Ex-participantes do BBB 23, Cara de Sapato e MC Guimê.

BBB 23: quais os aprendizados sobre a eliminação de MC Guimê e Cara de Sapato?

A eliminação dos participantes MC Guimê e Cara de Sapato, ao vivo, trouxe vários gatilhos para mulheres que assistiam ao programa e muitos questionamentos para os homens também.

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Assistimos, com perplexidade, os participantes eliminados questionando o que haviam feito de errado e o desespero da visitante Dania Mendez, que se sentiu culpada pela decisão da produção do programa.

Decisão essa, provavelmente, tomada pela pressão do movimento nas redes sociais e por uma maior ainda feita pelos patrocinadores do programa, uma vez que que não querem sua imagem vinculada à conivência de um crime cometido em tempo real e transmitido diversas vezes na mídia, com repercussão internacional.

Em seguida, a terapeuta Camila Custódio, colunista do Fashion Bubbles, explica melhor sobre o acontecimento. Além disso, ela debate sobre os aprendizados que podem ser tirados dessa situação. Continue lendo!

O que pôde ser visto na casa do BBB 23?

MC Guimê e Cara de Sapato, eliminação do BBB 23.
Fonte: Globo

A decisão foi acertada, como já sabemos, mas conduzida da forma que, mais uma vez, expõe a vítima, deixando-a em uma posição muito desconfortável em frente a todos e sobre si mesma.

Dania, quando questionada se estava confortável, responde que sim – com um sorriso amarelo. No entanto, é preciso lembrar que nós, mulheres, aprendemos desde cedo a conviver com o desconforto e acabamos por naturalizá-lo.

Homens naturalizam seus erros e nós naturalizamos, por muito tempo, o desconforto e o constrangimento que o mesmo nos causa. Até que chega um dia em que não dá mais para fazer de conta que nada está acontecendo.

Quando questionada novamente pela produção sobre o comportamento de MC Guimê, Dania afirma que não queria causar nenhum problema com o participante e sua família fora do reality. Embora haja dor e culpa, Dania sucumbiu para que o desconforto não ficasse ainda maior não só para si, mas para todos os envolvidos.

E do lado de fora, como repercutiu a situação?

O mesmo desconforto acontecia fora da casa, com outro reality em paralelo: a movimentação de Lexa, esposa do eliminado, Guimê. Após todo ocorrido, ela optou por se retirar das redes sociais, mas retornou e comunicou que decidiu fretar um jatinho para buscar o marido, conversar com ele e alinhar as coisas.

Ela, nesse momento, começou a ser criticada por ter exposto sua fragilidade na Internet e acusada de espetacularizar sua dor.

Mas ficam as perguntas: o que não é espetacularizado nesse momento? E, ainda, haveria alguma mudança sem toda essa exposição?

O acontecimento como um reflexo da sociedade

Dania e Lexa são mulheres que foram expostas em situações diferentes na sua vulnerabilidade. Elas são vítimas de uma sociedade machista que normalizou os erros masculinos. Quando falo em machismo, falo também, e principalmente, daquele velado presente nas mulheres que, muitas vezes, é tão agressivo quanto o do homem.

Esses homens, por sua vez, também são vítimas dessa mesma sociedade que recentemente vem tentando ensiná-los a serem diferentes, a agir, a pensar e a questionar de maneira distinta.

Porém, precisamos lembrar que esse processo de aprendizado – o qual todos nós estamos submetidos -, não acontece da noite para o dia. É um movimento de desconstrução e construção de um novo normal do masculino, livre de sua toxicidade, do qual homens e mulheres precisam aprender mais.

É um processo que não passa mais por uma questão de opinião do que é certo ou errado.  O errado já está posto e está tipificado, inclusive, no código penal. Sendo assim, não é uma decisão exagerada de um programa de entretenimento.

Mas como explicar para o público  que assédio não é entretenimento se esses mesmos participantes não sabem o que é assédio? Como aprender em um processo onde o que deveria ser óbvio, acaba sendo relativizado?

E não, infelizmente não é obvio para um homem. Assim como também não é obvio para muitas mulheres – ainda, que a violência não seja apenas quando se apanha do seu parceiro.

Qual o aprendizado com o BBB 23?

Concordo que nem todo homem age assim, mas sempre é um homem. E é sobre e, exatamente por isso, que não podemos exclui-los desse processo de aprendizado.

Precisamos conversar com os homens para que eles queiram ouvir e aprender com seus próprios erros. Para que não haja mais cara de espanto com uma punição por não entender seu próprio comportamento. Não existe aprendizado sem escuta, não existe troca sem diálogo, não existe transformação sem afeto e acolhimento.

cenas de assédio do BBB 23.
Fonte: Globoplay

Todos nós sabemos que aprendemos na dor ou no amor, com o resultado de nossas próprias experiências. No entanto, infelizmente, há bastante tempo estamos escolhendo o caminho mais doloroso de todos e pagando caro por isso, por não haver aceitação de que uma mudança é necessária.

Essa mudança não vai acontecer radicalmente, da mesma forma que ela não será resolvida de forma extremada. É preciso uma transformação interna daqueles que cometem erros para que não somente se puna, mas também se ganhe consciência dos seus atos.

Não podemos só falar da punição. Não podemos só julgar ou ansiar pelo cancelamento de quem erra.

Conclusão

Fonte: Globo/Douglas Emiliano

Todos erraram: quem foi eliminado, quem apoiou o eliminado, quem julgou que a expulsão foi um ato exagerado, quem julgou Dania por não ter se imposto ou por seu comportamento, quem julgou Lexa por suas decisões e pela forma que expôs sua dor.

Nós, enquanto sociedade, perdemos por uma mulher ser desrespeitada em um reality em pleno 2023 e, também, por um homem não saber onde está o seu desrespeito. Falhamos miseravelmente nesse sentido. Uma eliminação e um cancelamento não resolverão esse problema.

Sendo assim, é preciso humildade, reconhecimento, acolhimento, escuta e um longo processo terapêutico para homens e mulheres vencerem tudo isso, para que as gerações sejam transformadas e a expressão masculinidade tóxica não seja mais citada.

Sobre a colunista

Camila Custódio é idealizadora do Consultório Emocional – @consultorioemocional nas redes sociais. Camila é Assistente Social, Terapeuta de Família e Casal, Terapeuta Relacional Sistêmica, Psicanalista e Coach. Além disso, é Especialista em Gestão da Emoção e Consultora em Desenvolvimento Humano.

Camila Custódio
Fonte: Freepik (adaptada)

Escreve sobre saúde emocional, relacionamento e empoderamento feminino para sites, revistas e blogs. Atende pacientes online de todo o Brasil e do exterior.

Revisado e ilustrado por Fernanda Alves.

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