Elsa Schiaparelli – As grandes Estilistas da Moda Europeia – Parte 4/5

Por natureza ousada e criativa, conheça a história da italiana Elsa Schiaparelli, a estilista que inovou a alta-costura com o seu toque surrealista.

Elsa Schiaparelli e ilustrações. Fonte: CRFashionBook / Aeworld.

Dando sequência à série sobre as grandes figuras femininas da moda europeia, nesse artigo exploraremos a vida e obra de Elsa Schiaparelli (1890–1973): a grande estilista italiana que trouxe a inspiração do surrealismo para criações muito inovadoras.

 

Quem foi Elsa Schiaparelli?

 

Nascida em Roma, na Itália, em 1890, Elsa Schiaparelli vinha de uma família com boas condições financeiras. Afinal, o pai era diretor da Accademia Nazionale dei Lincei, a mãe descendia da importante dinastia dos Médici, e o seu avô foi um importante astrônomo e reitor da Universidade de Roma.

Antes de mais nada, Elsa cresceu em um ambiente cercado de intelectuais e sem grandes limitações. Desse modo, ela, que desde cedo demonstrou ter um temperamento forte, desenvolveu um gosto especial pela história antiga, o misticismo, o mundo da arte e, o mais importante, a liberdade.

 

Elsa Schiaparelli. Fonte: Aeworld.

 

Como resultado, em 1913 ela decidiu deixar a Itália e se mudou para Londres. Na capital inglesa, em 1914, conheceu e em poucos dias se casou com o acadêmico Willy de Kerlor.

Em meio a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o casal se mudou para Nova York, nos EUA, em 1916. Apesar do nascimento da sua filha Gogo, em 1920, o casamento não durou muito mais tempo.

Tendo-se divorciado em 1922, Schiaparelli, com uma filha pequena para cuidar, decidiu voltar para a França.

 

  • Elsa Schiaparelli. Shocking Life. New York: E. P. Dutton and Co., 1954.

 

Uma moda de mulheres para mulheres

 

Acima de tudo, aqui nos centramos em analisar a moda criada por mulheres na Europa durante o século XX. Mulheres que criaram tendências e ajudaram a mudar a forma de ser mulher na sociedade ocidental, grupo do qual Elsa Schiaparelli é um ícone.

Com isso, não pretendemos desprezar, por exemplo, a importância da criação japonesa ou mesmo da norte-americana no cenário da moda internacional.

A nossa intenção é, assim, mostrar a relevância da presença feminina num mundo que é conhecido quase que exclusivamente pelo domínio dos grandes costureiros e suas maisons – como, por exemplo, Christian Dior, Cristóbal Balenciaga e Yves Saint-Laurent.

 

Elsa Schiaparelli estudando a sua nova coleção em 1938. Crédito: TimeLife / John Phillips. Fonte: Google Arts and Cultures.

 

  • Em seguida, aproveite  e leia sobre outras grandes estilistas, como Madeleine Vionnet e Coco Chanel. Nos siga no Google News para para saber tudo sobre Moda, Beleza, Famosos, Décor e muito mais. É só clicar aqui, depois na estrelinha 🌟 lá no News.

 

 

Elsa Schiaparelli de volta a Paris

 

Na França, Elsa Schiaparelli conheceu o revolucionário estilista Paul Poiret por volta de 1924. Nessa época, ela também fazia roupas para ela e amigas íntimas.

Poiret, que notou o seu talento artístico, foi então o primeiro a encorajá-la a seguir uma carreira na moda. Afinal, essa sería a melhor saída para a sua inclinação à Arte.

 

Cravat Jumper de Jeanne Schiaparelli, de 1927. Fonte: Victoria & Albert Museum.

 

Após vários anos projetando e vendendo suas peças por conta própria, ela abriu um pequeno atelier em 1927, chamado de “Schiaparelli – Pour le Sport”.

A estilista então conseguiu capturar os mundos da moda europeia e americana com suas primeiras coleções de camisolas tricotadas à mão. Foi no final desse ano que ela introduziu um desenho de trompe l’oeil (ilusão de ótica) em preto e branco, reproduzindo um laço.

