Cristóbal Balenciaga: o mestre e arquiteto da alta costura

Uma personagem discreta e elegante, Cristóbal Balenciaga foi um dos nomes mais importante do mundo da alta-costura. Veja com detalhes a trajetória do grande mestre e arquiteto da moda do século XX.

Parte da exposição 'Balenciaga y la pintura espanola',no Museu Nacional Thyssen-Bornemisza de Madrid. Crédito: Samuel Sánchez. Fonte: El País.

A marca Balenciaga é um dos grandes nomes do mundo da alta-costura. O seu idealizador,  Cristóbal Balenciaga, criou peças com formas e movimento singulares. Além de um verdadeiro arquiteto do arquétipo feminino, o estilista foi um indivíduo intrigante. Assim, para descobrir o porquê, conheça mais sobre a sua vida e obra.

 

Foto de Cristóbal Balenciaga. Fonte: Instagram da marca Balenciaga.

Vida e obra de Cristóbal Balenciaga

 

Nascido no dia 21 de janeiro de 1895 em Guetaria, no país basco, ao norte da Espanha, Cristóbal Balenciaga vinha de uma família sem recursos – o seu pai era um pescador e a sua mãe uma costureira.

Ali, ainda jovem, ele conheceu Micaela Elío y Magallón, a Marquesa de Casa Torres. Essa senhora, pertencente à elite local, foi a grande incentivadora para que o jovem viesse a se tornar um estilista.

A marquesa descobriu o talento do jovem logo cedo. Afinal, Cristóbal lhe desenhou um primeiro vestido com apenas 12 anos! Desde então, ele passou a frequentar um ateliê de Madri, onde veio a aprender a alfaiataria.

 

Foto de Cristóval Balenciaga jovem. Crédito: WWD/KYLE ERICKSEN. Fonte: Vogue.

 

Não demorou muito para a sua vida entrar de vez no trilho do mundo da moda. Assim, Balenciaga abriu a sua primeira casa de costura, em São Sebastião, também no país basco, logo em 1915, aos 20 anos.

Como resultado do seu sucesso, poucos anos depois o estilista se transferiu para a capital espanhola, Madri.

 

O início da carreira: Cristóbal Balenciaga nos anos 30

 

Editora da Vogue Bettina Ballard diante da Maison Balenciaga. Crédito: Nat Farbman. Fonte: Flickr.

 

Nesse meio tempo, Cristóbal  Balenciaga já era considerado o melhor costureiro que havia na Espanha. Dessa forma, ainda na década de 30 o estilista decidiu se mudar para Paris. Afinal, a cidade francesa era então a capital da alta-costura no mundo.

Muito antes do “New Look” de Christian Dior causar furor, as suas criações começaram a atrair as damas da alta sociedade e as atrizes mais famosas do mundo. Assim, a sua maison, no número 10 da avenida George 5º em Paris, estava sempre cheia de mulheres elegantes e mundialmente conhecidas.

 

Cristóbal Balenciaga na Maison Balenciaga, em Paris. Crédito: Juan Gyenes. Fonte: Biblioteca Nacional de España/ Cristóbal Balenciaga Museoa.

 

O arquiteto da alta costura

 

‘Escultural’ é uma palavra que muitas vezes é usada quando se refere a Balenciaga, e por boas razões.

Balenciaga, nascido no País Basco e numa época em que os ricos contratavam costureiras, cresceu trabalhando ao lado de sua mãe, que era uma dessas costureiras, e formou-se alfaiate. Sua compreensão de roupas e a forma como todos os seus meandros funcionam – como os tecidos, as costuras, os pontos se juntam – transmite uma habilidade técnica mais frequentemente vista no plano mestre de um arquiteto.

Essa experiência como alfaiate permitiu que o espanhol não só desenhasse os próprios modelos, como  que também os cortasse, armasse e costurasse. Afinal, não eram muitos os estilistas que tinham essas habilidades.

De fato, a perfeição do corte das suas roupas era tanta que os especialistas consideravam a sua arte similar à arquitetura. Assim, com a fama, o estilista se consolidou num círculo privilegiado como o grande mestre da moda de luxo.

 

Parte da exposição no museu Museo Nacional Thyssen-Bornemisza, com o quadro ‘El Salvador’, de Greco, junto a três vestidos de Balenciaga. Crédito: Samuel Sánchez. Fonte: El País.

 

A princípio, Balenciaga usava quase que exclusivamente cores mais sóbrias. Todavia, com o tempo e a evolução do seu trabalho, o estilista foi cada vez mais explorando o mundo das cores.

Assim, no final de década de 30 ele passou a explorar outros modelos e estilos. Dentre eles, lançou cortes de manga diferenciados, que tinham um recorte quadrado e ombros caídos. Além disso, Balenciaga imergiu na cultura do seu país, buscando inspiração, por exemplo, em famosos quadros de pintura espanhola.

