Modelos posando com vestidos de noite

Moda Anos 30 e a Identidade Brasileira na Moda

Ao contrário da década anterior, a moda dos anos 30 teve que enfrentar um período de profunda crise. Conheça com mais detalhes o estilo dos anos 30!

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Após uma década de euforia, a alegria dos “Anos Loucos” chegou ao fim com a crise de 1929. A queda da bolsa de valores de Nova York provocou uma crise econômica mundial sem precedentes. Mas, qual foi o efeito dessa crise na moda dos anos 30?  

 

Qual era a Moda dos Anos 30?

 

Ilustração de modelos com a moda dos anos 30
Ilustração de modelos de 1938. Fonte: thevintagesite.com

 

Os anos 30 foram marcados por anos difíceis. Afinal, a economia mundial foi seriamente abalada pela quebra da bolsa de Nova York, em 1929, terminando ainda com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939.

Como resultado, a sociedade de então vivia com menos recursos, além de mais instabilidade e insegurança. A grande depressão, como se chamou a crise gerada pela queda da bolsa dos EUA, ocasionou no Brasil a super safra do café – um dos principais produtos da economia nacional. Para a moda, isso significada menos recursos e mais limitações.

Entretanto, apesar das dificuldades, a década de 1930 também trouxe novas conquistas às mulheres. Por exemplo, as brasileiras então passaram a ter direitos políticos. Como resultado, essa nova mulher vinha com um estilo mais firme e sensual, ainda que simples.

Desde então, influenciados pelo cinema, os trajes andrógenos estavam em alta. Além disso, enfatizando ainda mais a ousadia da mulher, o fim dos anos 20 resgatou os vestidos mais ajustados ao corpo. Um estilo de noite mais sensual e elegante ganhava corpo com o cinema, por meio de atrizes como Louise Brooks, Greta Garbo e Marlene Dietrich.      

 

Mulher posando com chapéu e cigarro
Marlene Dietrich, 1934. O estilo andrógeno então ganhava destaque com grandes estrelas de Hollywood da época, como Dietrich. Crédito: William Walling. Fonte: IMDB

 

 

Grandes estilistas da moda europeia

 

Nos anos 30, Paris já estava mais do que consolidada como capital da alta-costura no mundo. Nessa época, então se destacavam alguns dos grandes nomes da história da moda mundial. Dentre eles, para além de Coco Chanel, ganhavam fama Madeleine Vionnet e Elsa Schiaparelli.

Depois de um período em que as cinturas se tornaram pouco definidas e os vestidos mais soltos, a moda dos anos 30 passou a apostar na valorização das curvas femininas.

 

Modelos posando com vestidos de Madeleine Vionnet
Vestidos de noite Madeleine Vionnet para a Vogue, em 1930. Crédito: Edward Steichen. Fonte: Victoria & Albert Museum

 

Por exemplo, o corte inovador e extremamente cuidado de Vionnet trouxe toda a beleza da antiguidade clássica para uma versão mais contemporânea.  Como resultado, os seus vestidos pareciam verdadeiras esculturas.

Por outro lado, o estilo inusitado e provocador de Schiaparelli trouxe não apenas itens com um toque surrealista, mas também o uso de materiais até então desconhecidos ou pouco explorados. Dentre eles, por exemplo, o zíper. Afinal, essa foi a primeira vez que o item apareceu como adorno, e não apenas como mecanismo de fecho. 

 

  • A seguir, leia também a História do Zíper: criação, fabricação e curiosidades – Parte 1/3.

 

Os Anos 30 no Brasil

 

Acima de tudo, temos que considerar que os períodos de crise não são caracterizados por ousadias no consumo de roupas e na forma de se vestir.

Assim, de maneira distinta dos anos 20, os anos 30 redescobriram as formas do corpo da mulher através de uma elegância refinada, mas sem grandes ousadias (Claudia Garcia).

