Brasil BBB 21 x Brasil Real – Representatividade não é representação

Consultor de diversidade explica a questão da militância no Big Brother Brasil. Veja ainda discussão de jornalista comparando narrativas do programa com a realidade do Brasil.

O Brasil ficou chocado com o comportamento de alguns participantes do BBB 21 que entraram no programa com o histórico de militância na defesa de grupos identitários marginalizados e uma vez lá dentro revelaram comportamentos inconsistentes com os ideais que supostamente defendiam na “vida real”.

Imediatamente os críticos afirmaram: “Veja como os militantes são extremistas, falsos, incoerentes, etc., etc.”, como se aqueles indivíduos representassem em toda a sua extensão esses movimentos.

Isso não é correto, em primeiro lugar, porque nenhum movimento é homogêneo e em suas franjas sempre abriga extremistas, daí ser injusto ou mesmo desonesto reduzir o movimento como um todo apenas às suas características mais radicais. Mas o mais enganoso é pensar que qualquer indivíduo integrante de um coletivo é “representante” dele, no sentido de que qualquer dos seus comportamentos – sejam certos ou errados – possam ser estendidos ao grupo como um todo.

Ninguém supõe que Arthur ou Caio representem todos os homens hétero brancos, ou Carla e Vihtube representem todas as mulheres hétero louras, mas por que Karol Conká, Lumena ou Gilberto são ignorados em suas individualidades e reduzidos a genéricos representantes de suas coletividades?

Todos os integrantes de grupos minorizados já sentiram na pele a suposição de que porque pertencem a determinado grupo apresentam, ou deveriam apresentar, certas características estereotipadas: “Como assim, você não é um gay animado?!”, “Como assim, você não é uma gordinha simpática?!”.

Nossa grande luta (depois de nos defendermos do preconceito, discriminação e violência) é por nossa “individualização”, no sentido de separar o que são características nossas próprias das que nos são atribuídas por estereotipação social. Nem toda mulher negra é igual à Karol Conká ou Lumena e nem todo homem gay é igual ao Gilberto ou João.

 

 

Ao contrário, eles são bem diferentes entre si, talvez tendo unicamente em comum o pertencimento àquele grupo identitário. Karol Conká não representa o movimento feminista ou de inclusão, basta ler qualquer de suas letras: “Baguncei a divisão, esparramei. Peguei sua opinião, 1-2, pisei…”. Em que universo paralelo pisar na opinião dos outros pode ser um discurso inclusivo? “Gata meu nome é Karol Conká. Procura no Insta, é só me marcar…” é a boa e velha carteirada. “Mamacita fala, vagabundo cala”…?
 
Suas letras só enganaram porque eram cantadas por uma mulher, o que nos levou a interpretá-las de forma errada.
 
Já a “militante” Lumena se perdeu na sua jornada afetiva de ressignificação do rolê, o que quer que isso queira dizer no seu dialeto de tcc… Seu discurso ininteligível é discurso de poder: usa palavras de uso não comum, fora do seu contexto acadêmico, para demonstrar (suposto) conhecimento como forma de exercer poder sobre os desavisados.
 
Mas apesar dos pesares, entendo que a escalação deste elenco que fez suscitar todas essas polêmicas está sendo bastante saudável, pois desnuda total a desigualdade e exclusão do nosso país. Ao expor os discursos extremados, ou simplesmente equivocados, faz evoluir a discussão sobre os temas de diversidade e inclusão e, daqui a uns dias, depois de acalmadas as paixões, acho até que iremos agradecer a participação dessas pessoas!
 
Dessa forma, Karol Conká, Lumena ou Nego Di não “representam” ninguém mais que eles próprios. Na verdade, não representam nem mesmo eles próprios em sua totalidade, mas apenas as facetas que demonstrarem no contexto da competição, o que por si só já é uma redução de sua complexidade humana. Esperamos que aqui fora, num ambiente mais natural, possam se despir dessas personas tóxicas e se mostrarem nas suas verdadeiras dimensões humanas.
 

 

Brasil BBB X Brasil Real

 

Recentemente, o jornalista Reinaldo Azevedo falou abertamente do seu ponto de vista em relação as últimas ocorrências do Big Brother Brasil, no programa da rádio BandNews, a atração “É da Coisa”.

O jornalista alega que não assiste e nem se interessa pelo programa, no entanto, considera avaliar questões quando deixa de ser entretenimento e passa a ser caracterizado como discurso político manipulado.

Segundo ele, o BBB é um programa de alta manipulação: “Obviamente, aquelas pessoas que estão lá foram selecionadas, segundo entrevista, perfis e tal. Então, foi escolhido o que se queria. Obviamente, o que vai ao ar para o grande púbico é uma seleção, ou seja, você escolhe a narrativa que vai contar, com isso você manipula, aperta botões, mexe em fios de sentimentos, angústias, etc.”