 

Os anos 40

 

Cristóbal Balenciaga lançou o seu primeiro vestidinho preto logo no princípio da década seguinte. A peça do estilista tinha um busto mais ajustado e o quadril bem marcado por drapeados.

 

Conjunto em alfaiataria de lã cinza mármore e gola de seda preta. 1947. Fonte: Cristóbal Balenciaga Museoa.

 

Entretanto, foi pouco depois, em 1942, que o estilista lançou o seu conjunto de jaquetas largas com saias evasês que marcaria época.  O estilo foi então denominado “linha tonneau”. Afinal, Balenciaga era contemporâneo de Coco Chanel, que a partir da década de 30 fez do tailleur um dos modelos mais usados pelas mulheres.

 

 

Croquis do Ateliêr de Balenciaga, Coleção Verão 1947, Pase Nª 2. Fonte: Patrons.

 

Além desse traje, os paletós-saco e as mangas-quimono foram outras de suas peças icônicas nessa década.

Uma vez mais o estilista se inspirou na Espanha para as suas coleções de 1947 e 1948. Dessa maneira, entre as roupas lançadas por Balenciaga estavam vestidos e boleros para a noite em estilo toureador.

 

Jaqueta curta em estilo toureiro com seda azul e decoração em preto. 1947. Fonte: Cristóbal Balenciaga Museoa.

 

Posteriormente, com o sucesso da marca, o  estilista também passou a lançar outros produtos. Dentre eles o perfume “Fruites des Heures”, criado em 1948.

 

Modelo com um vestido sem alças de Cristóbal Balenciaga em uma publicidade do seu perfume, de 1949. Crédito: Richard Avedon. Fonte: Patrons.
Elise Daniels com artistas de rua, terno de Balenciaga, Le Marais, Paris, 1948. Fotografia: Richard Avedon © Fundação Richard Avedon – Via Anniversary Magazine

Os anos 50

 

Casaco de Lisa Fonssagrives-Penn por Cristóbal Balenciaga, Paris, 1950. Fotografia: Irving Penn © Condé Nast, Fundação Irving Penn – Via Anniversary Magazine

No início da década de 1950, a “linha tonneau” continuava em alta. Além desse estilo, Balenciaga então criava o vestido-balão e outras peças vaporosas e retas.

 

Traje da linha tonneau de Balenciaga, em 1950. Fonte: Henry Clarke, Album du Figaro número 25, octubre 1950, página 48.

 

Nessa mesma época, ele passou a usar a lã tingida de amarelo-vivo e cor-de-rosa. Assim, a sua antiga sobriedade dava lugar a um armário cada vez mais vivo.

Ainda que a marca Balenciaga já fosse conhecida em todo o mundo, foi nos anos 50 que o estilista viveu o auge de sua fama e produção. Desde então, ele passou a brincar cada vez mais com a silhueta feminina, eliminando a cintura e dando ênfase aos ombros como bem lhe parecia.

 

Vestido de Cristóbal Balenciaga de 1951. Fonte: Museo Nacional Thyssen-Bornemisza.

 

Nessa meio tempo, Cristóbal criou o vestido-túnica e subiu a barra da frente dos vestidos e casacos, deixando-as mais compridas atrás. Além disso, ele também criou o primeiro vestido-saco.

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Em 1957, o estilista lançou o vestido-camisa e pouco depois a linha “Império”, trazendo vestidos com a cintura alta e mantôs em forma de quimonos.

 

Foto de dois modelos na inauguração do Museu de Cristóbal Balenciaga. Crédito: Irekia. Fonte: Wikimedia commons.
Dovima com Sacha, cloche e terno de Balenciaga, Café des Deux Magots, Paris, 1955. Fotografia de Richard Avedon © Fundação Richard Avedon

Os anos 60

 

Via Anniversary Magazine

“Não acrescente detalhes inúteis a um vestido. Não coloque uma flor simplesmente porque você tem vontade de fazê-lo, mas para indicar o centro da cintura, o ponto final de um desenho.” Cristóbal Balenciaga na Veja, 29 de março de 1972, ed. 186, p. 46.

 

Na década de 60, com uma carreira já consolidada, Cristóbal Balenciaga passou a criar casacos soltos e amplos com mangas-morcego. Além dessas peças, o estilista fez ainda mais fama com os seus modelos de vestido de noiva branco.

 

Cristóbal Balenciaga no trabalho, Paris, 1968. Fotografia Henri Cartier-Bresson © Henri Cartier-Bresson, Magnum Photos.

 

Vestido de noiva de Fabiola de Mora y Aragón, rainha da Bélgica. Fonte: Cristóbal Balenciaga Museoa.

 

Dos vestidos de noiva aos materiais inovadores

 

Nesse sentido, um dos seus modelos mais conhecidos foi o de Fabiola de Mora y Aragón, rainha da Bélgica. Sendo a bisneta da Marquesa da Casa Torres, a confecção do seu vestido de noiva foi um verdadeiro acontecimento na maison Balenciaga.

