História do Jeans no Brasil: o clássico dos novos tempos no país

Sendo uma das peças mais democráticas e descoladas de todos os tempos, conheça com mais detalhes a História do Jeans no Brasil.

Publicidade do Jeans da US TOP. Fonte: Blog História Mundi / Publicidade do Jeans da Alpargatas. Fonte: ZH Blogs - Almanaque Gaúcho.

O Jeans se consolidou como um dos principais marcos da moda do século XX. Conheça a seguir a História do Jeans no Brasil, e como esse item descontraído se adaptou ao mercado brasileiro.

Afinal, ainda que em outro ritmo, o Jeans não apenas caiu no gosto popular brasileiro como o país se tornou um dos principais produtores e consumidores do produto.

 

Qual a História do Jeans no Brasil?

 

Publicidade da US TOP nos anos 80. Fonte: Blog Propagandas Históricas.

 

Para entender a História do Jeans no Brasil precisamos mesmo recuar no tempo e no espaço. Afinal, o Jeans ganhou o que seria a base da sua forma atual já na segunda metade do século XIX, tendo se popularizado na primeira metade do século XX.

A princípio, esse material mais básico e resistente tinha como finalidade servir aos trabalhadores. Era, acima de tudo, uma peça funcional. Ele tampouco surgiu na cor azul, que a indústria apenas adotou no final do século XIX.

Seja como for, o Jeans se popularizou de vez após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o avanço das tecnologias voltadas à indústria têxtil, a evolução do setor da moda (marcas, marketing, mídia, etc) e o boom do cinema americano.

No Brasil, o Jeans demorou mais alguns anos para cair no gosto popular. Entretanto, ele logo conquistou o mercado para nunca mais perder o posto de item básico de todas as idades, podendo ser encontrado em todo o território nacional.

 

Publicidade vintage da Levi´s Brasil. Fonte: Blog Anos Dourados.

 

 

O Mercado Brasileiro

 

Assim como em quase tudo o que tem a ver com a moda até meados da década de 60, o Brasil absorvia, com certo atraso, o que surgia de novo na Europa.

Nesse meio tempo, a moda americana começou a ganhar cada vez mais espaço no país a partir de personalidades como Zuzu AngelAlceu Penna. O Jeans é, sem dúvida, o item mais marcante dessa relação.

 

Roberto Carlos vestindo jeans nos anos 60. Fonte: Blog Nas entrelinhas.

 

Antes de mais nada, a história do jeans no Brasil é mesmo referência mundial. Afinal, como indicado pela Revista Super Interessante, essa peça corresponde a mais ou menos 10% de todas as roupas aqui produzidas.

Com pouco mais de 200 milhões de habitantes, ao ano são vendidas mais de 100 milhões de peças jeans no território brasileiro. O número, muito expressivo, torna o país o segundo maior mercado de jeans em todo o mundo – o primeiro, sem surpresa, é os Estados Unidos.

Mas, qual foi a trajetória do Jeans no Brasil?

 

O Primeiro Modelo de Jeans no Brasil

 

Ainda que a imagem de personalidades estrangeiras vestidas com as calças Jeans já circulassem no país, o modelo apenas se introduziu no Brasil em 1948. Nesse ano, a fábrica Roupas AB lançou o seu primeiro modelo nacional, as calças “Rancheiro”.

As peças também eram feitas em brim azul, contudo o público não foi muito receptivo. Afinal, o tecido era muito duro e nem de longe tão descolado e confortável como aquilo que podia ser visto fora do país.

 

Publicidade da calça “Rancheiro”, da Roupas AB. Fonte: Carissimas Catrevagens.

 

Nesse período, a Casa Canadá no Rio de Janeiro e Madame Rosita em São Paulo estavam a todo vapor. Acima de tudo, essas boutiques se impulsionavam a partir da elegante moda europeia e da revolução dos tecidos mais maleáveis que, por exemplo, a fábrica de Tecidos Rhodia produzia.

Assim, esse primeiro experimento com as calças jeans, ainda muito grosseiras, não teve uma boa aceitação entre os brasileiros. Desse modo, ainda não havia conseguido abrir o país para o mercado já em expansão nos Estados Unidos.

 

O Segundo Modelo de Jeans no Brasil

 

Publicidade calças jeans “Rodeio” e “Far-West” da Alpargatas. Fonte: Thais Taranto Pinterest.

 

Passada quase uma década, a Alpargatas do Brasil lançou em 1957 um segundo modelo de jeans nacional. Nesse ano, a importante empresa que possui marcas como Havaianas, Topper e Rainha – hoje contando já com mais de cem anos no mercado -, lançou no país uma nova versão do então famoso jeans americano.

O modelo, chamado de “Calças Rodeio”, foi mais bem recebido. O produto então trazia aquela que era a sua principal qualidade, o “Brim Coringa”. Além de ser um tecido forte que resistiria a toda uma vida, ele tinha a vantagem de não encolher.

Em sua publicidade, a marca explorou a mesma referência então usada nos Estados Unidos: o mundo dos cowboys.