 

Mulheres reunidas no anos 30
Federação Brasileira para o Progresso Feminino, em 1930. Desde então, a moda começou a ser pouco a pouco adaptada ao clima do Brasil. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons

 

Nessa década, o Brasil continuou a consumir revistas de moda feminina vindas da França. Ou seja, a moda francesa se mantinha como a principal referência de moda no país.

Entretanto, então surgiu um elemento novo e importante na moda. Por fim, a partir dos anos 30 houve uma abertura para que se começasse a adaptar as roupas para o mercado nacional (Durand). Em outras palavras, começou a haver uma certa preocupação em adaptar a moda ao clima brasileiro.  

 

  • Veja também o Especial Anos 30: Crise e Glamour – Resumo da década e fotos originais da época.

 

A criação da Casa Canadá

 

No coração da criação do mercado de moda brasileiro estava a Casa Canadá. Inaugurada na década de 1920 pelo empresário Jacob Peliks, essa loja a princípio surgiu como uma casa de venda de peles e vestidos.

Desde então, o estabelecimento já possuía um perfil fora do comum. Localizada na Rua Gonçalves Dias no Rio de Janeiro, a então capital nacional, a Canadá foi a primeira casa a trazer visons (animal muito usado no mercado de moda de luxo) para o Brasil a partir de 1931 (Carvalho, 2009).

 

Modelos a posar durante um desfile na Casa Canadá.
Modelos a posar durante um desfile na Casa Canadá. Os eventos da loja se tornaram muito famosos, tendo lançado modelos e tendências que pegaram em todos o país. Fonte: Blog Greta Cauê.

 

A Casa Canadá e as irmãs Mena Fiala e Cândida

 

Ainda que fosse um período de crise, Peliks identificou o potencial de crescimento da butique. Com o passar dos anos, essa ideia virou um projeto.

Nesse meio tempo, ele conheceu as irmãs Mena Fiala e Cândida Gluzman. Em 1929, as duas haviam aberto uma chapelaria de sucesso na Rua Sete de Setembro no Rio de Janeiro.

Além de trabalhar com um material de qualidade, ambas tinham cativado importantes mulheres da alta sociedade carioca. Desse modo, identificando o seu potencial, o empresário decidiu convidar Mena e Cândida para assumirem o comando da administração da nova loja, inaugurada em 1935.

Com isso, o seu objetivo era expandir e diversificar a participação da butique no mercado da moda de luxo não apenas carioca, como nacional. O plano teve sucesso, e na década seguinte a Casa Canadá já era a principal referência da ala-costura no país. 

 

  • Saiba mais em Quem foi Mena Fiala? A história da promotora dos desfiles de manequins no Brasil.

 

Modelos a posar durante um desfile na Casa Canadá.
Modelos a posar durante um desfile na Casa Canadá. Fonte: Blog Greta Cauê.

 

A ascensão da moda dos anos 30 no Brasil

 

Retrato de mulher com maquiagem e franja
Eugênia Alvaro Moreyra, em 1935. A moda dos anos 30 era de mais glamour e requinte que a da década anterior, e os cabelos curtos seguiam sendo a tendência. Crédito: Arquivo Nacional. Fonte: Wikimedia commons

 

Assim, em um ambiente de transformação do cenário cultural brasileiro, as irmãs passaram a desempenhar um papel crucial na difusão da alta-costura no Brasil.

As duas, que eram originais de Petrópolis, estiveram em contato com a costura, a chapelaria e o bordado desde muito jovens.

Essa aproximação se deu por meio do contato com as modistas de sua cidade natal Marietta Pongetti e as irmãs Falconi, que à época atendiam as senhoras da elite do Rio de Janeiro (Schumaher, 2000).

Em outras palavras, a experiência que possuíam foi crucial no seu trajeto pessoal, bem como da Casa Canadá.

 

  • Schumaher, Maria Aparecida. Dicionário mulheres do Brasil: De 1500 até a atualidade – Biográfico e ilustrado. Editora Schwarcz – Companhia das Letras, 2000.