Além disso, nessa época o estilista apresentou uma completa inovação, as primeiras peças impermeáveis e transparentes em material plástico.

Contudo, apesar do sucesso, a última coleção de Cristóbal Balenciaga foi lançada na primavera de 1968, ano em que se aposentou e fechou a sua maison.

Entre as peças apresentadas estavam jaquetas largas, saias mais curtas, vestidos-tubo e muitas cores. Ou seja, um estilo a condizer com a época, então embebida na irreverência feminina.

 

Um vestido de noiva de Balenciaga junto as pinturas ‘Carlos IV’ e ‘María Luisa de Parma’ de Francisco de Goya. Crédito: Samuel Sánchez. Fonte: El País.

 

O fim da era Cristóbal Balenciaga

 

Ainda que  Cristóbal Balenciaga tenha sido o criador de peças inovadoras, ele foi tido como purista e classicista. Afinal, ele era um homem muito discreto e reservado, que não gostava de estar sob holofotes.

Apesar do sucesso, Balenciaga se aposentou em 1968. Faleceu poucos anos depois, no dia 24 de março de 1972, aos 77 anos. A sua morte veio não muito após a de sua amiga Coco Chanel, que havia falecido no ano anterior.

 

  • Em seguida, leia também a fascinante história de Coco Chanel: uma das estilistas mais famosas do mundo.

 

Vestido de noite e capa, ziberline, Cristóbal Balenciaga, Paris, 1967 © Victoria and Albert Museum, Londres. Chapéu espiral, seda, Balenciaga for Eisa, Espanha, 1962 © Victoria and Albert Museum, Londres.
Outras criações de Balenciaga dos anos 60 e 70

 

Balenciaga, marca que ainda impera no mercado de luxo

 

Segundo o estilista, a mulher deveria, acima de tudo, andar de maneira natural e segura, sem vacilar no seu passo.  Foi com essa ideia firme e inspirado pela elegância que a marca se consolidou no setor da alta-costura.

Desde então, as peças do estilista podem ser vistas em vários museus pelo mundo. Do mesmo modo, são também o tema de várias exposições, como, por exemplo, a que foi organizada no Museu Thyssen Bormenisza de Madri em 2019, chamada “Balenciaga y la pintura española”.

Por fim, com tamanho sucesso, não é por menos que o Museu Cristóbal Balenciaga foi criado em  2011. Em Guetaria, sua cidade natal, o museu se encontra em um prédio que abriga ao todo 1200 peças.

A marca foi assumida pelo francês Nicolas Ghesquière em 1997, tendo sido por fim comprada pela Gucci em 2001.

A casa como a conhecemos hoje não é um descendente direto do legado de Balenciaga; no entanto, quer seja chefiada por Nicolas Ghesquière , Alexander Wang ou Demna Gvasalia , ela manteve sua reputação de roupas que são inovadoras e elegantes ao mesmo tempo, deixando claro exatamente de onde vem esse DNA.

 

 

Foto do Museu Cristóbal Balenciaga, em Getaria, Espanha. Fonte: Cristóbal Balenciaga Museoa.

 

Balenciaga na atualidade

 

Em 2020, o mundo vivenciou a disseminação de uma pandemia. Práticas de isolamento, foram impostas à sociedade na tentativa de conter a doença. Desta forma, o planeta precisou se adaptar e o universo on-line virou a grande alternativa de convívio social.

Os eventos também tiveram que se adaptar, incluindo as semanas de Moda, passaram a contar com formatos digitais e desfiles virtuais.

A Balenciaga F21 inovou ao evocar um futuro positivo, em meio aos caos da pandemia, apresentando a coleção Outono / Inverno 2021 no formato de game, com roupas totalmente virtuais.

Destacando que o universo dos games que já andava aquecido, ganhou ainda mais força nesse período.No artigo  e-Sports, mostramos um pouco dessa bilionária indústria dos esportes on-line e games.

Por fim, a Balenciaga permanece fazendo história, mesmo em meio à crise provocada pelo Coronavírus.

 

*Artigo originalmente publicado em 2008, atualizado em 2021.

O estilista em 1952.

  Modelos de Balenciaga

     

Esboços publicados na “Folha da Manhã”, em 5 de outubro de 1952.

Fonte: Georgina O’hara.

Por Queila Ferraz

Editado e revisado por Mariana Boscariol.

Queila Ferraz: Queila Ferraz é historiadora de moda e arte, especialista em processos tecnológicos para confecção e consultora de implantação para modelos industriais para a área de vestuário. Trabalhou como coordenadora Geral do Curso de Design de Moda da UNIP, professora da Universidade Anhembi Morumbi e dos cursos de pós-graduação de Moda do Senac e da Belas Artes.
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