Nesse sentido, pouco depois surgiu o modelo “Far-West” (faroeste), que, como se afirmava na propaganda da época, “eram as calças que resistiam a tudo”.

 

 

Parecido ao americano, mas não igual

 

Entretanto, ainda que se inspirasse no mundo fashion americano, o jeans brasileiro, além de ser pouco diverso, tinha outro diferencial. Enquanto no exterior estava na moda um tecido mais desbotado e confortável, no Brasil o material seguia mais firme e incômodo, sendo feito em um tom de azul escuro muito sólido e que não desbotava.

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É importante ter em atenção que as mulheres brasileiras só começaram a incorporar o jeans aos seus armários a partir de meados da década de 60. Até então, ele era um artigo exclusivamente masculino.

 

 

O país da “calça Lee”

 

Jeans Lee. Fonte: Wikimedia commons.

 

Seja como for, no Brasil as calças jeans ainda se associavam ao mundo do trabalho. Enquanto isso, no exterior, as propagandas mais descoladas da época traziam atores como Marlon Brandon, James Dean e Marilyn Monroe com o novo ar do século XX.

Assim, os brasileiros que estavam atentos ao que se passava na moda fora do Brasil tentavam trazer para o país aquelas que eram então as queridinhas por aqui: as calças Lee made in the USA, que, claro, desbotavam!

Como resultado do sucesso da marca, Lee virou sinônimo de jeans no território nacional. Em outras palavras, a marca teve um peso tão forte na história do jeans no Brasil que dizer “calça Lee” significava mesmo calça jeans.

 

Coleção Calhambeque. Fonte: Nossa Jovem Guarda Blog.

 

Em um mercado em total expansão, não demorou muito tempo para que diversas empresas explorassem o material. Assim, surgiram vários modelos nacionais, que agora buscavam com todo o empenho o público jovem.

Dessa maneira, surgiram inclusive etiquetas de marcas nacionais que se intitularam “Calhambeque”, “Tremendão” e “Ternurinha”, inspiradas nos principais ídolos da época: Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléa.

 

 

História do Jeans no Brasil – os Anos 70

 

Publicidade da US TOP nos anos 70. Fonte: Blog Anos Dourados.

 

Sendo uma década de revolução cultural no mundo, ainda que no Brasil se vivesse a Ditadura Militar, nesse época o mercado voltado aos jovens  ganhou ainda mais força.

Desse modo, em 1972 surgiu a primeira calça brasileira que desbotava igual as originais Lee: as US Top. Pouco tempo depois vieram as primeiras Levi´s, que então se adaptam ao gosto brasileiro: justa na frente para os homens, e mais pegadas ao corpo atrás para as mulheres.

 

 

Como a US TOP cantava em sua publicidade de 1976, “liberdade é uma calça azul velha e desbotada”.

Nessa mesma época a Ellus trouxe ao mercado a sua técnica “stone washed”. Desde então, as grandes grifes também passaram a se interessar pelo produto. Além disso, a publicidade vinha cada vez mais sensual e provocativa, já que eram mesmo tempos de liberação sexual e de quebra de paradigmas.

Como resultado, as calças jeans podiam ser vistas por todos os lados!

Desde então, quando o assunto é Jeans, além dos EUA, é difícil encontrar um país que tenha a mesma produção e variedade que o Brasil. Entre outras marcas de jeans que fizeram sucesso no Brasil estão a Topeka, Pakalolo, Fiorucci, Soft Machine, Dijon, Zoomp e Ellus.

 

Propaganda da US Top nos anos 70. Fonte: Blog Propagandas históricas.

 

O Jeans foi feito para durar 

 

Na última década o Jeans acabou por virar o vilão, ainda que a sua popularidade seja inegável e se mantenha até aos nossos dias. Afinal, em tempos nos quais a sustentabilidade na moda ganha cada vez mais peso, muitos acham o modelo não-sustentável. A razão? Além do consumo desenfreado, a quantia de água utilizada em sua produção.

Parece até um pouco contraditório, já que os seus fabricantes pensaram na peça para que fosse o mais resistente e durável possível.

 

Denim sustentável feito com algodão orgânico. Fonte: Natural Cotton Color.

 

Considerando a história do jeans no Brasil fica claro que essa não é uma peça opcional, mas presença obrigatória em quase todos os armários.

Dessa maneira, diferentes indivíduos e grupos começaram a buscar novas alternativas. Dentre elas, por exemplo, estão o jeans reciclado, as lavanderias eco-friendly, o uso de algodão de produção sustentável, as tintas naturais, etc.

Aliás, sabia que o Jeans 100% algodão é tido como um dos mais resistente no mercado? Além disso, sabia que o Brasil é referência no mundo quando se fala da produção sustentável de algodão? Vale a pena saber mais sobre o assunto!

 

Por Mariana Boscariol.

 

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Mariana Boscariol: Mariana Boscariol é uma historiadora especialista no período moderno. Sua experiência profissional e pessoal é em essência internacional, incluindo passagens por Portugal, Espanha, Itália, Japão e o Reino Unido. Sendo por natureza inquieta e curiosa, é também atleta, motoqueira e aventureira nas horas vagas – e sempre leva um livro na bolsa!
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