Brasil Real X Brasil BBB

No ENEM 2021, uma questão sobre racismo recebeu alta critica da sociedade. Segundo o gabarito original, a questão perguntava o que uma mulher negra mostrava ao se recusar alisar os próprios fios, a resposta correta, de acordo com o gabarito: “Uma postura de imaturidade” (Alternativa “D”). Após a atualização, essa resposta recebeu alteração, para “Uma atitude de resistência” (Alternativa C).

Reinaldo cita esse exemplo ao falar sobre o BBB, alegando que essas duas alternativas evidenciam que o racismo subiu a oficialidade no país. Para Reinaldo, o Brasil real representa a população negra assim:

  • Dentre os 60 mil mortos por ano, a maioria são negros;
  • Presidiários e crianças que morrem de bala perdida: maioria negra;
  • Maior número de mortos por Covid-19: maioria negra;
  • Moradores de habitações de condições mínimas: maioria negra;
  • Escolas particulares: não há negros;
  • Restaurantes bacanas: não há negros.

Brasil do BBB

Diferente do Brasil real, no BBB, os negros são empoderados, mandam no ambiente, discriminam, dão esporro, são truculentos, movem tramoias, são agressivos, violentos e transformam o discurso da identidade durante um ato de exclusão, conforme dito por Reinaldo.

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“Existem esses? Sim. Existem aqueles que abusam da questão da identidade para ganhar dinheiro? Existem. Podem ser até aqueles que estão lá [no BBB]. Existe a militância de boutique? O identitarismo de boutique e o que se apropria de uma luta popular, pública, do povo pobre, para transformar em produto a ser consumido? Sim, existe.”, diz o jornalista.

  • Enquanto isso, leia: BBB21 é o mais preto de toda história.

 

 

Impressão do público diante o identitário negro exposto no BBB

Telespectador – Fonte: Reprodução

Quando um negro diz em um programa como o BBB que Marielle defendia bandidos, apesar de ser a opinião dele, o que isso representa? Será esse o posicionamento do movimento negro? Questiona Reinaldo sobre a diálogo entre  Lucas Penteado e Nego Di no BBB21.

Quando Karol Conká discriminou uma mulher branca no reality, o que essa ação provoca aos telespectadores do programa? De acordo com o jornalista, fica-se com a impressão de que a regra do Brasil consiste em negro descriminar branco, ou seja, é insuportável ser branco, difícil ser branco ou de ser rico.

  • Enquanto isso, leia: Thammy Miranda vai processar Lumena por falas racistas no BBB21.

Essa é a verdade do que acontece no Brasil?

Para Reinaldo, tais atitudes são um desserviço ao Brasil e muitos, infelizmente, concordam com o que estão vendo no BBB. O programa nunca foi e nunca será a representação do Brasil, essa edição, inclusive, distorce a luta que acontece hoje, “Em um momento em que uma prova oficial [Enem] possui duas respostas racistas” relaciona o jornalista.

A narrativa do BBB está sendo construída, e ela justifica teses truculentas que acontecem no Brasil real e que, então, demoniza movimentos identitários super importantes, fundamentais para os negros, mulheres e gays que militam sua dignidade.

Reinaldo conta que falou sobre o BBB no “É da coisa” por apenas serem consequências óbvias, evidentes, pois o que se passa no programa, mente sobre o Brasil e inverte a lógica do oprimido e do opressor.

Caso Lucas na visão de Reinaldo

Um menino negro e gay é “banido” de reality por outros participantes negros. Explicando, apesar de todos os confinados terem sua participação, a maior carga ficou para Karol Conká e Lumena, duas mulheres negras.

Reinaldo e Lucas Penteado – Fonte: Reprodução

“Isso mente sobre o movimento negro, sobre a luta necessária dos negros, sobre o racismo estrutural, sobre o Brasil”, diz o jornalista.

Então, ao encerrar o assunto, Reinaldo diz que essa narrativa é uma manipulação do que realmente acontece no Brasil: “É passar a mão na cabeça de troglodita e, de resto, evidenciar: ‘Sabe quem são os maiores inimigos dos negros? Os negros’. Não estou falando do BBB, mas sim do Brasil, miseravelmente distorcido no BBB.” Finaliza.

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Editado por Laila Lopes

 

Edgard Pitta Almeida: Edgard Pitta é consultor sobre Diversidade & Inclusão e desenvolvimento de carreira. Professor convidado de gestão de carreira e marketing digital nos cursos de pós-graduação da Skema Business School /Fundação Dom Cabral-MG e ECA-USP.
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