Janes Fonda posando sentada no chão e vestida com roupa prateada e arma na mãe para o filme Barbarella.

A Mulher Artificial X Real: a liberação muda a imagem da mulher – CYBER GIRLS – Parte 3/4

Uma das maiores preocupações do advento da tecnologia foi e segue sendo o conflito entre a Mulher Artificial X Real. Entenda mais sobre a questão!

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Quando discutimos o avanço da realidade virtual e de robôs que simulam à imagem e perfeição o ser humano nos surgem diversas questões. Entre elas, uma das mais presentes é sem dúvida qual o limite entre a Mulher Artificial em relação à Mulher Real.

 

A liberação da Mulher no Filme Barbarella

 

Cena do filme Barbarela.
Cena do filme Barbarela. Fonte: Blog O Sur.

 

Está mais do que claro que, desde o princípio do século XX, o cinema foi e segue sendo um grande meio para impulsionar mudanças e novas tendências da sociedade.

Nesse sentido, o filme Barbarella (1968), de Roger Vadin, contribuiu diretamente ao período de liberação feminina vivido nos anos 60.

Acima de tudo, a produção explorou a mudança da condição da mulher no mundo de então. Ou seja, a história passava a questionar a guerra pessoal e a conquista social das mulheres, dentro das quais o sexo servia como uma infalível arma contra o inimigo.

 

 

 

O filme vem ao encontro das expectativas da época. Afinal, a mulher se via dentro do movimento feminista que passava a minar de vez o patriarcado.

Desse modo, este fluxo libertador ia contra, por exemplo, a situação social da mulher – por exemplo, no que tem que ver com temas como a virgindade, o aborto e o casamento.

 

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A ascensão social da mulher

 

A entrada da mulher no mercado de trabalho, uma conquista que se consolidou após as duas guerras mundiais, ganhou força com o acesso à cultura. Desde então, elas passaram a ter não só presença como mais participação social.

Ou seja, o controle e o poder masculino se viram abalados. Como resultado, foi preciso redimensionar o comportamento e as relações interpessoais.

Além disso, com os novos ares surgiu a busca por mais paridade e igualdade social.

 

Cena do filme Barbarela. Fonte Movie Haku.
Cena do filme Barbarela. Fonte: Movie Haku.

 

Em outras palavras, chegamos finalmente à sociedade pós-industrial. Como defendido por Domenico De Masi, em “O Ócio Criativo”, foi nela que o homem se tornou protagonista.

Afinal, as máquinas já eram operadas por outras máquinas.

Por sua vez, valores sociais e morais como o racionalismo, a competitividade, a alta produção, a eficiência e a ambição por bens materiais passaram a dar lugar ao progresso tecnológico.

Por fim, a presença dos mass media passou a dar valor e espaço aos bens imateriais: valores e serviços voltados à estética, ao livre pensar, à criatividade e a melhor utilização do tempo.

 

A mulher e a sociedade pós-industrial

 

Dessa maneira, as mulheres, já mais emancipadas, tinham seus direitos garantidos e eram donas de uma independência quase em arrependimento.

Além disso, elas tinham os meios de comunicação como aliado. Tornavam-se, assim, cada vez mais fortes e autossuficientes, mas também mecanizadas e solitárias.

Ou seja, a mulher da sociedade pós-industrial é solitária por si só.

Nesse sentido, ela se equipa de uma parafernália de acessórios estéticos como compensação. Por exemplo, maquiagem, roupas, tratamentos de beleza, ginásticas e mesmo implantes.

Enfim, formas de metamorfoses que nos fazem indagar: qual é a imagem dessa mulher em um mundo com uma tecnologia tão apelativa, visto que se mutila e se transforma o tempo todo? Em quê este ser orgânico se diferencia de um ser robótico, programado para certas funções, com força descomunal e incontrolada?

 

A Mulher Artificial ou Robotizada

 

Cena do filme Barbarela. Fonte: Movie Haku.

 

A partir do mundo pós-industrial nasce, dos confins de uma realidade mais abstrata, o conceito da mulher robotizada.

Em outras palavras, com o advento da revolução tecnológica, a imagem da mulher se fragmenta com o seu corpo orgânico. Passa, assim, a questionar o início de sua própria mutação.

A ideia de os humanos serem fabricados traz duas questões: em primeiro lugar, quais aspectos humanos serão desenvolvidos? Além disso, qual será o efeito fisiológico sobre os seres artificialmente criados?

 

Donna Haraway (2000), em o Mito do Ciborgue

 

Nesse sentido, em o Mito do Ciborgue (2000), Donna Haraway discutiu as dicotomias que servem de base ao pensamento ocidental. Ou seja, a relação mente/corpo, organismo/máquina, natureza/cultura.

Essas questões urgem ao se pensar sobre qual o limite que separa o humano e a máquina, onde o ciborgue nos força a reavaliar a ontologia do próprio homem.

 

Cena de Blade Runner, da Warner Bros. Fonte: Variety.

 

Segundo a autora, “Um Ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também uma criatura de ficção. Realidade social significa relações sociais vividas, significa nossa construção social-política mais importante, significa uma ficção capaz de mudar o mundo. Os movimentos internacionais de mulheres têm construído aquilo que se pode chamar de “experiência das mulheres”.”