O modelo caiu no gosto de um comprador americano, que o tornou um sucesso nos EUA. Nos anos que se seguiram, Elsa Schiaparelli criou outros modelos de suéteres e roupas esportivas, mas também expandiu para outros tipos de roupa.

 

Elsa Schiaparelli na capa da Time de 1934. Fonte: Aeworld.

 

 

A Estilista Elsa Schiaparelli

 

Enquanto as suas contemporâneas Gabrielle “Coco” Chanel e Madeleine Vionnet estabeleceram um novo padrão de elegância baseado na praticidade, simplicidade e linhas fluídas, Schiaparelli quebrou com qualquer convenção para explorar um estilo mais irreverente e singular.

Elsa Schiaparelli acreditava que a moda estava intimamente vinculada à evolução das artes plásticas contemporâneas, sobretudo à pintura. Portanto, ela sempre buscou estar ligada aos artistas e movimentos culturais de sua época.

 

Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí. Fonte: Memorias Cinematográficas.

 

Fazendo grande sucesso tanto em Paris como em Nova York, Schiap, como ficou conhecida, circulava entre os mais animados círculos artísticos da época. Dessa maneira, tinha importantes amigos como Gabriele Picabia, Jean Cocteau, e Salvador Dalí.

Ainda que muitos considerassem ela a rival direta de Coco Chanel, o trabalho das duas era muito diferente, se direcionando a propósitos e públicos também distintos.

 

Gargantilha de Coleção Pagã de Jeanne Schiaparelli, de 1938. Fonte: Victoria & Albert Museum.

 

  • Logo depois, para acompanhar a evolução da sua carreira por décadas, veja aqui a linha do tempo da marca.

 

Parcerias e Estilo Elsa Schiaparelli

 

O chapéu-sapato criado por Elsa Schiaparelli e Salvador Dalí. Fonte: Getty Images.

 

Elsa Schiaparelli e o pintor surrealista Salvador Dalí fizeram uma importante parceria. Como resultado, surgiram criações bastante particulares.

Dentre elas, uma das mais icônicas foi o famoso chapéu em forma de sapato. Além disso, também elaboraram o tailleur que imitiva uma escrivaninha com bolsos em forma de gaveta, o vestido decorado com uma grande lagosta (presente em outros itens de Dalí), e muitos outros produtos.

Em outras palavras, Elsa Schiaparelli encontrou a sua maior fonte de inspiração no surrealismo. A partir dele, usou e abusou de cores fortes, modelages diferenciadas, tecidos e materiais inovadores, e muitos adornos.

 

Roupa de noite da Coleção Circos de Jeanne Schiaparelli, de 1938. Fonte: Victoria & Albert Museum.

 

Para tanto, todas as coleções de Schiap partiam de um tema central.

Related Post

Por exemplo, uma de suas campanhas mais celebradas foi a coleção “Circos”. Nela a estilista crious trajes de noite e dia que levavam, por exemplo, cavalos e acrobatas pendurados no trapézio, que eram costurados na roupa para dar uma efeito ainda mais chamativo.

 

 

Temas das coleções Elsa Schiaparelli

 

Capa “Phoebus” de Elsa Schiaparelli, de 1938. Crédito: Museu de Artes Decorativas de Paris. Fonte: Artsy.

 

As suas primeiras coleções temáticas foram: ”Stop Look and Listen” (1935), “Music” e “Paris 1937” (1937), “Zodiac,” “Pagan,” e “Circus” (1938), e “Commedia dell’Arte” (1939).

Uma das suas marcas mais dominantes foi o uso de cores fortes. Por exemplo, na sua coleção sobre o zodíaco se destacou a capa “Phoebus”, que tinha um sol dourado bordado sobre um tecido rosa-choque.

Foi em 1937 que Elsa Schiaparelli lançou a sua famosa cor de rosa vivo, que ela então chamou de “chocante” (shocking em inglês). A ele se seguiu o perfume “Shocking!”, que era envasado em um frasco desenhado pela artista Leonor Fini (o molde foi o corpo da atriz Mae West).