 

A Casa Canadá e o setor da moda 

 

Dessa maneira, à frente da Casa Canadá, Mena Fiala e Cândida foram as pioneiras de grandes inovações. Por exemplo, a difusão do prêt-à-porter no Brasil – a roupa de boa qualidade feita em série, que levava a assinatura de um estilista da moda.

 

Adalgisa Colombo em um dos desfiles da Casa Canadá.
Adalgisa Colombo em um dos desfiles da Casa Canadá. Crédito: Carlos Moskovics. Fonte: Instituto Moreira Salles.

 

Segundo se conta, Cândida fazia as compras em Paris até cinco vezes ao ano! Dessa maneira, a butique tinha sempre a oferecer os últimos modelos da alta-costura francesa, a principal referência do mundo no período.

Por sua vez, se na antiga capital nacional foi a Casa Canadá que assumiu a vanguarda da moda de luxo, esse papel foi desempenhado em São Paulo pela Maison Madame Rosita.

A luxuosa Maison foi criada pela uruguaia Rosa de Libman (1904-1991), que estabeleceu essa casa de artigos, roupas de luxo e peleteria no coração dos negócios e da alta sociedade na capital paulista. 

 

 

Quem foi Rosa de Libman, a Madame Rosita?

 

Rosa de Libman em uma matéria na revista Rio Magazin, em 1961.
Madame Rosita em uma matéria na revista Rio Magazin, em 1961. Crédito: Nina Sargaço. Fonte: Facebook Moda Brasil.

 

A uruguaia Rosa de Libman, nascida em 10 de maio de 1904, foi a responsável por estabelecer nos anos 30 uma  das butiques mais icônicas do Brasil. Ela veio para o Brasil em 1935 junto com o seu marido, Sr. Max Libman. Rosa inaugurou o seu primeiro estabelecimento logo no mesmo ano.

A refinada casa de modas e peleteria, então chamada de Peleteria Americana, estava situada na rua Barão de Itapetininga. Assim, tendo como principal nicho o mercado de luxo, com destaque aos artigos de pele – como visons, martas, raposas e zibelinas -, Rosa de Libman foi a pioneira em trazer as principais tendências europeias para a capital paulista.

Nesse sentido, ela não apenas aparecia como também organizava alguns dos mais badalados eventos da cidade. Um dos primeiros  foi um desfile realizado no Teatro Municipal de São Paulo, logo no ano de 1938.  

 

  • Logo depois, veja também outros importantes capítulos da história da Moda Brasileira. Dentre eles, por exemplo, a fábrica de tecidos Rhodia, o ilustrador Alceu Penna (1915-1980) e o estilo mais brasileiro de Dener Pamplona de Abreu (1937-1978).

 

Madame Rosita em seu ateliê.
Madame Rosita em seu ateliê. Fonte: Veja SP.

 

O fim dos Anos 30

 

Apesar de terem sido muito marcantes e produtivos para o mundo da moda, os anos 30 não apenas começaram como também terminaram em crise. Afinal, logo em 1939 teve início a Segunda Guerra Mundial, conflito que durou até 1945 e deixou profundas marcas em vários países do mundo. 

Dessa maneira, o glamour e sofisticação da moda dos anos 30 teve mais uma vez que dar espaço a um maior racionamento e sobriedade. Essa foi a realidade não apenas na Europa, como também no Brasil. 

De qualquer forma, o setor da moda no Brasil continuou gradualmente a evoluir. Assim, na década seguinte já se pôde sentir muitos avanços, tendo sido de fato uma época de grande visibilidade e dinamismo para o Brasil e a moda no país. 

 

 

Por Denise Pitta.

Editado e atualizado por Mariana Boscariol.

 

*Este é um trecho do relatório final da pesquisa Moda e Identidade Brasileira, feito por Denise Pitta de Almeida em 2003 à Faculdade de Moda da UNIP.

   

 


Propagandas dos anos 30 da revista O Cruzeiro

D. Mena Fiala e a Casa Canadá

Mena Fiala

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