Assim, Harraway segue a difender que “[…] A libertação depende da construção da consciência da opressão, depende de sua imaginativa apreensão e, portanto, da consciência e da apreensão da possibilidade.”

Por sua vez, “O ciborgue é uma matéria de ficção e também de experiência vivida – uma experiência que muda aquilo que conta como experiência feminina no final do século XX. Trata-se de uma luta de vida e morte, mas a fronteira entre a ficção científica e a realidade social é uma ilusão de ótica”(2000, p. 40).

 

A mulher artificial e o mundo dos ciborgues

 

E as mulheres estão de perto ligadas à esta nova dinâmica, talvez por terem almejado por tanto tempo “um lugar ao sol”.

Esse ponto fica claro, por exemplo, no filme Blade Runner – o caçador de andróides (1982), de Ridley Scott. Nele são representadas três tipos distintos de mulheres fortes, sedutoras e determinadas.

 

Rachel Blade Runner. Fonte: Cinema Net.

 

A primeira, Rachel, faz o gênero indefesa e frágil, que não descobriu o valor de sua força. A segunda, Zhora, sabe que é muito forte, sendo feita para atuar em esquadrões da morte e de combate. E a terceira, Pris, reflete ingenuidade e “pureza”, a criança interior camuflada em uma mulher dark-punk.

Podemos observar que cada exemplar replicante tem a sua própria personalidade. Desse modo, elas representam um forte estereótipo da sociedade tecnológico-cibernética.

 

As replicantes em Blade Runner

 

A robô de Metrópolis segue a linha “frankensteiniana”, sendo obra da engenharia mecânica em conflito com a humana. Em contrapartida, em Blade Runner estão as replicantes supostamente orgânicas. Em outras palavras, uma Mulher Artificial que é obra da engenharia genética, ainda que seja produzida artificialmente.

Seja como for, elas mantêm a mesma disposição, sensualidade, liberdade e sensação de vitória do espírito de Barbarella – que é humana, mas age como ciborgue, já que tem uma atitude mecânica e muito estudada.

 

Pris Blade Runner. Fonte: Cinema Net.

 

A Mulher Artificial ou Ciborgue

 

A definição de ciborgue torna-se possível com o avanço da tecnologia e da cibernética. O termo nasceu na década de 1960, quando cientistas desenvolveram uma espécie de homens-máquina dotados de autorregularão.

Acima de tudo, eles serviam para substituir os humanos em viagens ao espaço. Afinal, as viagens espaciais causavam graves disfunções neurofisiológicas aos astronautas.

A partir daí, o nome foi crescendo e ganhou força própria. Como resultado, ele migrou para a ficção científica, para a literatura e o cinema. Por fim, se tonrou em algo onde o importante não era o elemento maquínico, mas o informacional.

Desse modo, o corpo orgânico foi se metaforseando, se tornando uma máquina com inteligência. São os novos franksteins restituídos de uma plasticidade que acoberta o feio. Podemos compará-los aos pãs, centauros, medusas e minotauros da mitologia grega.

Nesse sentido, eles possuem uma aura única e inatingível. São anômalos!

 

A Mulher Artificial, um monstro?

 

Zhora Salome Blade Runner. Fonte: Hipertextual.

 

Não se pode definir um anômalo como um ser a-normal que subverte o habital, que qualifica e contradiz uma regra. Ele designa o desigual, o rugoso, a aspereza, a ponta da desterritorialização.

Defini-se, assim, não em função de características que lhe são próprias, mas como uma posição ou um conjunto de posições em relação a uma multiplicidade.

O anômalo avizinha-se da figura do monstro enquanto dispositivo que confere inteligibilidade a processos sociais. Como o anômalo, o monstro aparece como um fenômeno ao mesmo tempo extremo e raro. Ele é limite e o ponto de inflexão da lei (…).

O monstro combina o impossível com o proibido, sem que deflagre da parte da lei uma resposta legal.

 

Normalização

 

A passagem para termos legais passa do monstruoso para o anormal. Desse modo, se o monstro é uma exceção, o indivíduo a ser corrigido é um fenômeno corrente inscrito em uma mecânica de criação de corpos dóceis.

Segundo Pierre Levy, podemos afirmar que as figuras monstruosas e anormais inscrevem a reflexão no campo do virtual, que não se opõe ao real, mas abre linhas de fuga em relação ao presente e agem no presente enquanto potência.

Já para Haraway, o ciborgue seria como o sonho utópico da esperança de um mundo monstruoso sem gêneros. Assim, seria uma possível saída do labirinto dos dualismos pelos quais temos explicado nossos corpos, ferramentas e a nós mesmos. Nesse plano, onde entra a Mulher Artificial?

 

Em seguida, leia também:

 

 

Por Goretti Pedroso.

 

Goretti Pedroso é Jornalista, doutora em Ciência da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo com especialidade em Cinema e Moda. É professora do Centro Universitário Belas Artes e da ECA-USP e autora dos livros Mulher Virtual, Admirável Mundo MTV Brasil e Um Salto na Criatividade.

 

 

* Matéria originalmente publicada em 2009.

 

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Jane Fonda em Barbarella (1968)

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Blade Runner – Rachel: faz o gênero indefesa e frágil

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Pris: reflete a ingenuidade, a “pureza”, o romantismo

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Blade Runner – Zhora

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Blade Runner – Zhora

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Por fim, veja mais imagens de Jane Fonda em Barbarella (1968)

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