 

Jóias de Elsa Schiaparelli. Fonte: CRFashionBook.

 

Aliás, ademais da produção de perfumes, a estilista também investiu na criação de outros cosméticos e acessórios como chapéus, bolsas e joias.

Além disso, ela também inovou nos materiais utilizados para confeccionar as suas roupas, como o zíper, o crepe de seda e o celofane.

Acima de tudo, todos esses novos materiais, como a fibra sintética, possibilitaram que Elsa executasse todos os seus sonhos surrealistas.

 

Chapéu de Elsa Schiaparelli. Fonte: Getty Images.

 

Elsa Schiaparelli e o Mundo das Artes

 

Em 1933, influenciada pela moda egípcia, Elsa lançou a manga-pagode. Partindo de ombros largos, ela então determinou a silhueta básica que seria adotada até o lançamento do “New Look” de Christian Dior.

Apesar de ter tido clientes famosas como as atrizes Greta Garbo, Joan Crawford e Carole Lombard, Elsa Schiaparelli não fez muitos figurinos para o cinema.

Ainda assim, conseguiu certo destaque, sendo que o seu maior sucesso veio em 1937, com Mae West no filme “Every Day’s a Holiday”. Além disso, também criou os figurinos dos filmes “Artists and Models” e “Moulin Rouge” (1952), com Zsa Zsa Gabor.

 

Zsa Zsa Gabor com um figurino de Jeanne Schiaparelli no filme Moulin Rouge. Fonte: Getty Images.

 

Declínio

 

Com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Elsa Schiaparelli decidiu deixar Paris em 1940 – ela estava envolvida na força antinazista voluntária. Assim, ela foi para os EUA, onde já havia vivido e era muito conhecida.

Após o fim da guerra, em 1945, ela retornou a Paris. Sua maison sobreviveu aos anos de conflito, ainda que não tivesse sido levada por ela mesma.

Entretanto, apesar de ter expandido mais a sua difusão no mercado americano, e ainda que a sua volta tivesse sido celebrada pela imprensa, a sua projeção ficou à sombra de uma nova geração de costureiros, dentre eles Christian Dior e Cristobal Balenciaga.

Por fim, em 1954 a empresa declarou falência e Elsa Schiaparelli decidiu se aposentar. Nesse mesmo ano, lançou o seu livro de memórias chamado “Shocking Life”.

Elsa Schiaparelli morreu em Paris aos 83 anos, em 1973.

 

Legado

 

Joias inspiradas na astrologia, coleção atual da Schiaparelli. Fonte: Reprodução Schiaparelli.

 

Mais recentemente, em 2006, foram comprados os direitos e arquivos da marca Schiaparelli. Posteriormente, em 2012, a maison foi finalmente reaberta no Hôtel de Fontpertuis 21 Place Vendôme, no mesmo endereço da antiga casa de Elsa.

Por fim, em 2014 foi organizado o primeiro desfile de alta-costura desde 1954, tendo sido apresendado na semana de Haute Couture de Paris.

 

Por Queila Ferraz.

Editado e revisado por Mariana Boscariol.

 

Em seguida, veja também:

 

* Artigo originalmente publicado em 2010. Por fim, veja mais fotos da estilista:

 

Capa Noturna de 1938 – Foto de A Tale of Two Shoes.


Capa Noturna de 1937 – Foto de A Tale of Two Shoes.

Museum Blogs.


 Huffington Post.


The Guardian.

Quest Garden.


Foto de Met Museum.


Ovation.

Queila Ferraz: Queila Ferraz é historiadora de moda e arte, especialista em processos tecnológicos para confecção e consultora de implantação para modelos industriais para a área de vestuário. Trabalhou como coordenadora Geral do Curso de Design de Moda da UNIP, professora da Universidade Anhembi Morumbi e dos cursos de pós-graduação de Moda do Senac e da Belas Artes.
Posts Relacionados

Usamos cookies em nosso site para oferecer uma melhor experiência. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações" para ajustar quais cookies deseja aceitar ou não em nossa Política de Privacidade.

Leia mais