Foi essa luta sem descanso que marcou não apenas o desenvolvimento do seu trabalho, como também o resto da sua vida pessoal.

Afinal, já não havia como dissociar uma coisa da outra. Já não havia como viver como antes.

Desse modo, foi o confronto com o regime militar que marcou os últimos ano da sua carreira. 

 

  • Rezende, Sergio & Bernstein, Marcos. Zuzu Angel – coleção Aplauso Cinema Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.

 

Morte 

 

“Na manhã do dia em que aconteceu o acidente com ela, ela tinha estado lá em casa e deixado as camisetas que ela fazia, gravadas com aqueles anjinhos que eram a marca dela, para as minhas três filhas.” (Chico Buarque, Memórias da Ditadura).

 

Assim, ela nunca abrandou a sua luta por respostas. Em outras palavras, Zuzu apenas parou com a sua morte, na madrugada de 14 de abril de 1976.  Tendo falecido em um acidente de carro na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro, tudo indicava que a sua morte não foi mera tragédia. E, de fato, não foi. 

O carro que Zuzu dirigia perdeu o controle na saída do túnel e saiu da pista, acabando por se chocar e cair na estrada que passava logo abaixo. Ela morreu na hora.

 

Zuzu Angel, 1972.
Zuzu Angel, 1972. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons.

 

A estilista já sabia que estava na mira dos militares.

Não por menos, uma semana antes do acidente, Zuzu deixou na casa de Chico Buarque de Hollanda, de quem era amiga íntima, um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse. Nele, ela escreveu que “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.

Por fim, depois de que a ameaça se tornou um fato consumado, o artista enviou várias cópias da carta de Zuzu à imprensa e outras figuras da época. Entretanto, por conta do poder que os militares ainda tinham, nada chegou a ser publicado.

 

A Luta por Justiça

 

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso de Zuzu Angel sob número de processo 237/96. Por fim, se reconheceu oficialmente que ela era uma pessoa que, “por ter participado, ou por ter sido acusada de participação, em atividades políticas, tenha falecido por causas não-naturais, em dependências policiais ou assemelhadas”.

Além disso, em 2019, Hildegard Angel conseguiu emitir as certidões de óbito tanto de sua mãe como de seu irmão, atestando que se tratou de: “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro”.

 

Legado

 

Cartaz de divulgação da exposição Ocupação Zuzu.
Cartaz de divulgação da exposição Ocupação Zuzu. Fonte: Itaú Cultural.

 

Considerando a importância de Zuzu Angel para a história da redemocratização do país e da consolidação de uma identidade brasileira na moda, ao longo dos anos a estilista foi homenageada em diversas produções artísticas. Dentre elas, estão os seguintes livros, músicas, filme e exposições:

1977 – Em homenagem à estilista, Chico Buarque compôs a música “Angélica”.

1988 – A publicação do romance “Em carne viva”, do escritor José Louzeiro.

1993 – Hildegard Angel, filha de Zuzu, criou o Instituto Zuzu Angel de Moda, no Rio de Janeiro.

2006 – Lançamento do filme Zuzu Angel, do cineasta Sérgio Rezende. Protagonizado por Patrícia Pilar como Zuzu e Daniel de Oliveira como Stuart Angel, o filme trouxe aos cinemas a história da projeção da estilista para fora do país e a sua posterior luta por reaver o corpo de seu filho.

2006 – Exposição “Zuzu Angel – Eu sou a moda brasileira”, no Museu Histórico Nacional (MHN).

2012 – Exposição “Zuzu Angel – Raízes do Brasil Através da Moda”, na Fábrica Santo Thyrso (Santo Tirso, Portugal).

2014 – Ocupação Zuzu, exposição do Itaú Cultural.

 

Por Mariana Boscariol.

 

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